1º Concurso de Pintura - "Prestigiando seu bairro através da arte"

A outra sede e a outra fome do povo do Estado do Rio de Janeiro.

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

O mito: O povo não é chegado à arte.
Esta descarada e deslavada (suja, portanto) mentira contém, na inversão anagramática adaptada, uma verdade:

O fato: A arte não chega ao povo, porque quando chega...

O rito: Na inauguração do concurso supra, ao chegarmos (os membros do júri) para a função, no Espaço Arte Livre, e nos depararmos com o impressionante espetáculo de rios de gente (populares, pelo estereótipo), por instantes ficamos confusos. Eram rios que iam e rios que, contrariando as axiomáticas leis da física, também vinham pelo mesmo leito e rios ainda que temporariamente estacionavam e postando-se na perpendicular formavam pequenas platéias (oásis contemplativos).
Foto (sentido horário): Ana Cícera, presidente do ADE-Flamengo - idealizadora e organizadora do Concurso -, e comissão julgadora - Wanda, Alexandros, Maria Thereza, Mauro e Novis - no Espaço Arte Livre, ao final do processo seletivo.

O que era aquilo? Um clássico de futebol?! O desfile das escolas de samba?! Uma festa 'setembrina' popular? Tudo isso e nada disso! Mas então, o que justificava aquela multidão, aquele extraordinário afluxo de pessoas que, agitadas e animadas, falavam e gesticulavam, apontavam para todas as direções e encantadas declaravam suas preferências e suas paixões, seus amores?

Pois sim, leitor, o motivo de tanta atração e rebuliço, era algo sedutoramente simples e, diante do falso enunciado inicial, genuinamente verdadeiro: eram as mais de cem pinturas partícipes do concurso, dependuradas nas paredes do imenso e generoso corredor - (e aqui entra o único senão) generoso, no comprimento! mas não na largura que, sendo de suma exigüidade, não proporcionava a necessária distância focal para a plena apreciação e fruição das obras, que é o que na soma interessa.

Entretanto, considerando tratar-se do 1º concurso e, daí, piloto experimental, é o caso de compreender e relevar. É fazendo que se aprende, aprendendo que se realiza e realizando que se vai longe - aos tão sonhados e sempre tão (e cada vez mais!) distantes "ordem e progresso, (só se for) com justiça social" (e fica aqui a sugestão para que com urgentíssima urgência se borde, pinte e destaque o "com justiça social", destacado como aqui está, na bandeira federal, completando assim o trinômio fundamental - conditio sine qua non para a felicidade popular -, para que nunca se perca de vista o único modo de se alcançar a ordem e o progresso). De mais a mais, para que contrato social e governo, senão para realizar as plenas e justas aspirações do povo?!

Mas... voltando ao desconforto inicial, causado pela ... feliz superpopulação do evento e infeliz ausência de perspectiva lateral do espaço, que, graças ao contagiante otimismo de Ana Cícera, diretora da ADE, foi logo superado e a tarefa cumprida a contento, o que confirma a sensação pessoana de que tudo vale a pena quando a alma não é pequena. De atenuante e alentador, convém lembrar que não foi diferente na Paris do século 19, quando ganhou corpo a democratização da arte, antes reservada a papas, reis, nobres e alto clero, e a merecida valorização do artista (aproveito para homenagear Gustave Courbet cuja tela "O Artista e seu atelier" tornou-se seminal nesse sentido) - fotos dos famosos salões da época mostram paredes totalmente apinhadas de quadros justapostos, do teto ao rodapé!

Que os 200 anos que nos separam da instrutiva imagem parisiense, porém, sirvam de alerta - a arte, como de resto toda experiência humana, necessita de espaço e condições apropriadas para respirar, brotar, crescer, amadurecer e frutificar, multiplicando-se e ocupando os espaços do agora perversamente "tá tudo dominado", quando deveria era estar tudo dominado pela arte.

E aqui, pausa para o irresistível apelo: Que a Governadora, responsável última pelo estado do Estado, dirija a vista para o fato, observe atentamente, se sensibilize com a crônica carência de certames artísticos e espaços expositivos e dote a criativa Ana Cícera com os necessários recursos a fim de que esse admirável concurso não se restrinja ao número um (que por si só sinaliza compromisso de continuidade)! Pelo contrário - que ele seja aperfeiçoado e se amplie e espalhe por outros bairros e contagie outros municípios do Estado, desafiando-os a emulá-lo. Que ela considere isso como obra social de penetrante eficiência e resultados. O que ali presenciamos - essa outra sede e essa outra fome do povo (nem digo do povão, que este, coitado, não tem voz nem vez, só um longínquo e incerto 'quem sabe, um dia, talvez, nunca!') por arte -, constitui seguro indicador do sentido e da direção que devem orientar as políticas públicas. Insisto, é simples assim - basta tratar a arte com arte e não haverá arrependimento. O que haverá, finalmente e com toda razão, será a liberação do grito, não de guerra, mas esse outro, o da paz, preso na garganta e no ar: "Tá tudo muito bem dominado, sim, com a arte por toda parte!"

E agora, embora com menos palavras, o mais importante, sem o que nada disso faria sentido! Antes de os cidadãos comuns maciçamente comparecerem à inauguração, assim prestigiando, interagindo e inequivocamente chamando a atenção para o que falta lhes faz, um outro grupo de cidadãos, os artistas, já se havia antecipado e feito presente, pondo as mãos à obra, ativando a sensibilidade, atendendo o lema e o tema, pintando e expressando sua visão dos bairros e participando desse concurso que, reitero, esperamos seja o primeiro de uma ininterrupta série. São esses cidadãos-artistas os destinatários de toda nossa admiração e de todos os elogios e aplausos. E é dever do Estado inteligente estimular e incentivar esses formadores de opinião e cidadania, contemplando-os não apenas com belas palavras, mas com premiações efetivas, em espécie e com aquisições de obras, criação de escolas de arte e concessão de bolsas de estudo e aperfeiçoamento, aqui e no exterior (não esquecendo nunca de mais e mais generosos espaços!).

E last but not least, muito antes pelo contrário, falta, reconhecendo o mérito do gesto, agradecer, ainda que de forma mínima, mas não menos valiosa, aos abnegados membros do júri oficial (já que com acerto e justiça houve também júri popular), que atenderam nosso chamado e realizaram admiravelmente a proposição, citando-os nominalmente e pela ordem abecedária: Aloysio Novis - artista, Flávio Pinto - professor de arte, Maria Thereza Pontes - consultora de arte, Mauro Matatias - relações públicas, Sylvio Cordeiro - artista, Vanda Viola - professora de arte, e finalmente este incorrigível escriba do RioArteCultura.com que assina o presente texto.

Rio de Janeiro - setembro - 2005

©Alexandros Papadopoulos Evremidis* = escritor crítico do RioArteCultura.Com = amante (amado) da Arte.


Dois meses depois ...

A premiação: A distribuição de variados prêmios, de par com a entrega dos diplomas e das medalhas de ouro, prata e bronze e menções, foi realizada, no dia 24/11, em festa simbólica, no Clube Sírio-Libanês, com a presença de artistas e autoridades.


Em singelo discurso, a incansável presidente do ADE Flamengo, Ana Cícera Machado, idealizadora e organizadora do evento, feliz com o feliz cumprimento da missão proposta e assumida, expressou a firme determinação de dar continuidade ao salão.
Foto - Composição da mesa na festa da premiação (sentido horário): Sylvio, Maria Thereza e Alexandros (todos do júri) cumprimentando Rodrigo Bethlem, subsecretário de governo da capital, e Ana Cícera, presidente da ADE.

Já o jovem e dinâmico subsecretário de governo da capital, Rodrigo Bethlem, que não poupou (merecidos) elogios à Ana Cícera, acenou com o provimento dos necessários meios e recursos e de apoio logístico para o aperfeiçoamento do mesmo, o que revela sua visão de longo alcance e inequivocamente sinaliza para o perfeito entendimento dos concretos objetivos a serem perseguidos.

Quem com isso se beneficia são os artistas e os amantes da arte (e quem não é?!) - o povo, destinarário final da bela inicativa, que assim terá fórum próprio e apropriado e permanente para a mais democrática possível realização de suas autênticas expressões e aspirações. Sim porque, que graça tem uma vida sem arte? Se há algo que confere sentido à ela e distingue so humanos dos demais seres vivos, esse algo chama-se Beleza, estética! O resto é forçosa redução dos indivíduos a níveis puramente vegetativos e meramente instintivos.
Foto: "Castelinho do Flamengo", de L.Vasconcellos - Melhor Obra do Salão - Placa de Ouro.

Confiemos pois no cumprimento das palavras do binômio Bethlem-Ana Cícera e aguardemos, atentos e vigilantes!, - que venham o 2º Salão, o 3º Salão ... n Salões! E que o Espaço Arte Livre (designação mais feliz e significativa não poderia haver) se convirta em pólo de irradiação (e contaminação) artística.

O RioArteCultura.Com, que modestamente contribuiu com o convocação dos membros da comissão julgadora, se congratula e põe à plena disposição.
Foto - Cantando o Hino Nacional (sentido horário): Sylvio, Alexandros, Maria Thereza, Rodrigo Bethlem, Ana Cícera, Alice de Oliveria, Ric Rottenberg e Bedoti.

Rio de Janeiro - novembro - 2005

©Alexandros Papadopoulos Evremidis* = escritor crítico do RioArteCultura.Com = amante (amado) da Arte.


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