"PINTURAS", de Aloysio Novis.
O feliz salto no escuro.

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

Não é difícil gostar dos trabalhos de Aloysio Novis - um bem-sucedido engenheiro/arquiteto que, subitamente, possuído por uma compulsão, abandonou o conforto da árida exatidão para mergulhar nas tenebrosas incertezas e angústias da arte; qual Prometeu, resgatou e nos ofertou a luz que o fogo emite para aquietar e aquecer nossas almas e clarear e ampliar o espaço que nos cerca. Entendimento e inteligência criativa. Tudo sob a camada protetora da cor. Sim, é essa a sensação que se nos apodera ao contemplarmos seus grafismos caligráficos.

Novis tem um modo muito proprietário de encarar o mundo - a natureza formal e tudo o que nela suspira e viceja. É como se o artista, situando-se numa perspectiva distante, eventualmente aérea, assim conseguisse abarcar todos os seus elementos essenciais - florestas, vales, montanhas, rios, mares -, e as humanas aglomerações arquitetônicas - metrópoles, cidades, vilarejos carregados de medos e gemidos, delírios e celebrações. É o mapa do mundo, ora exterior e objetivo e ora interior e íntimo, nossa perplexa e labiríntica mente. Novis não reproduz nem representa; ele transfigura e interpreta os signos; traz o que interessa ao primeiro plano de nossa sensível visão, permitindo-lhe por um e outro transitar com plena liberdade de movimentos e prazer conseqüente da festa visual, das emoções e, por vezes, das paixões avassaladoras e dos terrores do desconhecido!

Embora com afinidades universais na linguagem e no meio, Novis personalizou e adaptou seu cromatismo aos ditames da memória afetiva - luz abundante, mas sem ser ofuscante, um branco-gelo cai bem, e cores exuberantes, tropicalmente brilhantes. O verde e o amarelo, acoplados ou trepados um no outro, não desmentem sua irremediavelmente ctônica origem, sinal que, qual banner, ele exibe com orgulho. Mas também faz jus aos vermelhos, aos azúis, ao céu e à terra, ao negro e ao branco. Liberto da escravidão formal, seu gestual é livre, ora zen, ora frenético, ao sabor e á dinâmica do sentir e do fazer artístico. Só falta nos dizer que, repentinamente, extrapola os limites do seu suporte e sai pintando as paredes, o assoalho, o corredor, a rua, as pessoas; ou, que não mais varre a tela com o pincel, mas com este atira o material sobre a superfície daquela; ou, ainda, que, com as sintomáticas tachinhas, fixa-a ao chão, sobre ela se inclina e num sensualíssimo corpo-a-corpo a inunda de tinta, para logo elevar suas laterais a fim de que, fecundada, escorra, encontre seu curso e seu fluxo e gere os tais rios e seus tributários, a muralha da China ou das dramáticas divisões sociais, as demarcações dos territórios indígenas, as pontes que franqueiam a passagem à emoção.

Que não se pense abandonar-se Novis ao feliz acidente ou ao venturoso acaso. Não, para isso, ele respira pintura o dia inteiro e, mesmo quando dorme e sonha, se perde para nela se achar, sonambula se for o caso - daí certamente essa atmosfera lírica e onírica, que nos eleva e enche de esperança. Atento e amoroso com a criação, ele chama a si a responsabilidade e mantém a escolha das cores no que tange seus atributos e propriedades, que, há séculos, Chevreul elaborou, e o impacto emocional, tri-dimensional, que Herbin admiravelmente ilustrou com seu "Shelter", em 1958. Desejava Sonia Delaunay pintar como quem toca música. Bem, Novis compõe, toca, pinta e borda sem parar, o que resulta numa sinfonia pictórica inacabada, um totum continuum, razão porque tem trânsito livre e licença para nos enredar com sua linha rítmica em sua teia melódica, que é o que é a sua pintura.

Fotos: divulgação

Rio de Janeiro 2003.

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