"Descríticas", livro de Almir Feijó / Criar Edições

A Bíblia pagã da magia cinemática

©Alexandros Papadopoulos Evremidis

Almir Feijó = O Mundo Feijão, parece ser esse o significado do binômio. Mas não qualquer feijão - aqui é aquele que, segundo o Lobo, cresceu tanto que foi parar na Lua, dos namorados, dos sonhadores, dos lunáticos, dos heróis, das virgens, dos monstros. É disso que esse jeune homme, Al Mir, é feito, de magia, a mesma de que é feito o cinema.

Está vendo esses autos no drive-in? Venha, querida Gilda, vamos entrar, nos acomodar (fique bem à vontade, tá?) e assistir a esse metacinemático filme dos filmes, não, sobre os filmes, chamado "Descríticas". Esta será uma noite de sublimes cumplicidades e conspirações, de lisérgicos delírios.

"Descríticas", diz Almir e, foneticamente ludibriados pela urgência, 24 por 1, cremos tratar-se de dez críticas. Nada. São múltiplas da década e mais alguma coisa - 316, cujos algarismos somados resultam em 10, não disse? Nota dez, portanto, e cum laude e com acento e mais o assento permanente na Assembléia Geral da ..., que ONU o quê, isso é para os Brásis; eu estou me referindo à Assembléia Geral da Cinematografia - arte que a todas as outras, e com vantagem, sem briga abriga em seu uterus - não é essa a configuração do escurinho/barriga?

Deixemos as numerologias pitagórico-cabalísticas e, falando desse cinéfilo, não, cinemaníaco cinêmano, digamos tratar-se, isso sim, de um obsessivo que, não fosse dotado (não de nascença, o dote ele ganhou no casamento com a cinematô) de espírito afirmativo e bem-humorado, seria assassino contumaz e seriado - um autêntico serial killa (sic), que, com todo pathos e o dobro de pothos, sob a égide de Eros, enfrenta e transcende o Thánatos.

É perigoso esse rapaz. Não vê? Sentei aqui diante do ordinateur, para fazer uma análise séria e responsável, a crítica da crítica, mas cadê, se ele já esgotou e esvaziou o assunto? Moral: não consigo pôr ordem alguma em meus pensamentos. Sou levado a associações indébitas. E de imediato, a idéia que me ocorre é a de um iconoclasta (enfaticamente) radical, anacrônico e, a um tempo, absolutamente contemporâneo, que amorosamente nos arranha o cérebro a gilete, operando ora a Destruktion e ora a Abbau, desconstruir, desestruturar, desarrumar, desarranjar, desarraigar, desmistificar, des...des...des... - estou lhe dizendo, amigo, esse cara possui o poder e a força da corrupção e do contágio, da subliminar contaminação. Ele nos arrasta, nos põe na roda e nos convida a com ele dançar ao som dos uivos dos lunáticos lobos.

Livre e descomprometido, Almir detém a prerrogativa de não ser um crítico profissional e portanto não ser sustentado por produtoras, distribuidoras, donos de cadeias; al revés, ele é um gratuito amante da sétima, oitava, nona, décima arte e é dentro desses parâmetros que se circunscreve e é a partir daí que nos assalta e nos despe e desnuda dos partipris, dos preconceitos, dos medos e da vergonha de dizer o que pensamos e, mais, o que sentimos. Sutilemente, deixa a emoção falar alto, fluir, invadir, inundar, escorrer pelos grandes e pelos pequenos orifícios, pelos poros e pelos pêlos e pelos cotovelos.

Resultado: se o outro roubou o fogo olímpico, este se apropriou da própria liberdade e a consubstanciou nessa espécie de um Bíblion dos muitos Bíblia, profano e, daí, mais, muito mais, humano! Um verdadeiro Vademecum, inclusive para quem nunca viu nenhum dos filmes do Almir - por meio dele, eles agora terão um replay e uma segunda chance de recuperação dos tempos perdidos e só assim recuperados. Tempos plenos de crimes e de castigos, de pecados colaterais e de remições e de indulgências - tudo com todo o ludus que faz a gente desejar o desejo e sair por aí brincando, rodopiando na chuva de Shiva sem guarda-chuva nem Cherbourg - único modo de lidar com a estúpida realidade: com irreverência, com a capetice de um Lock, o menino travesso, o enfant terrible que ele é e nos convida a também sermos. Sem mais mitos, sem mais deuses, sem mais dogmas, sem mais ícones, morte aos paradigmas. Kathársis no Ganges. Sim, porque, depois que os críticos tudo já disseram e escreveram, estamos nós sós diante da arte e da vida, envoltos pela benfazeja escuridão uterina. E aí, colega, só o que conta, e nos resta, é a emoção. Sem temores, terrores noturnos, nem pensar!

Nada disso que escrevo é por acaso: de pequeno, eu roubava os poucos ovos do galinheiro da numerosamente pobre família, escondido os vendia, da escola fugia e adivinha para onde ia? para o escurinho da cinematografia. Ali, também eu! era livre, dono do meu nariz, da minha saliência e do meu destino, um admirador dos homens e um amante de todas aquelas mulheres de peitos arfantes e olhares brilhantes de paixão. Ai ai ai, quantas vezes não tive que sair correndo para o banheiro declarar e materializar meu amor! Sim, aquelas mulheres eram todas também minhas e eu as levava para casa, para a mesa, para o altar, para a cama, onde lhes jurava, a cada uma delas, fidelidade e amor eternos. Como não podia deixar de ser, os meus romances não terminavam ali, pois depois, já dormindo, embora sozinho, eu não estava nem me sentia só, eu povoava e coloria meus sonhos com elas.

Almir, que nunca vi mais gordo nem magro, (ah, parem com isso! vocês dois desengonçados), é um irmão de fé, camarada dessa jornada cujo sentido é ... uma charada (chamem o Édipo). Grato, meu caro cara, por me fazer renascer e reviver tudo aquilo de novo e de novo e de novo... 316 vezes 10! Um coroa de ouro com uma coroa de louro!

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Rio de Janeiro - Setembro - 2004

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