| Wilton Montenegro | Notas do Observatório |
A cumplicidade entre artista-artista e fotógrafo-artista

Wilton Montenegro, um dos mais importantes fotógrafos de artes plásticas do país, não pretende apresentar simplesmente a documentação fotográfica de obras de arte, mas demonstrar, a partir do trabalho realizado ao longo de 23 anos, como elas se expressam por meio da fotografia.

Montenegro fez sua primeira fotografia em 1966, mas foi em 1983, através do artista Raymundo Colares (1944-1986), que ele teve seu nome associado à arte contemporânea. Collares o apresentou a Cildo Meireles, que o apresentou a Tunga, que o apresentou a Waltercio Caldas, e dessa forma Wilton Montenegro foi um observador privilegiado da produção da arte contemporânea recente... Desde então, fotografou quase que a totalidade dos trabalhos de arte desses que estão hoje dentre os mais reconhecidos internacionalmente.

A exposição abrangerá desde registros de obras de arte feitos por Wilton Montenegro para publicações (catálogos, livros, folders etc.), flagrantes dos artistas, ateliês, até parcerias feitas com artistas que usaram a fotografia como suporte de seu trabalho. A exposição seguirá uma ordem cronológica, mas sem um rigor quanto a isso. Dessa forma, o público poderá ver, através do olhar de Wilton Montenegro, a produção de arte contemporânea desde seus mais consagrados artistas até os mais jovens.

TRANSCRIAÇÃO
A transposição de objetos tridimensionais, como esculturas e instalações de Cildo Meireles, Waltercio Caldas e Tunga para a linguagem bidimensional da fotografia, provocou uma busca de adequação similar às traduções de poesia: em alguns casos transcrição, em outros, para usar um termo cunhado por Haroldo de Campos, “transcriação”. Tal processo de só foi possível porque exigiu uma cumplicidade com os artistas, devido à necessidade de perpetuar o efêmero de algumas obras. Notadamente as performances de Tunga, como se pode ver pela foto das gêmeas “Xifópagas capilares entre nós”, exposta na XXIV Bienal de São Paulo, registrada como obra de Tunga e foto de Wilton Montenegro. Ou ainda, a gravura de Cildo Meireles intitulada “Desvio para o vermelho”, onde ele funde duas fotos, de partes diferentes da instalação de mesmo nome, para criar em uma única imagem a representação dessa obra. Waltércio Caldas compôs poema fotográfico para um número especial da revista “Guia de artes plásticas”, além do livro-foto-objeto “A Suíte”.

Quando Sérgio Camargo morreu, Waltércio e Wilton foram juntos ao seu ateliê para congelar o instante – isto é, como o artista compunha seu espaço – antes que alguém o modificasse. O resultado foi o livro “Camargo, Esculturas”, também conhecido como “O Atelier”.

O acompanhamento fotográfico do desenvolvimento do trabalho destes artistas durante esse longo período de tempo tornou seu nome conhecido no meio de arte e seu trabalho bastante solicitado por diversos artistas, como Franz Weissmann, Eduardo Sued, Antonio Manuel, Carlos Vergara, Ascânio MMM, Ricardo Basbaum, Jac Leirner, José Damasceno (que acabou de expor na Espanha duas obras-fotos, com Wilton), Rodrigo Cabelo, Ronald Duarte etc., até artistas mais jovens, permitindo uma visão interna do processo de transformação pelo qual vem passando a arte contemporânea brasileira.

Uma das formas de manifestação desse processo (ainda) hoje é através da utilização da fotografia como suporte para criação e permanência de obras que não poderiam existir de outro modo. Neste caso estão as performances. Há inúmeras de Tunga – muitas ainda inéditas – que só foram vistas pelo público através da fotografia de Wilton. Foram performances fechadas, só com o artista, o fotógrafo e o(s) performer(s), de modo que, do trabalho, só pudesse existir a fotografia.

O limite da criação se dá, de certa forma, na superfície do filme, ou do papel fotográfico, como se o véu de prata que o emulsiona separasse o artista plástico do fotógrafo, o criador do transcriador: o que é externo ao véu é arte, o que é interno é foto. No entanto, a fronteira é tão intangível, que ambos tornam-se transgressores de seus próprios limites.  

Rio de Janeiro - abril - 2006


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