"Pompéia Fluminense", de Vladimir Machado.


Um sensualista a serviço das deusas.

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

Há, e sempre houve, artistas-filósofos, artistas-sociólogos, artistas-místicos, artistas-estetas. É nesta última categoria que inscreveremos a arte de Vladimir Machado. Não que os componentes das outras também não sejam estetas; o que ocorre é que Vladimir parece estar fazendo da inata vocação uma profunda devoção - exaltar ao paroxismo a celebração do belo, do espírito afirmativo e prazeroso, da epicúrea hedoné - matriz e motor propulsor de toda criatividade humana.

Voltemos ao tempo: No dia 24 de agosto do ano de 79 da era anterior, quando Vladimir era apenas uma remota possibilidade, o vulcão Vesúvio, entrando em erupção, explodiu e cuspiu ao redor chamas, cinza, pedras, lava, fumaça, cobrindo a até então feliz e despreocupada cidade de Pompéia, condenando-a à destruição e à morte e petrificando seus habitantes, apanhados de surpresa em meio a atividades as mais cotidianas - comendo, dormindo, se banhando ou fazendo amor. O tempo se encarregou de apagar o sítio dos mapas e da memória dos homens.

Em 1709, com Vladimir mais próximo, já na era atual, um general austríaco à busca de pedras de construção, descobriu Herculano - cidade vizinha do mesmo triste destino - e a partir de 1749, as escavações trouxeram à luz a Pompéia, com suas belas estátuas, suas pinturas murais de mulheres graciosas e nuas, seus orgiásticos mistérios dionisíacos, seus mosaicos, seus muros rica e criativamente grafitados com poesia, pornografia e palvrões e os corpos de seus luxuriosos habitantes quase intactos de tão bem "embalsamados" pelo material vulcânico.

Deparou-se então o mundo com uma arte de refinada habilidade técnica e transbordante alegria animal, o incondicional amor pela vida - Fídias e Praxíteles não hesitariam em, por razões diferentes, assumir a paterno-maternidade e assinar as obras.

Outro que assinaria, e por extenso, e com todo e inequívoco prazer e a devida autoridade pictórica, é o Vladimir Machado - sim, já estamos na contemporaneidade e o artista é real, de carne e ossos e profusa libido. Servindo-se, ao invés de pás e picaretas, de pincéis, de espátulas e de cores apropriadas ao infeliz histórico e ao clima do trágico evento, como que retomando as escavações em sentido inverso, à medida que pinta, cobre a tela de tinta, descobre e recria e nos revela nuances, detalhes, sutilezas e minúcias que escapam à arqueologia e à história, já que isso de tornar visível o invisível é atributo proprietário e exclusivo da arte.

E ele faz mais - resgata os inertes corpos ao Hades, sopra e confere-lhes vida e os transpõe - grande e significativo achado tópico! - ao Rio de Janeiro para que eles possam celebrar a vida e reviver sua saudável animalidade. Afinal, esta cidade e seu entourage têm as mesmas configurações da Pompéia, representadas nas pinturas de Vladimir, - o sol, o calor, as femininamente sinuosas colinas e as areias escaldantes que não petrificam nem carbonizam, apenas douram a tez e exacerbam o tesão, os apelos sensoriais e daí sensuais.

A iconografia de Vladimir é povoada por ninfas e ninfetas olímpicas, por faunos e sátiros em riste, pela padroeira pompeana Vênus e suas correspondentes gregas - a Afrodite Calipígia - a da bela bunda -, a Afrodite Pândemos - a mais generosa e democrática, a que dá a todo o povo o que todo o povo mais precisa e gosta - sexo e amor em doses e qualidades e quantidades homéricas! -, e mais a Afrodite Urânia, contraponto espiritual desta última. A cidade curva se curva diante do poderoso demiurgo e Di Cavalcanti sorri feliz ao ver sua Afrodite Mulata rediviva.

Rio de Janeiro Outubro 2004.

Alexandros Papadopoulos Evremidis = > escritor crítico > Email


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