| Vicente de Mello - Strobo |


Strobo apresenta oito obras inéditas que fazem parte da série de imagens digitais Quantas Asas tem um Pixel? Neste segmento da série, o artista lança, por meio de interferências digitais, novas camadas de significação sobre imagens prosaicas.
É uma constante na produção de Vicente de Mello a indagação sobre as semelhanças e distinções entre a percepção suscitada pela fotografia digital e aquela gerada pela fotografia analógica. Para o fotógrafo, a fotografia digital é a prova concreta de uma liberdade há muito desejada desde o advento da fotografia, em 1889; seu imediatismo na visualização, mesmo com o criticado delay de sua captação, abriu uma nova possibilidade de diálogo com o tempo presente. Adepto usual da fotografia em película, Vicente de Mello tem investigado as possibilidades poéticas da fotografia digital tanto em seu aspecto formal quanto discursivo. Strobo pode ser considerada, portanto, uma depuração dessa pesquisa.
As fotografias, que sugerem livremente erupções vulcânicas, cometas, explosões astronômicas e bélicas, mísseis, rastros de torpedos, podem ser interpretadas à maneira dos ensurdecedores disparos de canhões da Abertura 1812, Op. 49, de Tchaikovsky. Composta em 1880, a obra celebrava a vitória russa sobre Napoleão. A violência sonora celebra, ali, ao mesmo tempo um triunfo e um aniquilamento.
O nome da série é uma alusão ao efeito lisérgico e hipnotizante das luzes feitas para dançar. Por outro lado, o contraponto criado pela sugestão de cataclismos ou bombardeios assinala um questionamento sobre o binômio pulsão da vida x tragédia das guerras, inscrito em uma trajetória luminosa no espaço. A partir de referências reais – registros de simples queimas de fogos de artifício–, as interferências do artista geram imagens capazes de sugerir tanto fenômenos espaciais conhecidos quanto registros de guerras, imagens capazes de emular tanto momentos de destruição quanto de criação.
Paralelamente às proposições abertas pela interpretação dos eventos fotografados, a série aprofunda seu significado por uma questão formal: Vicente de Mello tece uma analogia visual entre a fotografia e a hipermetropia – os pontos de cor parecem aleatórios quando vistos de perto mas, compactados pelo olhar a média distância, formam imagens mais ou menos distintas. Devido ao tratamento dado pelo artista, as imagens têm, quando vistas atentamente, aspecto similar ao de outdoors ou cartazes do tipo lambe-lambe. As retículas da impressão offset em grandes formatos transpõem a investigação poética para o universo da comunicação visual urbana e conferem a eventos remotos uma presença quase trivial.
Como em produções anteriores do fotógrafo, as imagens da exposição confundem sem obviedade o limite entre o real e aquilo que pode ter sido adulterado digitalmente. O estranhamento causado por essas fotografias corresponde a uma espécie de duelo ontológico entre o referencial e a imagem resultante – esta é gerada necessariamente por aquele, mas o produto artístico ultrapassa qualquer correspondência.
Imagens de Strobo participam também, entre os dias 22 de setembro e 22 de outubro, da primeira edição da Street Biennale, idealizada pelo curador francês Jeremy Planchon. Em meio à Bienal de São Paulo, o projeto transformará as fachadas de edifícios do centro da cidade em espaço para que sete artistas exponham criações inéditas. O MAC Niterói recebe sua individual Orquestra de trombones a partir de 09 de outubro.
VICENTE DE MELLO (São Paulo, 1967 | Vive e trabalha no Rio de Janeiro) fotografa arte para museus, artistas e editoras há 20 anos e tem sua pesquisa fotográfica apresentada desde 1992, com a criação de séries como Topografia Imaginária, Moiré, Noite Americana, Bestiário, Vermelhos Telúricos e as recentes Galácticas, O cinematógrafo e Quantas asas tem um pixel? Em 2007 foi ganhador do APCA de melhor exposição de fotografia do ano na Pinacoteca do Estado. Em 2010 realizou o Projeto Parede do MAM-SP com Pli Selon Pli. Expôs e pertence aos acervos de instituições como Pinacoteca do Estado de São Paulo, MAM-SP; Coleção Gilberto Chateaubriand/MAM-RJ; MASP – Coleção Pirelli; Maison Européenne de la Photographie, Paris; Fundation Cartier pour la Art Contemporaine, Paris; MAM Aluísio Magalhães, Recife; MAM, Brasília e Coleção Joaquim Paiva, Rio de Janeiro.

Rio de Janeiro 2010


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©Alexandros Papadopoulos Evremidis = escritor crítico > Email
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