| Vania Mignone |
A obra de Vânia Mignone insere-se dentro de uma cena muito cara à história da arte contemporânea: a autonomia do desenho – deixando de ser garatuja, projeto ou algo “menor” – e o quanto ele invade, reposiciona-se e é incorporado a um estado muito particular, e como, portanto, esse repertório o posiciona com uma velocidade e um arrojo que são particularmente difíceis de ser conciliados. Suas obras possuem a velocidade de uma história sequencial, de um cartaz ou dos outdoors. São traços velozes, sujos na medida certa, e cuja literalidade está em constante escape. Não compreendemos aquela imagem necessariamente e, mais ainda, nem sempre imagem e texto se adéquam. É o dado do estranhamento que rapidamente desconecta as obras do que poderíamos chamar de “uma atmosfera pop e urbana”. São figuras às vezes solitárias; em outros momentos, comportamo-nos como voyeurs invadindo um ambiente doméstico sem ser convidados, e, em outros casos, com essa mesma atmosfera, os personagens não dão a mínima para essa invasão. É impressionante como em poucas linhas e em um espaço relativamente pequeno, a obra nos prende com tanta atenção. Seja nos olhos dos personagens ou na (vã) tentativa de se compreender aquela paisagem. Sua obra nos empurra para uma zona difícil de ser localizada. Arrisco-me a dizer que ela pretensamente se situa entre o silêncio e o (largo) intervalo entre a espera e o esquecimento. Um território preenchido pelo indício de que algo acabou de acontecer por ali, ou que há muito é preenchido apenas por memórias. São situações imprecisas pois são imagens de todo e nenhum lugar ao mesmo tempo.
Ao contrário de um certo “repertório contemporâneo da pintura”, Mignone não escolhe a espetacularização ou uma aparição da imagem com uma contundência enorme e plena, mas nos torna visível um trabalho que nada contra o modo como as coisas estão caminhando. Afirmo esse ponto porque muitas vezes estamos diante de ações banais (uma menina ouvindo música com seus headphones, um pássaro no lago ou um homem observando o horizonte), mas que de forma alguma banalizam a imagem. Essa argumentação possibilita a razão pela escolha do título deste ensaio, isto é, o quanto a imagem construída pela artista transcende o suporte da bidimensionalidade e evoca uma imagem em trânsito ou uma obra que pode ser articulada com outras instâncias produtoras de imagem, mais destacadamente, o cinema.
Suas obras podem corresponder aos frames de um filme, mas, ao mesmo tempo, perceberíamos que eles só poderiam pertencer a certa qualidade cinematográfica, como, por exemplo, à de um filme de David Lynch, no qual a quebra de uma narrativa formal e a experiência de tempo são reelaboradas a todo instante. Há essa negociação na obra de Mignone: em um primeiro momento, as referências podem surgir facilmente, mas não permanecem necessariamente por um longo período, porque logo se confundem. As obras nos questionam sobre que lugar ou paisagem está diante de nós. Há uma espécie de mistério a ser decifrado. [Felipe Scovino, março de 2012]
Esta é a oitava individual de Vânia Mignone realizada na Casa Triângulo. Serão apresentadas 16 pinturas em acrílica e colagem sobre mdf, um políptico de 12 partes e um político de 5 partes em acrílica e colagem sobre papel.
Vânia Mignone [Campinas, 1967. Vive e trabalha em Campinas] participou recentemente das mostras selecionadas 2010 Paralela 2010, curadoria de Paulo Reis, Liceu de Artes e Ofícios, São Paulo, Brasil; Se a pintura morreu o MAM é um céu!, curadoria de Luis Camillo Osório, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, Brasil; 20 anos do Programa de Exposições, Centro Cultural São Paulo, Brasil 2009 Nova Arte Nova, curadoria de Paulo Venâncio Filho, Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo, Brasil 2008 Moving Horizons, The UBS Art Collection – 1960 to the Present Day, National Art Museum of China, Beijing, China; Nova Arte Nova, curadoria de Paulo Venâncio Filho, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, Brasil; MAM 60, curadoria de Annateresa Fabris e Luis Camillo Osório, OCA, São Paulo, Brasil; Contraditório - Panorama da Arte Brasileira, curadoria de Moacir dos Anjos, Alcalá 31, Madrid, Spain.

Rio de Janeiro 2012


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