| Rubens Ianelli - Cidades Perdidas – Pinturas e objetos |

"Amorosa arqueologia"

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

Nas quatro paredes, quadros/ícones de configuração cromática terrosa das vastas e extensas cidades perdidas. No centro, o essencial - um altar.

Sobre este, a construção - relicários contendo fiapos de madeiro esburacados e carcomidos por fungos diversos, vorazes cupins, intempéries meteorológicas.

Sobre estes, mais cidades, só que, respeitando a verdade do material, verticalizadas, minúsculas e alegremente polícromas, obtidas como se por delicadas e mínimas intervenções de cirurgia plástica. Favos, favelas, humanas habitações, tectônicas improvisações.

Afinal, já vivemos ao relento, sobre árvores, em cavernas, tendas, barracos, casas, e moramos em nossos corpos que, como médico, ele bem conhece e socorre, linda as dores, as físicas, e desde que artista também as psíquicas, confrontando-nos com nossas reminiscências afetivas, com a contemplativa beleza - (arte cura, diz o título do nosso jornal). Daí a opção pela discreta contenção da paleta de mínimos arroubos. Tudo comm' il faut.

Pelo descritivo, vê-se que estamos diante, melhor e mais apropriado, no interior da nave de uma catedral, com tudo de hierático que isso envolve e simboliza. Com o diferencial de que Ianelli não é padre, pastor ou coisa que o valha, é criador de superlativa, apaziguadora e comovente aesthesis. O que não me era novidade. Não por acaso estou, neste momento, com o olhar ora no monitor, ora nas tais cidades e ora no "Cavaleiro Andante II", de 1998, obra-prima de pureza e singeleza, empatia e compaixão - sublime.

Após o emocionante périplo, não me contive e, afogueado, a ele me dirigindo, exclamei: Que cidades perdidas o quê, Ianelli! Chame-as de cidades achadas, um verdadeiro achado, é isso que elas são. E estão todas aqui, lindas e maravilhosas e encantadoras! E ainda dotadas de joalherias - apontei para os relicários do altar. Sim, cada peça dessas é uma jóia de rara beleza e inestimável valor.

Ianelli, tímido como um menino e modesto como convém a todo artista autêntico, enrubesceu. Nisso, alguém o chamou/tirou do sufoco e eu continuei a extravasar meu entusiasmo para a consultora T. Pontes, minha paciente acompanhante: Ele foi lá no longe do tempo buscar e resgatar essas cidades. E também foi fundo no espaço, na matéria, nas sucessivas camadas geológicas da terra. Não já foram descobertas 16 Tróias (sendo a do amoroso par, Paris e Helena, a nona)?

Sim, ele cavou na sua mais íntima intimidade, achou, limpou, cuidou, recuperou e agora está nos revelando essas cidades com tudo que são e têm de necessário - a harmonia e o balanço, a simetria e a proporção, os planos e as elevações, as vias, os dutos e os viadutos, as paisagens, a respiração essencial - a humanidade. Construiu assim, com a simplicidade e a fluência livre de suas linhas retas e curvas um idioma pictórico próprio e proprietário e autoral, provido de léxico e de sintagma personalizados. Rubens, livre do estigma do parentesco, está agora pronto para ocupar, de fato, de direito e sem hierarquização, um dos vértices da eqüilátera tríade dos Ianelli, na boa companhia de Arcângelo e Thomaz.

Foto: Sérgio Guerini

Rio de Janeiro - 2005

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