"A EXPERIÊNCIA CRÍTICA", de RONALDO BRITTO
Onde começa a experiência da arte (e da vida)?

Em 1972, Ronaldo Brito, então com pouco mais de vinte anos, começava a escrever para o jornal Opinião. Ainda estudante de jornalismo, curso que não viria a concluir, deu início a seu trabalho como crítico de arte, após o golpe militar de 1964, em meio a um árido terreno onde os melhores cérebros e muitos artistas tiveram que abandonar o país.

A partir do movimento neoconcreto no Rio de Janeiro, a crítica reflexiva foi acrescida de uma nova dimensão, poética. O pensamento de Ronaldo Brito se desenvolve sob essa influência, até porque seu interesse pela poesia era muito anterior, o que de certa forma viria a permear todo o seu trabalho. Seus ensaios são exemplos de intimidade entre o crítico e a obra. Com atitude experimental assumida, dono de um espírito ventilado e uma visão livre de quase tudo o que já foi dito sobre a arte brasileira, desejava efetivar critérios capazes de levar a arte a livrar-se dos ranços que caricaturavam.

O jovem crítico participava, mesmo que indiretamente, da busca por outros espaços de expressão, ao transformar os catálogos das exposições, geralmente com superficiais apresentações dos artistas, num espaço importante para a reflexão, por meio da publicação de textos mais densos. Valorizando o texto crítico, transformava-os num produto de mentalidade experimental.

Seu trabalho é marcado pelo questionamento sobre o que significa para nós integrar a cultura ocidental e que lugar devemos ocupar nessa cultura. Produzindo uma reflexão capaz de servir como base para a diversidade contemporânea, seu projeto adere à idéia da arte como um espaço público democrático. Hoje, diante do conjunto de sua obra, reconhecemos que ele escreve somente sobre o que gosta, escolhendo a dedo os artistas com que se dispõe a trabalhar, desenvolvendo uma relação de intimidade, acompanhando os trabalhos intensa e sistematicamente. Porém, ele não se deteve somente no diálogo com os artistas que iniciaram suas obras nos anos 70, mas também com artistas mais maduros como Sergio Camargo, Eduardo Sued, Iberê Camargo, Amilcar de Castro e Mira Schendel, além de Goeldi, Segall e Guignard.

Experiência crítica divide-se em dois blocos: na primeira parte estão reunidos os textos que abordam o ambiente cultural brasileiro num sentido amplo. O critério utilizado foi essencialmente histórico, apresentando artigos que são testemunhos de um projeto de modernização da cultura brasileira, aí incluídos os primeiros escritos do autor, ainda no período em que trabalhava para o semanário Opinião. São crônicas sobre o cenário cultural que questionam os salões de arte, comentam os livros lançados no período e ironizam a política pública voltada para a cultura. Há também textos do período em que escreveu para O Globo e para o Folhetim. Os temas passam também pelo surrealismo, por Manet e Miró, assim como textos escritos por ocasião da morte de artistas como Picasso, e de seu amigo, o pintor Jorge Guinle.

Na segunda parte, em textos agrupados por artistas, selecionados segundo a importância do texto e do artista no pensamento do crítico, apresenta-se ao leitor um panorama do cenário artístico do qual o autor é parte constitutiva. Aí estão 45 textos sobre 40 diferentes artistas cujas trajetórias tiveram seu ponto de partida nos anos 50 e 60 - como, por exemplo, Amilcar de Castro, Eduardo Sued, Iberê Camargo e Sergio Camargo. Há também os que iniciaram suas trajetórias a partir dos anos 60, na passagem para os 70 - é o caso de Tunga, Iole de Freitas, Waltercio Caldas, José Resende, Antonio Dias e Cildo Meireles. E ainda estão incluídos textos sobre artistas mais recentes, das décadas de 80 e 90, como Elizabeth Jobim, Fábio Miguez, Fernanda Junqueira, Gabriela Machado.

Não podemos deixar de mencionar que Ronaldo Brito possui ainda um importante papel como professor, atuando de forma contundente para várias gerações. Neste aspecto, suas idéias atingem muitos jovens artistas, críticos e historiadores da arte. No espaço universitário atua como um desembaraçador das severas regras que manipulam os dados culturais e que submetem esse processo a distorções que interferem implicitamente na leitura dos fatos.

Sobre o autor:
Ronaldo Brito deu início a seu trabalho como crítico de arte, num período caracterizado pelo “vazio cultural” que sucedeu ao golpe militar de 1964. No jornal Opinião, colaborou na seção cultural do primeiro ao último número (1977). No mesmo período foi um dos editores da revista Malasartes e do jornal A parte do fogo. Foi o primeiro a escrever sobre o movimento neoconcreto, realizando uma leitura contundente e um dos mais importantes ensaios sobre o tema. O texto foi escrito em 1975 por encomenda de Marcos Marcondes e Luiz Buarque de Hollanda, só tendo sido publicado dez anos depois, em 1985 - Neoconcretismo: Vértice e ruptura do projeto construtivo brasileiro (Rio de Janeiro: mec/Funarte, 1985. Coleção Temas e Debates, n. 4. Reeditado em 1999 pela Cosac Naify, na série Espaços da Arte Brasileira). Brito realizou análises profundas das obras de Iberê Camargo, Sergio Camargo, Eduardo Sued, entre outros. A editora Cosac Naify reeditou em 2000, também na série Espaços da Arte Brasileira o texto sobre Sergio Camargo em livro com o nome do artista. Como poeta publicou O mar e a pele (1977), Asmas (1982) e Quarta do singular (1989).

Rio de Janeiro 2005


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