"As Cores do Tempo", de Romanelli.
O impressionismo tropical.

©Alexandros Papadopoulos Evremidis

Dom_Quixote Não há mais o que dizer sobre Romanelli. E não porque outros já tudo disseram. E nem tampouco porque de tão eloqüentes suas obras falam por si, chegando mesmo a beirar as raias da tagarelice. Não há o que dizer, simplesmente, porque, tendo ele atingido a maturidade e com isso também o patamar mais alto do fazer artístico, nada mais lhe resta que abrir as asas e voar para o espaço, para os amplos e elíseos territórios da Walhala dos ainda, e muito bem, vivos, para onde, aliás, todos nós ansiamos ir. Nessas circunstâncias, qualquer coisa que se dissesse soaria prosáico, pior, profanação.

Posto isso, faremos a abordagem alternativa do off-side e, ao invés da técnica e da estética, falaremos de duas ou três coisas que não constam do circuito convencional. A pessoa de Romanelli, por exemplo: Num rápido contato, na noite inaugural de sua retrospectiva de 40 anos, na Casa França-Brasil, e com algumas palavras trocadas, ficamos com a impressão de um homem tranqüilo, sereno e absolutamente seguro de si e de seu métier. Nos modos, um gentleman. E no ato, também um completo e autêntico trabalhador, cônscio de sua destinação na sinergia social. Simples e humilde.
E agora, olhos atentos, sensibilidade máxima e mãos à obra para apreciar as obras de Romanelli. Obras? Não! Em poucos minutos, fica gritante, que o substantivo simples se sente insuficiente e exige uma composição com outra palavra - "primas". Sim, estamos confrontados com obras-primas. Daí em diante, é uma sucessão de ahhhs! e ohhhs!, fonados por este devoto, pelos que estão à frente e pelos que seguem - todos em piedosa e exultante procissão, buscando a mágica pirotecnia do impressionista tropical. Uma romaria atrás do Romanelli!

E por falar em procissão, num dos quadros assim titulados, as pinceladas de tinta mais se assemelham a uma grande e densa mancha explosiva que flui qual correnteza, cintilando e vibrando, como se em movimento. E há mais "manchas" - uma Iemanjá e um Quixote, que se configuram numa explosão branca, uma luz em plena epifania, em meio ao azul dos oceanos, de onde, como convêm a divindades, eles quase diluídos insinuam emergir, como se para se materializarem. São momentos de intenso temor e arrepio. Unção! E há ainda, em 2m x 2m, o imponente e majestoso Dom Quixote e Sancho Pança, ou seja, o cavaleiro da triste figura e seu fiel escudeiro, que reinam absolutos e estão, com justiça, entronizados no lugar mais apropriado da Casa. E há, como não podia deixar de haver, sendo ele impressionista, as ímpares, verde-douradas e apaziguadoras paisagens e colheitas - o trigal, o laranjal, o campo de girassóis -, onde a lira e a luz se congraçam num baile poético digno de Apolo.

Uma curiosidade: Se observadas bem de perto, as telas mostrarão muitas lacunas entre as pinceladas, o que poder induzir à falsa impressão de obra apressada e mal-acabada. Apressada, sim, senão como capturar "a impressão" daquele instante único? Afastando-se, porém, e olhando de uma distância focal adequada, a magia se opera - a cor das tais esparsas pinceladas se irradia, se estica e se espalha cobrindo os espaços "vazios" e conferindo integralidade.

Uma última coisa: Tal o cuidado e a perfeição, que todas as 80 obras (primas!) da síntese de Romanelli nos transmitem invariavelmente a sensação de que foram feitas com muito carinho e ternura, com todo e sincero amor. E nesse sentido, Romanelli é um pintor extremamente sensual.

Rio de Janeiro 2001.

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