| Paulo Vivacqua |
Ao som das estrelas

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

Todo movimento produz som, sendo a recíproca absolutamente verdadeira - lembrar o Tambor do Günther estilhaçando os vidros das alemãs janelas.

Vale dizer que alguns sons são inaudíveis, como os ultra-sons ou a fabulosa música dos espaços - uma tera-sinfonia que os corpos celestes em perpétua revolução produzem, mas que, por já ao nascermos a incorporarmos, não a ouvimos (diga-se, uma lástima, mesmo ao risco de ela nos estourar os tímpanos e subdividir em infinitesimais fragmentos).

Outros há, entretanto, que em exagerados decibels são ensurdecedores. Os de Vivacqua são de natureza plácida, poética e delicada, porém em compasso acorde ao tempo e daí, cristalinos, a ele resistentes, melhor, com ele coniventes. Perturbado pelo sugestivo e remitente título, Nympheas, perguntei ao artista, se a proposta era a da transposição das homônimas de Monet - flores (mais para oníricas e imaginárias manchas, já que o artista sofria de progressiva perda de visão, então) que tremulam e cintilam e cantarolam ao som do murmurar das águas, sob as pontes japonesas. Sem falar em mais uma sinalização para a abstração também lá germinando.

Respondeu Vivacqua que sim e que não. Que a idéia original era criar uns laguinhos habitados por pequenos alto-falantes que, simulando plantas aquáticas (?), uma vez acionados, dançassem um quase imperceptível de tão sutil e amoroso balé aquático por entre os espessos planos de vidro em que são interpostos (protegidos da predação) - materiais hoje cotidianos e ainda assim dinâmicos, futuristas e construtivos. Mas que diante das muitas e muy significativas exclamações dos amigos "São as nympheas, você acaba de criar as nympheas, Paulo", contemporâneas, é claro, ele não teve como não homenagear o monstro sagrado de quem quer que se preze e se diga artista e humano. E, de certa forma, assim contribuir para e com a eternização do mesmo, já que telas, tintas, pigmentos são efêmeros à corrosiva e irrecorrível passagem do Chronos e das arbitrariedades climáticas que, mais cedo ou mais tarde, as vitimizam.

Mas Vivacqua, na contida e equilibrada paixão de sua plena juventude em flor, não apenas transpôs e releu e transliterou e atualizou Monet, mas também lhe conferiu feição própria e proprietária, uma postura autoral e contemporânea, literalmente translúcida e clara. Mais - o trouxe à grata intimidade de nossa presença e companhia, mesmo quando beirando o etéreo, já que tal é a sensação que o vidro e o metal e a luz intêmpera, que os banha, nos transmitem - sim, a instalação do artista podia perfeitamente descolar do chão e decolar e flutuar no espaço do cubo branco da galeria e depois se elevar e ocupar seu legítimo locus entre as constelações.

Sim, as obras do artista, ao existirem e serem contempladas e interagirem com os vivos, postos em contente movimento pela insinuante propagação de suas sensíveis vibrações, nos encantam visual e auditivamente, tactilmente mesmo! e nos afetam por sua mise-en-scène e por sua performance, por sua transcendental mensagem. Tudo ao som de um quase silencioso som. Ponderei outro dia ser a música, o som, a mais transcendental das artes e agora completo: é também a mais perturbadora, inquietante e ameaçadora e ao um tempo sedutora e encantadoral. Talvez porque, embora invisível, envolvente, como invisível soa ser o essencial e sua essência.

Falei que a música dos espaços, por já estar incorporada ao nosso orgânico sistema, estava fora do raio de alcance? Bem, digo agora que lá, diante das belas e literalmente diáfanas criações de Vivacqua, tive a nítida percepção e a inequívoca impressão de estar sendo vividamente impressionado - de imprimir! - e tocado, de tangido e comovido! - por elas: uma preview do que nos espera. Muito trabalho pela frente. E all around - propriedade proprietária do som.

Rio de Janeiro 2006

©Alexandros Papadopoulos Evremidis > escritor crítico > Email


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