| Paulo Nenflidio | Engenhocass sonoras |

Criar um moinho de ventos sonoro com 15 cordas, captadores, tubos, cata-ventos etc tudo isso acionado pelo sopro de ar vindo de fora do local onde este se encontra para trazer música ao público é apenas um exemplo do que é capaz de produzir o artista Paulo Nenflidio. Não se trata de somente colocarmos o fone de ouvido que está à disposição do público, mas entender a extensão escultórica e a experiência sempre única de cada momento, fruto da união de um elemento da natureza, o vento e o imenso captador/ engenhoca/ instrumento construído pelo artista. Ali, o público encontra os fones de ouvido para ouvir a música produzida pelos ventos, em tempo real, através deste concatenado e preciso instrumento semelhante estruturalmente ao piano ou ao cravo.
Antes mesmo de ser selecionado em 2003 para o 27° Salão Nacional de Artes Plásticas em Belo Horizonte (Bolsa Pampulha) com o projeto "Música dos Ventos", misto de poema sonoro e aventura numérica, seu inventor, o artista Paulo Nenflidio, paulista de São Bernardo do Campo, já havia criado a "Bicicleta Maracatu" em 2000 e "Berimbau Digital" em 2003, com o qual logra transformar em arte um berimbau, um mouse e uma bobina de campainha, afirmando em ambos o conceito da interatividade e da dinâmica da mutação na tarefa de criar instrumentos, como um luthier, ou de recuperar o dom de criar o jogo e o jogador, como um artista.
Paulo celebra o elo entre artes visuais e música que historicamente encontra suas bases vanguardistas no manifesto futurista "A Arte do Ruído" (1913) de Luigi Russolo e raízes contemporâneas em Jonh Cage. No Brasil este elo também está presente na arte do Chelpa Ferro, Tato Taborda, Grupo Grivo, Paulo Vivacqua e Marssares, apenas para citar alguns exemplos.
O original trabalho de Nenflídio constrói momentos precisos transformando forças naturais como o vento ou mesmo o simples gesto mecânico de pedalar uma bicicleta em música. Lusco-Fusco é uma caixa de música crepuscular, ou seja, a obra é acionada durante o crepúsculo, emitindo um som similar aos sinos. O momento em que o objeto é acionado e o tempo de duração deste estado ativo é determinado pela variação de luz.
Uma engenhoca instalada na traseira de uma bicicleta, a "Bicicleta Maracatu", produz a rítmica do maracatu percutindo um agogô quando pedalada. Em lugar de priorizar uma estética do ruído, como pontua o crítico de Arte Rodrigo Moura, geralmente associada à música eletroacústica nesse contexto, Paulo optou por construir instrumentos tonais que percutem cordas de metal afinadas em escala natural, estruturas construídas em madeira semelhantes a instrumentos acústicos, criando melodias tocadas por elementos da natureza.
Paulo impessoaliza o instrumento por ele concebido, provocando uma atmosfera de atemporalidade, desloca a sensação atávica da construção humana para uma outra esfera de possibilidade. O sentido paradoxal da invenção: desde a transformação da energia natural, solta no acaso, ao momento único e efêmero de cada música tocada por suas engenhocas instalam-se na arte como questões de indeterminação, efemeridade, sujeito e objeto da performance, tempo-espaço, acaso e intenção.

Rio de Janeiro


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