"Da palavra à geometria lírica", de Osmar Dillon.

A produção recente do artista, arquiteto e poeta Osmar Dillon, reforça o caráter sensível de suas pesquisas com o neoconcretismo. A releitura dessa vertente construtiva se dá pelo uso da mídia digital, elaborando imagens denominadas pelo artista de Geometria Lírica.

Dillon, que participou do movimento neoconcreto carioca na década de 60, reuniu para esta exposição 20 trabalhos produzidos nos últimos dois anos, que retomam, em parte, o vocabulário gráfico-visual utilizado por ele durante os anos 70. Serve-se, entretanto, agora da impressão em suporte rígido, o que, além de evitar a fragilidade e perecibilidade dos trabalhos em papel, permite a tiragem de reproduções, no caso, limitadas a cinco, nas dimensões de 125 X 95 cm e 50 X 65cm.

Suas construções, matizadas e estruturadas pelo uso da cor, velaturas e superposições, parecem pinturas. A palavra, por sua vez, recebe tratamento diferenciado e retorna à superfície plana pela habilidade do artista em manusear programas e editar novas propostas gráfico-visuais. Utilizando a tecnologia do século XXI, alcança resultados dificilmente conseguidos com o pincel.

Dillon maneja com maestria sua iconografia organizada pela estrutura informacional. Sua obra, resultante do desdobramento lógico e sensível de suas pesquisas plásticas, avança em direção a novos meios expressivos atualizados pela tecnologia, demonstrando que sua linguagem plástica se mantém coerente e atual.

Aparecendo em 1960 com seus "objetos poéticos" ou "não objetos", conforme a denominação de Ferreira Gullar, na exposição de Neoconcretismo no MEC, Osmar Dillon vem, desde então, desenvolvendo com sucesso sua linguagem plástico-poética, utilizando inclusive materiais tecnológicos, como o acrílico, e deles tirando o máximo efeito expressivo. Preocupou-se, também, com a sua democratização, criando, então, o "múltiplo", objetos com tiragem limitada.


A mágica da poesia visual

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

Osmar Dillon é um subversivo contumaz. A experimentação e a busca pelo novo, constantes em seu léxico artístico, chegam agora às raias da obsessão e brilhantemente se cristalizam em meios e sintagmas avessos à maioria dos artistas que ainda e desesperadamente se batem na tradição, horror (e sobretudo medo) que têm dos corolários do futuro, que bem sabem - serão inexoráveis e inevitáveis, tal qual Chronos, o devorador.

Osmar pouco se importa. O que a ele importa é subverter os conceitos e os valores, desarrumar e rearranjar, estabelecer robustas fundações e inventivos cânones para a nossa marcha teleológica. E a prova do bom sucesso está aí nesses seus cândidos tableaus.

A arte moderna não eliminou o tema representado? A contemporânea não liquidou o suporte e os materiais, valorizando o afogueado "daemon" que há, devia haver, em cada um de nós? Não é o artista artista justamente por estar "up to date" com seu tempo, na verdade, mais, vanguarda, pesquisador e fornecedor de novas soluções para as anciãs problemáticas da arte e, daí, para a fragilidade da humana civilização, conferindo alguma graça e outro tanto de sentido, ainda que ilusórios?

A enxurrada de perguntas mais que inquire, responde e satisfaz os anseios do homem comum, subjugado pelo peso da rotina da esteira rolante, do sol que se põe sem nunca se pôr, da decadência e da corrupção física da carne, sequiosa para percorrer o caminho de volta - "ad locum tuum revertere". Quem não tinha se ligado no título da exposição, antes do vernissage, na sempre efervescente Galeria da Márcia Barrozo do Amaral, num primeiro instante, pensou estar diante de rigorosas e vigorosas, impecáveis na forma e na mensagem, pinturas produzidas por pincel, tinta e mão firme, guiada pela poesia cromática, da espécie lírica. Boquiabertos! De olhos amplificados, não de horror, mas de encantamento - foi isso que vimos, depois de sabida a verdade digital, nas expressões dos peregrinos à nova divindade das artes e da vida. Impressionante! Incrível! Maravilhoso! Sublime! - foram essas as palavras mais proferidas por leigos e afeiçoados.

Sim, porque as obras não eram pintura, mas tinham todos os atributos a ela conferidos - cor, matiz, luz e luminosidade, contrastes, gradações e afinidades seletivas e afetivas, intrincados planos, ora justa e ora sobrepostos, volume, brilho, profundidade, trompe l'oeil e até mesmo textura - a impressão que se tinha era que bastava você tocar a tela (tela? não, PVC rígido!) para percorrer os insinuantes sulcos deixados pelo delicado vaivém do pincel e gozar a táctil e cálida sensualidade do grão!

Sim, Osmar nos enganou a todos, nos fez de bobos e de ingênuos. Em compensação, a subseqüente premiação em "aesthesis" e poética, puras e livres de quaisquer vestígios da "mímesis", sem falar no ganho adicional da modernidade, uma saudável mais-valia, fez com que nos sentíssemos regia e artisticamente acolhidos e acalentados. Todos os congraçamentos, ainda assim, serão poucos. Quem diz é o mérito de Osmar Dillon.

Rio de Janeiro 2004

©Alexandros Papadopoulos Evremidis > escritor crítico > Email


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