"Pinturas", de Olívia Feder.
"O resgate de valores estéticos e existenciais! "

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

Na atual mostra, Olívia Feder apresenta dois aspectos de seu trabalho, que funcionam como ponto e contraponto - o passado e o presente. No presente, em telas pintadas com a técnica de acrílica sobre tela, ela celebra o lado luminoso e feliz da vida marinha em suas variadas formas e, num misto de realidade e fantasia, nos revela o habitat e a vida de anêmonas, corais, peixes e demais seres exóticos do fundo do mar, chegando mesmo a nomear um dos trabalhos - um impressionante díptico de grandes dimensões -, com o título "Festa", e outro ainda maior e mais representativo de sua proposta, o tríptico "Zigue-Zague", que configuram a mais bela exaltação dos valores naturais e, pour cause, inalienáveis. Isso sem falar na sugestiva tela, toda em azul, em que uma ninfa sonha estar dormindo no profundo das águas - leito primeiro. Com o suporte de um desenho preciso e as elementares cores fortes, alternando as frias e as quentes, ora carregando nas expansivas, ora na recessivas, ela compõe um painel mágico de rara vivacidade e movimento, recorrendo até ao ilusionismo que faz com que suas criaturas adquiram tridimensionalidade e volume e pareçam estar saíndo do quadro e nadando a nosso encontro, em clima de confraternização. Indubitavelmente, é um vigoroso alerta permeado de preocupações ecológicas, sobre o desastre que seria a conspurgação predatória de toda essa beleza - origem e berço, útero primordial, de todo ser vivente.

A segunda fase, que simbolicamente chamamos de passado, é um réquiem, um lamento melancólico, imbuído de intensa dramaticidade. Com sensibilidade e maestria artesanal, Feder procura recompor e reconstruir os passos e os arcabouços do que um dia foi nossa terra, agora desertificada e estéril, retratando esqueletos, rastros, pisadas e outros sinais de uma vida inapelavelmente perdida pela voracidade do humano profanando o sagrado. Para expressar essa tragédia, a artista empreende, numa espécie de hierática peregrinação, viagens periódicas a Minas Gerais para buscar seus materiais ctônicos: pedra-sabão, moída, e terra, material orgânico por excelência, que ela traz em sacos e, depois, num processo lento, paciente e afetuoso, amassa, peneira, umidifica, acaricia e mistura com produtos químicos e tintas, necessários para lhes conferir aderência, consistência e tonalidades cromáticas ímpares e nuances sutis; e então, chegada a hora, Olívia aplica seu "preparado" em espessas camadas sobre a tela, criando efeitos inusitados de plasticidade, relevo e cor, o que freqüentemente dispensa camadas adicionais de acrílica. Trata-se de um meritório procedimento pessoal e original de recriação arqueológica.

E ainda há uma peça que merece destaque especial por seu significado ético, moral e cultural intrínseco - o apedrejamento de mulheres no Oriente de 3000 AC a 2000 DC. É uma obra de grande impacto emocional e estético, altamente agressiva e violenta, feita toda ela de densos estigmas de tinta vermelho-sangue, que, atiradas contra a tela branca, explodem como bombas em inúmeros fragmentos que, por sua vez, escorrem como rios, vasos e recipientes da falência da tão propalada civilização que o humano teria alcançado. É um quadro diante do qual todo ser humano, em extrema contrição, deve parar e refletir, como se espelho fosse e refletisse nossa, de cada um de nós, réus e cúmplices, própria imagem, púrpura de vergonha.

Rio de Janeiro 2002

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