| Carlos Sena, Divino Sobral e Marcelo Solá - "O Centro na Borda" |
Pintar e bordar com inocência no olhar
ou
os 3 Ss - como subverter e fundir (para confundir e finalmente anular) o conceito de artecentro.

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

"Três tiros certeiros", disse eu ao me despedir da belle jeunne femme Cristina M. Pinto, dona da galeria. Já na rua, me arrependi e pensei em voltar para dizer que não, eram três tiradas certeiras. Não voltei. Agora vejo que eram três tiras certeiras. Tiras, não de policiais, mas de tiras de quadrinhos - cada uma contando e confabulando, entre si e com os outros, e construindo belos e delicados poemas, idílicos, mas também essencialmente crus, romances - de amor/sexo, claro, de que mais? A palavra, antes legenda, é agora elevada à categoria de personagem sinagonista.

O mais é que os bandeirantes iam da borda (marginais) para o centro - (desavergonhadamente debravados) bravos na (questionável) função de desbravar/debravar (o já desbravado, mas não depravado, pelos autóctones - outros inocentes e ingênuos). Esses três moços invertem tudo em tudo e com toda inocente ingenuidade (como se tábulas rasas que desconhecessem a existência do mal), quais novos bandeirantes, agora do bem, vêm, rompem, irrompem, do neurálgico centro para a borda (margem metáfora de "marginais")(seríamos nós, em nossa desmesurada arrogância, periferia-margem?), para nos contaminar com sua vitalidade e com a pureza do seu deles fazer artístico. Há, em subjetiva leitura, reais pistas - tarjas pretas de luto ou interdição e compartimentação, exclusão, meridional e equatorial - uma barreira, grade ou cerca negra separam uns dos outros - está na capa do esmerado folder - e uns e outros ronronam: de fome ou de tediosa sonolência, uma letargia?

Sena re/descobre e digitaliza ímãs de geladeira, rótulos recobertos de emblemas contendo imagens e signos alfanuméricos, e justapondo e repetindo-os eni vezes (tende ao restrito infinito), constrói com rigor formal, mas também com profusas e profundas reflexões, ícones significativos do imaginário popular e social - "Com Sinhá você faz bem", promete um, insinuante, lubrificante e sedutor, e outro, angelical e pedófilo a um tempo, fornece até o número do fone, tipo: disque gás, fome, água, pão, feijão, (sexo?). Alusões às ilusões (perdidas e nunca mais recuperadas). Impecáveis na solução e na realização, na construçção, as obras de Sena pairam como hieráticos e litúrgicos objetos tri. Continentes e conteúdos. Eventualmente, catedrais de luxo/lixo. De perto, prosaica prosa; de longe, pura poesia. Miragem = Ela (Quem é ela? Sinhá?!) sonha.

Sobral, o Divino, faz jus ao ónoma e literalmente pinta e borda e traz pra borda seus vestuário e tecidos bordados e oxidados - arqueológicas paragens de um mundo banhado em onírico amarelo tonal, consubstanciadas em um, digamos esquematicamente, completo enxoval de noiva-menina, manchado pela oxidação-tempo, mas não maculado pelo pecado-virgindade, em todo caso povoado por fábulas e paradoxos, aproximações e distanciamentos, símbolismos e parábolas, signos, figuras e palavras-chaves senhas, atrações e repulsas - tudo e todos catalisando mil e uma noites e luas de mel e de fel. Em pleno dia, com a temperatura liquidificando o solidificado passado afetivo, armazenado no Aqueronte - prostíbulo do Hades. Em Sobral sobra nostalgia concubinada com ironia. Alice lê. E vê.

Solá, mestre em plena juventude e tão cedo em sua vida, nos ensina o extremado e incondicional, quase histérico, exercício da liberdade - num quadro negro, qual professor aloprado, visceral e instintivamente, como se em furor uterino, rabisca com (fálico) lápis que parece giz que diz das humanas paixões e desejos, do Eros e do Tânatos, do Pathos e do Pothos - que é em que se resume o que chamamos de efêmera (e vil) vida. Palavras e frases desordenadas e descontextualizadas e recontextualizadas,, agora já em concreto armado e em rítmico pas-de-deux com as linhas [tortas - é assim que (dizem/mentem) se escreve?], adquirem, no minimal, máximal carga lucífera de anárquica poem/a/ção imagética. Prova e contraprova de que a arte, mais do que de cursos e de recursos, é questão de ímpeto expressivo e criativo, convulsão anímica, tesão, alguma luz, alguma cor (ou ausência dela, já que capaz de desenhar no escuro e ad hic e ad hoc como fez com maneki) (não esquecer da dor) e uns riscos (sejam traçados, sejam corridos - arriscados sempre!). Solá entra de sola na propedêussis. Piaget estuda.

... enquanto isso: Se com Sena nos tornamos construtores de concretude organizacional espacial sintagma, e com Divino, líricos satíricos poetas (há mentirosos e falsos?!), encantados encantadores, com Solá nos tornamos mais e mais assumidos e, daí, também mais livres. Sem que isso se torne hybris, pois é assim que os olímpicos nos querem e nos amam.

Rio de Janeiro - 2006

©Alexandros Papadopoulos Evremidis > escritor crítico > E-mail


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