| Newton Rezende |
Exposição comemorativa do centenário.
“Newton Rezende foi um artesão com ampla experiência de linguagem da publicidade, que fundiu nesta explosão de sua obra o gráfico, o designer, o pintor e o desenhista. Os críticos encontram dificuldade em enquadrá-lo: Expressionista? Surrealista? Cubista? Pop art? Naïve? Ele é uma mistura de tudo”. Ferreira Gullar.
Perfeito intérprete do cotidiano carioca, Newton era um dos artistas brasileiros mais louvados dos anos 60 aos 80, quando suas exposições na Galeria Bonino transformavam-se em verdadeiros cults da cidade.
A mostra apresenta quase uma centena de pinturas e desenhos realizados de 1963 a 1983 “Nossa proposta é aproveitar o centenário do artista para, na verdade, homenagear o povo carioca e fluminense, matéria prima de suas obras. Além da pertinência histórica em revisitar a vida e obra desse artista, há relevância em apresentar os dois conteúdos, que ele fazia questão de tratar de forma independente: o pictórico e o profundo domínio da técnica gráfica, do desenho", declara Leonel Kaz, curador da mostra.
A Galeria Bonino era uma das mais importantes do Brasil nos anos de 1960 a 1990, período no qual o colecionismo se expandia no país. Localizada no Rio de Janeiro, um de seus principais artistas era Newton Rezende. Desenhista, ilustrador, publicitário e pintor, Newton Rezende começou a dedicar-se à pintura aos 25 anos; antes disso foi diretor de arte da Thompson Propaganda. A influência do trabalho gráfico vem desde a adolescência, quando imprimia rótulos e anúncios em litografias. Com obras presentes nas principais coleções do país (como pode ser vista na exposição “Arte Brasileira e Internacional na Coleção Boghici”, atualmente no Museu de Arte do Rio), em Newton “o desenho não apenas é fator essencial de suas obras, mas também uma forma de expressão autônoma: ao lado do pintor, há o desenhista, com voz própria”.
Autor de obra absolutamente original, fruto de uma personalidade irreverente, demonstra sua ligação com o lado popular da cidade, ou seja, com a vida cotidiana. Daí os inúmeros quadros que retratam as barcas de transporte coletivo através da baía de Guanabara, os morros e favelas e os espetáculos circenses. Esses temas, entre outros, o afastam, não apenas da vanguarda artística daquele período – da arte concreta e neoconcreta – como também dos pintores que, como ele, se mantiveram fiéis à temática figurativa. Em 1980 o crítico Otto Maria Carpeaux escreveu que Newton Rezende era uma figura solitária no panorama brasileiro, não pertencendo a nenhum grupo ou escola formal. O trabalho no entender do dicionarista Mauro Villar, faz uso de “superposições temporais, e seu universo multitemático, tratando de afetos, ardor, paixões, sexo, voyeurismo, fetichismo, sensualidade, solidão, preocupações sociais e políticas, meiguice, memória, melancolia, pungência, poesia, grotesco, ironia, riso, crueldade, crônica e até resignação”.
A exposição é realizada com recursos da Secretaria Municipal de Cultura e proporciona ao visitante uma lúdica aventura do olhar pela vida carioca. A mostra conta com projeto Educativo, que irá agendar visitas monitoradas à exposição. Será publicado um livro-catálogo por Aprazível Edições e Arte. A museografia é de Ronaldo Barbosa e a coordenação de Mauro Saraiva.
Newton de Rezende Silva (São Paulo SP 1912 - Rio de Janeiro RJ 1994). Pintor, desenhista, gravador, escultor. É autodidata em pintura. Em 1946 viaja a Buenos Aires, onde trabalha como artista publicitário. De volta ao Brasil, fixa residência no Rio de Janeiro e realiza sua primeira individual, no Instituto dos Arquitetos do Brasil - IAB/RJ. Em 1962, participa do Concurso Internacional de Publicidade, em Miami, Estados Unidos, e recebe menção honrosa. Em 1968, recebe o título de Diretor do Ano, outorgado pelo Clube dos Diretores de Arte do Brasil. Ferreira Gullar (1930) escreve um livro sobre sua obra, editado pela Galeria Bonino, em 1980. Seus quadros estão presentes nos acervos do MAM, MASP e em diversas coleções particulares.
FRAGMENTO DE TEXTOS DE FERREIRA GULLAR PARA A EXPOSIÇÃO
O nascimento do pintor em Newton Rezende, se eclode de repente, não se constitui fácil e rapidamente. Nada disso, há todo um aprendizado – e um desaprendizado do passado – que se faz realizando, passo a passo, com a assimilação das influências mencionadas e sua superação gradativa. A descoberta da cor e seu encantatório domínio são outro aspecto fascinante dessa aventura que foi a experiência pictórica deste artista. Historicamente, Newton Rezende descende da segunda geração modernista, a dos anos 30, muito embora a sua carreira de pintor se desenrole a partir dos anos 50, quando expõe no Salão de Arte Moderna e realiza suas duas primeiras mostras individuais. No entanto, a mostra individual que chama a atenção da crítica e dos colecionadores foi feita em 1968 na galeria Relevo. Deve-se observar, porém, que aquela ligação com os pintores figurativos dos anos 30 não o impede de assimilar outras influências mais modernas – como a da pop arte – que incorporará à sua poética, sempre muito pessoal. Na verdade, se o que caracteriza a pintura de Portinari e Graciano é certo tom social - que a leva muitas vezes a uma retórica de mau gosto – isso não ocorre com Newton Rezende, onde prepondera a poetização da paisagem e dos personagens, às vezes mesclada a certo sarcasmo que nada tem de ideológico.
Uma coisa, porém, que é daquela época e se mantém na pintura dele, é a ligação com a o lado popular da cidade, ou seja, com a vida cotidiana da maioria das pessoas, no seu existir de todo dia. Daí os inúmeros quadros que nos mostram as barcas de transporte coletivo através da baía de Guanabara, os morros onde se situam as favelas e os espetáculos circenses. Esses temas, entre outros, o afastam, não apenas da vanguarda artística daquele período – da arte concreta e neoconcreta – como também dos pintores que, como ele, se mantiveram fiéis à temática figurativa. É que nele, essa temática ganha características muito originais. Mas de onde vem essa originalidade? Ela constitui, de fato, a própria arte de Newton Rezende, fruto de sua história pessoal e da descoberta que o conduziu à mudança radical em sua vida. Sim, mas sobretudo nasce de sua personalidade criativa e irreverente, que a tudo vê com encantamento e humor. (...).Ele, na verdade, busca deliberadamente essa ambiguidade – do poético e do gaiato – que está na base mesma de seu modo de inventar o mundo. É que estará ele querendo nos mostrar a viagem da barca de Niterói como ela é ou inventando uma viagem que só existe ali em sua tela? Qualquer que seja a resposta, o que ele nos mostra se incorpora para sempre à nossa experiência e aquela barca, menos real que inventada, faz parte agora da cidade que imaginamos conhecer. Por isso, costumo dizer que a arte existe porque a vida não basta e que a verdadeira arte não copia nem revela a realidade e, sim, a inventa. Ao pintá-la, Newton acrescentou outra barca – que é pura imagem – às barcas reais existentes.
Ferreira Gullar, Escritor e crítico de arte

FRAGMENTO DE TEXTOS DE MAURO VILLAR PARA A EXPOSIÇÃO
Em que Tempo se desenrola a pintura de Newton Rezende?
No tempo de seus quadros não raro convivem e imbricam-se tempos diversos, nos quais repontam imagens de um ou vários passados, reais ou imaginários, relacionados ou não com a narrativa que se desenvolve, por vezes até contraditórios, e em formas muito diversas: desenhos, pinturas, colagens, incrustações de objetos, entalhes (especialmente entre 1968 e 1972), fotografias e moedas, além de eventuais irrupções do fortuito poético, irônico ou trocista etc. – dialogando com elementos presentes no tempo da representação e mesmo com outros ‘presentes’, possíveis ou impossíveis, tudo posto sob a luz da expectativa do futuro da cena retratada. « O tempo é o anjo do homem », escreveu Schiller11 e Newton parecia não desconhecê-lo.
Como são a Forma o Espaço em sua pintura?
A pintura de N.R. ‘ensina a ver’. Como no caso de Cézanne, ela é a consciência da cena que se pensa no pintor. Como fez Klee, a intenção do artista não é reproduzir o visível, mas pensar o real e torná-lo visível. Como em Joyce, muitas vezes sua pintura refere fragmentos, impressões rápidas apreendidas do mundo, real ou da imaginação, ou é um entendimento intuitivo da realidade que o pintor converte em epifanias perceptíveis12. Trata-se de apreensões da natureza ou do sentido de coisas que nos escapam e que ele nos patenteia. É glosando a realidade, mas também abrindo-se para a irrealidade, que se constroem os quadros de Newton. O espaço neles é criado pelo que se retrata e cada uma das coisas ou seres representados vive ali como uma integralidade. Não raro Newton deforma anatomias, simplifica volumes, distorce a morfologia de suas imagens. Usando livremente de seu alvedrio de demiurgo, desrespeita a verossimilhança de corpos, cores, cenas e panoramas.
Mauro Villar, Crítico de arte e dicionarista

Rio de Janeiro 2013


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