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Maurizio Ferri - Pinturas em �leo sobre tela
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Maurizio, com humildade e serenidade, exibindo o diploma de mais uma justa e merecida premia��o em Sal�es de ArtesA irresist�vel sedu��o dos tr�picos
©Alexandros Papadopoulos Evremidis*
Ao dizer de um artista, mais importante do que atentar para as suas teoriza��es sobre o que � arte e para que serve, ou pertenec�ncia a esta ou aquela escola, tend�ncia, corrente, � valorizar e legitimar sua honestidade intelectual e a autenticidade e a coer�ncia de sua fatura art�stica. Sua observa��o e consequente obedi�ncia, n�o aos, por defini��o, transit�rios e ef�meros modismos emergentes e exig�ncias do mercado de arte, e sim aos reclamos de suas vozes interiores por vaz�o e express�o - comunica��o, sem o que arte n�o h�.
Digo, porque � esse o caso de Maurizio Ferri que, alheio, mas n�o alienado! �s quase sempre est�reis discuss�es, se dedica e devota por inteiro e sem capitula��es e concess�es a fazer o que deve ser feito, aquilo por que seu psiquismo anseia - pintar o que lhe diz ao cora��o e � mente, � sua vis�o art�stica, cultural, social e at�! pol�tica. Destaco e exclamo o 'at�', porque o artista n�o � apenas artista, � tamb�m cidad�o e, como tal, embora se proclame o ars gratia artis, � em algum momento do percurso inevit�vel e desej�vel a sua coopta��o e o seu comprometimento com as quest�es candentes de tudo que humanum est e do meio em que vive e atua. Seja ele local, regional, ou seja ele, pela contiguidade da osmose, universal. Afinal, mesmo sendo cada ser humano, artista ou n�o, desde o nascimento, uma solit�ria ilha, pertencemos todos a um arquip�lago situado nesse infinito mar que chamamos de nosso universo.
Italiano de nascimento e forma��o, mas brasileiro por irresist�vel e indisfar��vel op��o, melhor, sedu��o (e logo direi por qu�), Maurizio sentiu ainda na adolesc�ncia o chamado da arte - sim, leitor, a arte � um irrecus�vel chamado que n�o se declina impunemente, salvo por quem, desavisado, pretender viver no angustiante vazio da frustra��o. Nos verdes anos em que frequentou a Academia de Belas Artes de Veneza - cidade famosa por, entre outras raz�es artist�ricas, sua pioneira Bienal que logo contaminaria o mundo a ponto de hoje n�o existir mais cidade que se preza sem sua pr�pria bienal -, o aprendiz de artista estudou e pesquisou as obras dos grandes mestres, identificando-se por absoluta empatia com os corifeus do impressionismo - Monet, Van Gogh e Gauguin, trin�mio este que imprimiu em sua mente indel�veis li��es de matura��o, particularmente no uso da cor como ve�culo-mor de comunica��o.
Se j� n�o estava in germine em seu DNA, foi certamente Gauguin quem despertou no jovem Maurizio o desejo de buscar sua Pass�rgada, quero dizer, seus... mares do sul, mais especificamente, os da Am�rica do Sul e para maior precis�o o Brasil. E, como nada acontece por acaso, o empurr�o final veio de Jorge Amado, cujos livros em boa hora lhe ca�ram nas m�os e cuja leitura lhe inundou e impregnou o �vido esp�rito. Ele passou ent�o a "traduzir" em pinturas os cheiros, os aromas, os sabores, as imagens, a atmosfera e a transbordante sensualidade tropical do genial baiano. Mas o �dolo n�o satisfazia o apaixonado Maurizio - ele desejava a viv�ncia t�ctil do original. Assim, da mesma forma que m�sticos v�o a Benares, Meca, Jerusal�m ou Roma, Maurizio foi peregrinar e beber na fonte mesma da baianidade, em Salvador. L�, s� n�o teve a felicidade de conhecer Jorge, porque por infelicidade Jorge faleceu logo antes do agendado encontro. Mas conheceu o grande Carib� que o acolheu de igual para igual e, ao tomar conhecimento de suas pinturas, j� com tem�tica baiana, n�o hesitou nem tergiversou - parodiando Drummond incentivou: Vai, Carlos, isto �, Maurizio, ser pintor na vida e mostrar o Brasil e a brasilidade aos brasileiros e al�m - sua arte, uma vez desenvolvida e amadurecida, ainda vai brilhar tamb�m no estrangeiro.
Era o que faltava a Maurizio que, munido dessa vigorosa e vivificadora ferramenta, veio, h� uns 10 anos, ao Rio de Janeiro, instalou sua... tenda dos milagres, em que se viu transformado seu atelier em Ipanema, e desde ent�o n�o faz outra coisa sen�o seguir a "ordem" do mestre Carib�. Favelas, pretos velhos, mulatas, passistas, cortadores de cana, trabalhadores em geral, pescadores, praias, cenas gen�ricas, se tornaram seu cotidiano repert�rio, j� exibido e premiado em mais de uma dezena de exposi��es solo e grupo. Seu cromatismo e o desenho de suas figuras, a princ�pio ainda contidos e domados, ligeiramente r�gidos e vitrificados, � medida que ele ia se abrasileirando, foram tamb�m se soltando e ganhando luminosidade e intensidade, e brilho e contraste, e ginga e movimento - vida pr�pria, portanto, autoral e personalizada, transcendendo todo academicismo de origem. � s� encarar os penetrantes, ora d�ceis e ora desafiadores, olhares de seus animados personagens, recortados do fundo estilizado e repletos de din�mica express�o, para sentir o di�logo a que nos convida e as quest�es de consci�ncia com que nos confronta - a mis�ria da condi��o social. Eu n�o estranharia se algum deles subitamente saltasse da tela e se instalasse no ambiente, exigindo o respeito aos seus direitos fundamentais.
Maurizio � um pintor de sensibilidade agu�ada, � flor da epiderme e do cora��o, raz�o porque, quando pinta, pinta com entrega total - todo sentimento e toda emo��o. Mas, como j� salientei, visto ele ser dotado de agudo esp�rito cr�tico e pol�tico, sem descuidar de toda id�ia e de todo pensamento, da reflex�o sobre como a vida � e como ela deveria ser, para nos tornar mais felizes. Mesmo porque de outro modo nenhum sentido a vida teria e faria. Entretanto, suas cria��es e seus personagens, apesar de toda opress�o e sofrimento, s�o solares e afirmativos. H� beleza e h� esperan�a e h� celebra��o da vida, ele nos diz. Pois que assim seja e o futuro o quanto antes as confirme e o mundo delas se contamine.
Rio de Janeiro 2008
©Alexandros Papadopoulos Evremidis => escritor cr�tico => E-mail
Passista do Rio de Janeiro
Rainha da Bateria
Maurizio e passista
Canavial
Camponesa
O pescador
Serra Pelada
Pescadores
Ternura
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