"Pinturas", de Marcos Vieira
O “GLOBISMO”
Um dia o famoso pintor belga, René Magritte, deu a um dos seus famosos quadros, o qual mostra um cachimbo, o seguinte título: “ISTO NÃO É UM CACHIMBO”, embora na pintura mencionada se vê, de fato, um cachimbo. Sobre os meus globos eu também digo: ESTES NÃO SÃO GLOBOS! São retratos de nosso, meu mundo interior, auto-retratos... São pensamentos, sentimentos ou até mesmo a fantasia e a liberdade que assumiram uma forma, a redonda, no caso da minha pintura. No silencioso diálogo entre o observador e a obra de arte, aquele, possivelmente sentenciará sobre os meus quadros: “São globos flutuando no espaço intemporal” ou “São planetas numa paisagem de ficção científica”. E tudo isto também está certo, pois não só a minha interpretação pessoal sobre a minha própria pintura é que vale, mas também o que a fantasia do observador vê nos meus quadros, pois este também é um dos objetivos da arte: liberdade ilimitada tanto para a fantasia do artista como para a do observador.

Quando a consciência da minha vocação artística foi se consolidando cada vez mais em mim, eu não julgava ser de relevância prioritária pintar em estilo abstrato, surrealista, im- ou expressionista, porém eu queria, como Picasso o formulou uma vez, escrever “diário” usando cores e fantasia. De um “ismo” precisam somente os teóricos, críticos e historiadores de arte, os quais querem, impreterivelmente, entender e analisar a arte racionalmente (não estou aqui generalizando; estou apenas citando aqueles que assim agem). A arte, todavia, segundo a minha opinião (e experiência), não fala somente a nossa razão, que é tão limitada, mas também – senão principalmente – a nossa sensibilidade, ao nosso sentimento, a nossa fantasia. Emiliano Di Cavalcanti disse um dia: “Pedem-me uma explicação dos painéis que fiz com Athos Bulcão; há coisas que não se explicam, ou melhor, que só se explicam pelo fato de existirem”. Para poder entender a arte, é preciso também senti-la. Não basta analisar a arte como um médico examina um paciente. O amante das belas artes não se identifica com o artista, porém com a obra de arte, pois “toda arte possui vida própria”, como diz esta frase de grande profundidade de Wassiliy Kandinsky.

Mas voltando ao meu estilo: este também recebeu um “ismo”! Quando expus pela primeira vez em 1999 no “Salon des Indépendants” – um salão aberto a todos artistas, que se realiza anualmente em Paris desde 1884 – fui perguntado por dois membros do comitê de organização que denominação eu daria ao meu estilo, pois analisando os meus três quadros que apresentei lá naquele ano, eles não conseguiam classificá-los em nenhum estilo já existente (e eles precisavam sabê-lo para poderem colocar os quadros na devida seção reservada a cada direção estilística); a minha pintura não era abstrata nem surrealista e tampouco im- ou expressionista, constataram eles. “Então, como você define o seu estilo?”, insistiram aqueles senhores. “GLOBISMO!”, respondi quase sem refletir com um sorriso um tanto maroto, pois eu mesmo não o levei a sério; eu quis apenas dar uma resposta “satisfatória” à sua questão. Contudo eles não riram, porém viraram-se para os meus quadros e os examinaram criticamente durante vários minutos.

Após esses longos minutos, eles se voltaram de novo a mim e me disseram: “Voilà, você acaba de criar um novo estilo!” e se foram levando as minhas pinturas consigo e me deixando na dúvida se eles estavam sendo irônicos ou falando sério. E eles estavam falando sério. Um ano mais tarde, quando expus no último “Salon des Indépendants” do século XX no ano de 2000, foi publicado especialmente para esta ocasião um catálogo “raisonné” contendo os nomes de todos os artistas que expuseram lá desde a fundação do “Salon” em 1884 até 2000. Nesta lista imensa constavam grandes nomes da arte universal, tais como Georges Seurat e Paul Signac, criadores do “pointilismo” e co-fundadores do “Salon des Indépendants”, Vincent van Gogh, que expôs lá de 1888 a 1890, Henri de Toulouse-Lautrec, de 1889 a 1892, Anita Malfatti, de 1926 a 1928, Lasar Segall em 1932, Salvador Dalí em 1934, Maria Helena Vieira da Silva em 1931 e tantos outros, juntamente com inúmeros nomes desconhecidos, entre estes últimos o meu nome também. Numa página deste catálogo, onde se lêem nome, endereço, obras expostas e estilo, li sob o meu nome a seguinte denominação para o meu estilo: “GLOBISTA”. Mesmo que, como o disse no começo e o continuo dizendo, um “ismo” não esteja em primeiro plano na minha pintura, senti-me muito honrado. Muito maior, contudo, foi a honra e a alegria de ter tido a oportunidade de expor naquele Salão histórico, de onde surgiram quase todos os estilos da arte moderna.

Não é o “rótulo” que faz a Arte, porém a capacidade que ela possui de nos sacudir, de nos “gritar” aos ouvidos, de beijar e acariciar a nossa alma e de nos “raptar”, levando-nos ao universo de nossa fantasia, desta forma libertando-nos enfim. Por tudo isso sou infinitamente grato a esta “Amiga da vida".


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©Alexandros Papadopoulos Evremidis = escritor crítico > Email
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