Marcos Chaves
Aboborização do sorriso que morde

"Chaves, operando sempre duas feridas, frente e fundos, diz ser da sua natureza - 'sua', de quem? Dele/dela, minha, tua, de todos nós - humanos e animais?! Suponho ser da natureza da natureza.

Escrevi antes 'sempre' por eu, faz tempo, ter detectado sua/dele/dela anfibologia essencial, como de resto de toda arte e dialética vida - vanitas. Sendo esta ininterruptus fluxus, certamente peguei, como sempre pegamos, o bonde andando, quando há quase uma década o surpreendi revestindo com faixas de sinalização urbana as 6 superfícies do antigo 'cubículo' da Laura Marsiaj, no Jardim Botânico/RJ.

Um artista a meu lado murmurava, então, ter Chaves copiado Vasareli óptico cinético. Lembro tê-lo censurado com olhar e palavras: não havia erro em copiar; erro haveria se não houvesse um desenrolar, desenvolver, levar adiante o copiado, conferindo-lhe contemporaneidade. Afinal, se o conhecimento e a humana civilização se construíram copiando os antecessores, tijolo sobre tijolo, mais razão teríamos agora, informatizados e atualizados, em "copiar e colar". Disse-lhe que entendia aquela abordagem do Chaves (que gostei e comentei depois) pelo óbvio - como um chamamento, um "Atenção!", um alerta geral, um pisca-alerta e um pisca-mudança-de-direção, o soar do gongo, seja aqui seja no Congo.

Passado isso, tempos depois, vendo 'Só vendo a vista' do Pão de Açúcar do Rio, vi que Chaves via e vendia, mas, menino ansioso e guloso, não cedia uma fatia ao mensageiro. Águas passadas, agora gargalhadas - sim, ele também gravou gargalhadas e com elas fez o mundo e suas pessoas se mijarem de rir e de tanto também chorar. Não contente, sagaz e mordaz, exibiu emblemáticos coríngueos sorrisos dentados, com ironia, canino sarcasmo mesmo. Só faltou morder a "sua" canela e (claro, compassivo) assoprar e beijar. Claro, tudo com todo humor.

Agora, põe as pessoas a freneticamente correrem passarem pela vida, hush-hush, alienados ou em busca de quiméricos sobrenaturais milagres, como se o real já não fosse milagroso sobrenatural o bastante. Elas parecem ir e vir, viver, num monocórdio deserto e não se detêm para ver a vista à vista - a vasta cabeleira/franja/frinja rastafari da trepadeira pender como damóclea espada-alerta sobre suas/deles ocas e, daí, loucas cabeças. Quando uma ou outra pára, se encanta, se alta para tocar (ser tocado) o visto, o mundo inteiro entra em compasso de lenta espera e se encanta e pára e suspira e geme.

Haverá esperança? Dizem os vídeo-insetos de Chaves, igualmente frenéticos, como é da sua natureza, zunzunindo e sugerindo analogias nada lisonjeiras para os tais humanos, que sim, que não, que muito antes pelo contrário... Moral: Chaves não acende cigarro com fósforo, acende fósforo com cigarro, o que já o inclui no 'somos poucos e, pelo visto da vista, nunca passaremos disso > gargalhemos, entonces > é disso (e daquilo!) que vivem os artistas'". Afinal, é da sua natureza que se trata, por isso não destrata.

Rio de Janeiro 2008

© By AlleKunst


Delírios opticinéticos

©Alexandros Papadopoulos Evremidis

A cada vez que uma exposição é inaugurada na diminuta e charmosa galeria Laura Marsiaj Arte Contemporânea, situada na Rua J. J. Seabra, 18 - Jardim Botânico - Rio de Janeiro, o evento se transforma em verdadeiro pointe de agito e happening. A afluência de tribos de artistas, amadores, amantes e curiosos é impressionante. E como o espaço é exíguo, o jeito é tomar conta da rua mesmo, no trecho entre a Rua Jardim Botânico e a Lineu de Paula Machado. Tudo sob o olhar atento de Laura, preocupada com que tudo dentro do princípio do que ela escolheu como leitmotiv de sua orientação - a arte contemporânea. E o que vem a ser arte contemporânea? O conceito é circunscrito por exclusão: Grosso modo, pode-se dizer que é tudo que não se enquadra nos meios tradicionais, como pintura sobre tela, desenho ou gravação sobre papel ou metal ou madeira e por aí. Pode-se então deduzir que arte contemporânea é feita de incursões em terrenos antes interditos à arte, como política, sociologia, sexualidade, corpo, religião, performances, happenings, instalações de toda sorte ou trabalho em vídeo e até no computador e por aí também.

Nesse tal dia, o vernissage virou festa de arromba. Sem falar no espaço da galeria, que, por um passe de mágica, se transfigurou em heterodoxo parque de diversões. Isso porque, Marcos Chaves, multimidiático, revestiu, com o trabalho intitulado "Logradouro", o espaço total da galeria - chão, teto, paredes - com fitas amarelas e pretas, como as das ruas, das rodovias, das passagens de pedestres e até mesmo do interior de bancos e demais estabelecimentos para orientar filas. E mais - a fitas se expandem e alastram para a rua, sobre o asfalto e as calçadas como a indicar aos passantes o que os espera no fim da linha. Posto que o amarelo é considerado a cor da loucura, e o preto, da morte, o simbolismo das fitas e das cores, associadas às metrópoles e a seu trânsito vivo e mecânico caótico, ou à ordenação passiva e asséptica dos cidadãos enquadrados e massificados nos espaços públicos e privados, fica evidente. Mas não se deve ignorar o lado lúdico da interação do espectador com a ilusão óptica, a diluição da forma pela deformação, da matéria e da geometria, da alucinação e do delírio cinético que causam - psicodelismo puro. Op art e pop art.

Chaves foi selecionado para a XXV Bienal de São Paulo, o que desde já vale como premiação. Pergunto: o que ele vai apresentar lá? "Morrer de rir", responde e morre de rir. É isso mesmo: os visitantes que entrarem em sua sala ouvirão dezenas de risos diferentes e verão outras tantas de fotografias ilustrando esses risos. Contágio interativo e imediato. Difícil resistir. Em caso de alguém perder o controle e desandar em histeria, haverá pufes para pausa e descanso. Meditação? Nada mal, né? Digo-lhe, então, se eu fizer (como de fato fiz em happening informal) as pessoas chorarem ao invés de rir, ele se incomodaria e me acusaria de plágio? Claro que não, ele acharia ótimo. Só que as pessoas preferem rir, não chorar. Parece certo afirmara o que afirma. Se bem que em algum momento, apenas um tênue fio, ou fita, separa o choro do riso; eles se encontram e se identificam, como as faces da mesma moeda ou medida. Pois é esse o artista Marcos Chaves que certamente levará duas vezes meio mundo a morrer de rir. Com muito riso. E siso, espera-se!

Rio de Janeiro 2001

©Alexandros Papadopoulos Evremidis > escritor crítico > Email


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