Marcone Moreira | "Indícios" |
A construtiva arte do descarte

Indícios Restos de portas, caixotes, carrocerias de caminhão, embarcações, telhados e móveis são o suporte que o jovem artista maranhense Marcone Moreira, de 23 anos, utiliza para produzir sua obra. Seus trabalhos - construções e junções de planos de materiais e cores - vem sendo comparado por críticos de arte ao de Emmanuel Nassar pelas apropriações semelhantes. Parte destas obras estará na exposição Indícios, que a galeria Lurixs apresenta, a partir de 26 de Fevereiro na primeira individual do artista no Rio de Janeiro. Na mostra estarão 12 obras produzidas em 2004 e 2005 especialmente para a galeria carioca.
“Os trabalhos da exposição são realmente indícios dentro da minha produção, idéias ainda embrionárias, mas cujo resultado já me interessa e satisfaz”, afirma o artista. Nascido no Maranhão, desde a infância Marcone visitava Marabá, no Pará, onde passava férias escolares na casa de um tio. Aos 15 anos, mudou-se definitivamente para a cidade paraense e iniciou suas experimentações artísticas.
“Ao transformar esses restos em coisas novas, Marcone Moreira afirma, ademais, a dupla importância que o lugar onde vive – a cidade de Marabá (Pará), bem ao norte do país – possui para sua produção. Por um lado, é desse lugar de intensa movimentação de pessoas e cargas (lá se cruzam dois rios, a rodovia Transamazônica e a ferrovia Carajás) que vem quase todo o material – descarte de coisas que não possuem mais a sua funcionalidade original – que o artista seleciona, secciona, agrupa e resignifica como coisa sua”, escreve o crítico Moacir dos Anjos no texto de apresentação da mostra.
Das doze obras que estarão na Lurixs, seis são composições em madeira pintada e as outras apresentam materiais diversos. Referindo-se à técnica utilizada pelo artista, Moacir dos Anjos afirma que “embora as formas pintadas pudessem, em tese, ter sido todas criadas pelo artista, o exame cuidadoso de suas superfícies expõe os sinais (tinta descascada, buracos de prego e parafuso, sobras de ferragem, recortes conhecidos) de que foram outras mãos que de fato montaram e pintaram, há um tempo variável e incerto, aquilo que apresenta como seus trabalhos. Em vez da pintura, portanto, são procedimentos de apropriação e justaposição de objetos ou de partes deles (ainda que a partir de um olhar carregado de interesse sobre o que está neles pintado ou tingido) que orientam sua prática criativa”.
Na obra de Marcone é constante a presença de fragmentos reutilizados, detritos que organizados, porém, com delicado rigor estético, apresentam um instigante contraponto com a natureza bruta de seus materiais. “Os trabalhos de Marcone Moreira sugerem, desde o primeiro contato com eles travado, o cruzamento de referências distintas. Para alguns, talvez chame mais a atenção os vários planos que o artista constrói, sobre superfícies diversas, por meio do avizinhamento de um conjunto reduzido de cores. Para outros, é possível que despertem mais interesse os materiais toscos (quase sempre madeira gasta, às vezes também nylon, papelão ou ferro) e as formas variadas dos suportes desses campos cromáticos, tecendo incertezas sobre a natureza do que apresenta preso à parede ou apoiado sobre o piso. Ao observador culto, pode também parecer que há, na conformação geométrica das formas pintadas, uma filiação à tradição construtivista brasileira, a qual ainda ecoa, de maneiras variadas, em parcela significativa da produção visual contemporânea do país.”
O jovem artista, de apenas 23 anos, já possui um importante currículo que inclui individuais em São Paulo (na Galeria Virgílio) e Belém (Galeria Graça Landeira), a participação na exposição Panorama da Arte Brasileira exibida no MAM de São Paulo, Paço Imperial no Rio de Janeiro e atualmente no Museu de Arte Contemporânea de Vigo, na Espanha. Marcone também participou em 2002 do Faxinal das Artes, programa de residência para artistas contemporâneos que teve curadoria de Agnaldo Farias, em Curitiba, no Paraná e acaba de ser contemplado com a Bolsa Pampulha, programa oferecido pelo governo do estado de Minas Gerais a jovens artistas. Sua produção, no entanto permanece bastante vinculada ao local de moradia do artista, Marabá.

Rio de Janeiro


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