| Manuela São Simão |

"no man is an island"
"No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main."
Meditation XVII by John Donne

A obra de Manuela São Simão (São Paulo, 1980) comunica através de abordagens metafóricas, cruzando a vida e a arte em propostas de reflexão sobre a contemporaneidade. O carácter reflexivo de "No man is an Island" impõe-se como uma parábola, desafiando a posição do espectador, convidando- -o a participar enquanto "ouvinte" e/ou leitor.
A aparente simplicidade da obra de Manuela São Simão torna-se incómoda porque questiona a postura competitiva e individualista repetidamente incentivada na sociedade ocidental. Num momento em que a Arte e os discursos sobre a Arte parecem ser a matéria-prima por excelência da produção artística, Manuela São Simão afasta-se para observar, afasta-se para reflectir, afasta-se para procurar outras saídas para o seu trabalho. Particularmente interessada no mundo da metafísica/espiritualidade, a sua pesquisa levou-a à obra de John Donne, o poeta jacobino inglês, do século XVII, conhecido pelos seus poemas de natureza tendencialmente religiosa, apelando à fraternidade entre os homens. Porém, desengane-se quem interpretar "No man is an Island" como um sermão datado para um futuro já comprometido. A presente mostra surge de um processo de auto-conhecimento, de um acumular de experiências que se tornam modus operandi de uma existência. "No man is an Island" propõe uma conclusão, afinal, temporária para uma busca incessante. Uma conclusão pessoal que se apresenta como uma interrogação para o espectador.
"No man is an Island" divide-se entre obra gráfica, escultórica e performativa. A linearidade dos desenhos apresentados remete-nos para o campo da ilustração. Por seu lado, a instalação "Sharing", através de duas cadeiras evoca, afinal, a possível presença de dois corpos, propondo o diálogo. Assim, os constituintes de uma narrativa - personagem, cenário e acção - começam a tomar forma. Forma esta que se completa na performance inaugural entitulada "Sharing".
Para a artista é ainda importante que se perceba o carácter site-specific de "No Man is an Island".
As particularidades do espaço de apresentação - as suas dimensões exíguas e os limites bem demarcados - foram, em parte, responsáveis pelo retomar das interrogações que estão na base da exposição, sendo eles próprios apropriados como parte da metáfora desenvolvida.
Dividida entre a cultura portuguesa e a cultura Brasileira, Manuela São Simão tem vindo a desenvolver um conjunto de projectos que revelam interesses remanescentes da procura de um vínculo entre vida e arte, postura característica de um proeminente grupo de artistas brasileiros da década de 1950, o Grupo Frente, liderado por Lygia Clark. Manuela São Simão assume um compromisso com uma prática que retoma a exploração dos limites entre vida quotidiana e objecto artístico.
Vera Carmo (artista e curadora)

Manuela São Simão nasceu em São Paulo (Brasil) em 1980. Com 5 anos vai para Portugal onde, em 2002, termina a formação em pintura na Faculdade de Belas Artes do Porto. Em Erasmus faz uma passagem pela National Academy of Art de Sofia (Bulgária), onde a mudança e o confronto com países de leste de territórios e mentalidades bastante fechadas (pré-adesão à União Europeia) inspiram um trabalho visual e conceptual que até hoje aborda as fronteiras físicas e limites territorias e sua relação com as fronteiras psicológicas - séries: "Boundaries_Espaço-Caixa", "Fronteiras e Enquandramentos", "Boxed Cities", "Invóluvros", "Handle With Love", etc.
Como artista multidisciplinar, além das artes plásticas tem vindo a complementar a sua formação e a apresentar projectos em áreas como a Ilustração, a performance, projectos de arte intermedia, arte pública, sound art e curadoria.
Desde 2008 tem desenvolvido projectos intermedia em colaboração com outros artistas visuais, performers e músicos.De entre alguns dos projectos que tem vindo a apresentar destacam-se: "Gibberish" no Festival Silêncio em Lisboa no Goethe Institut, "Transhumance.Porto" no Future Places Festival, "MajHora FM" no Serralves em Festa no Porto e "Gibberish.Porto" no TRAMA Festival de Artes Performativas.
É autora das ilustrações do livro infantil "Conto da Travessa das Musas", escrito por João Pedro Mésseder e publicado em 2010 pela Deriva Editores (Porto) e tem vindo a orientar diversos workshops para crianças em escolas, galerias, Museus, Bibliotecas em Portugal mas também recentemente no Barbican Centre, em Londres, onde mora desde Fevereiro deste ano. Como curadora já organizou exposições colectivas e projectos sonoros. Está no momento a preparar a segunda edição do projecto [IN BETWEEN] radio pieces a ser apresentado durante o Festival Internacional de Arte Rádio Radia LX 2012, organizado pela Rádio Zero da qual é membro desde 2009.

Rio de Janeiro 2012


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©Alexandros Papadopoulos Evremidis = escritor crítico > Email
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