| "Passante" by Luciano Zanette |

Efêmeros/Passantes

Ao observarmos a obra Passante detém-nos a transposição que aplica sobre o espaço expositivo. Algo peculiar está na lógica desse ato que surpreende o olhar antes mesmo de alcançar nossa consciência.
Saindo da vitrine e seguindo para o calçamento, suas linhas de madeira crua se erguem frente ao vidro e desenham um novo horizonte que se contrapõe ao declive estrutural que fica no interior da vitrine. Sendo peça única possui também o desejo de ter outro lado, outra possibilidade que se arrasta sorrateira e desenvolve um novo gesto: se deixa verdadeiramente exposta ao público e às intempéries.
Como um animal que se estica pelas grades de sua jaula em um zoológico, Passante cruza os limites do cubo branco e se entrega ao afago direto do espectador, do eventual contato físico, e também da chuva, do calor, do frio, da solidão.
Diante da impossibilidade de mudar o lugar do contexto Luciano Zanette intenta mudar o contexto do lugar. Traz ao convívio dos que por ali transitam a presença viva de sua obra. Não mais um lugar privilegiado da visão, a vitrine passa também a interagir com o caminho de passagem. Justamente a reconstrução de uma nova situação espacial proposta pelo artista nos leva a pensar sobre o que propunha Thierry de Duve quanto aos aspectos de uma arte específica para um lugar em seu célebre texto Ex-Situ de 1989. Pautado em três categorias, lugar, espaço e escala, de Duve alega que a recriação do site pelo artista pressupõe a retirada de uma delas para que em efeito inverso seu trabalho ganhe nova potência, nova dinâmica. Em Passante encontramos então uma nova postura quanto ao espaço de referência da vitrine que é expandida para além dos domínios de contenção da obra de arte.
O que é percebido e vivido no projeto apresentado é a transformação da realidade estabelecida. A densidade simbólica de um “passante” a outro é o que aproxima conhecimentos diferentes e diferenciados pela própria condição transitória de seus corpos (diga-se, daquele que passa). A vitrine é efêmera tanto quanto seus observadores. Nada é o mesmo, tudo se modifica. E não há volta. Entender que o Passante é provido de uma carga artística que supera a latência implícita de suas partes em madeira passíveis de ser um apoio a quem caminha ao seu lado é possuir um saber que compreende arte. Tal possibilidade é antes ponto de partida para desvelar cegueiras que condição no trabalho de Zanette. Todo o planejamento do artista para a execução de sua peça nos mostra uma atitude que procura conceber o espaço da vitrine permeando representações características de sua própria gênese desde seu Mobiliário Melancólico.
Contudo, qualquer que seja nosso desejo em revelar de imediato o que ali está exposto torna-se frustrante uma vez que a única certeza que temos de palpável é o devir da obra, é o que ela ainda nos dirá quando quietos e compassivos pensarmos que talvez houvesse outra intenção, quem sabe menos retórica e mais intuitiva, de despojar a arte da razão e entregá-la de bom grado ao consumo de olhos ligeiros que guardarão na memória uma passagem, um passante, um passado.
Osvaldo Carvalho - Niterói, 2010
Rio de janeiro 2010


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