"PINTURAS", de Liliane Dardot
O mistério da vida

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

Liliane Dardot não atribui nomes nem ao conjunto nem às partes; nem mesmo o de praxe - "sem_título". Diz apenas que são pinturas à base de acrílica, sílica e pigmentos. Tudo bem, embora para o leigo possa parecer filho pagão, por não nomeado, isso, aqui, é facultado à artista, em função própria da natureza ideológica do seu fazer artístico - sem concessões e muito menos capitulações. Ela não se submete ao temporal e não se deixa levar pela corrente, mesmo não desconhecendo os imperativos e a dinâmica de um e de outro, os trabalhos e as horas entretecidos. Pelo contrário, ela se agiganta e monumentaliza seu labor, cria o paradigma da permanência, do que não é transitório.
De fato, suas telas, hiperdimensionadas, fazem parecer acanhada a tríplice galeria da Casa Laura Alvim - tal o seu impacto espacial. Encontrariam situação ideal em generosos espaços públicos e à vista de todos quantos gostam de arte (e há quem não goste?). Isso, sem falar no emocional que de imediato nos subjuga e apazigua, tal a simétrica sincronia das cores em sintonia pelas quais se deixou dominar e guiar - todas consangüíneas ou afins e variantes do cálido sobre o húmido, copulando em território morno e neutro - reserva mais apropriada e propícia para a criação nunca houve.
Liliane Dardot não é de empunhar pincéis como se armas. Seu procedimento, em verdade, um rigoroso processo, é o da delicada manipulação com vistas ao amoroso final - desenha, transfere, mistura a sílica e os pigmentos e cobre o plano, adequando a refinada textura táctil ao objetivo, como se natural acolchoado fosse, um canteiro afofado e umedecido, devidamente acariciado, pronto para receber quem de direito, que, ela sabe, a seu tempo virá. Sim, sim, estamos falando da rede que a artista, qual aracné em estado interessante, laboriosa e elegantemente, tece, não para aprisionar as eventuais vítimas, mas para, em segurança, acomodar e aninhar sua cria. Aquela, a geratriz, esta, a criação. Só que Dardot não usa fios; para preparar seu estrado/habitat, ela se serve de minerais e vegetais - folhas, galhos, raízes, árvores, florestas inteiras, que nos remetem à arqueologia da natureza, configurada em sedimentações geológicas pigmentadas.
Pronto o berçário e chegada a hora, Dardot intervém e com literal brilhantismo apõe suas entranhas na forma de estranhas e insinuantes figuras, sintomaticamente, alongadas aqui, arredondadas ali, envolvendo e entrelaçando-se umas com as outras, num lírico balllet sinfônico de acasalamento. Não são entidades óbvias e reconhecíveis do mundo objetivo, e nem é isso o que aqui importa, mas as evocações que em nós despertam e estimulam, cor e forma, no formato que a grandeza do tema exige. Está bem, é inata no homem a curiosidade do que é do para que serve - digamos que, numa das possíveis subjetivadas leituras, divisamos formas amebianas, ginecéus e androcéus, esporângios, úteros, ...; sementes, casulos, frutos, fitos e fetos; guardiões do secreto e sacralizado mistério da natureza, do viver, da morte e do renascimento; ancestrais mitos do espermático Chronos e da diuturna Perséfone, clara luz e sombria sombra. Tudo e todos conspirando para que, no instante exato do "turning point", a vida rompa a casca, destrua o mundo, nasça e faça nascer o novo mundo. Para que serve? Para ver estrelas e ouvir sininhos, suspirar e gemer em orgásmica apoteose.
O artista não vai à obra de cabeça oca; carrega junto, e descarrega na tela, o que sente e o que pensa, o que faz e o que fez. A mão, que segura o pincel ou o que quer que seja, é apenas a extensão de suas emoções e de sua cosmovisão, da vontade de tomar parte do caos e ordená-la, confortar e embelezar nossas instáveis vidas. E nesse sentido, Liliane Dardot é uma semeadora de longa data e disto e daquilo, prenhe de maturidade e experiência, emissora de mensagens relativas à criação, latu e strictu sensu (sic), e destinadas a tanger as consciências e as sensibilidades em seu cerne mais oculto e íntimo. Sim, disso ela entende em profusão - ensinou/semeou artes por extensos períodos em tábulas rasas e fez cabeças com teorias estéticas e com a mão literalmente na massa pictórica que resulta em encantos inncontestes. E mais - com suas pinturas consegue o prodígio de agradar gregos e troianos - a quem nada conhece da arte, mas sabe o que é bom e do que gosta, e ao versado que, "pour cause", não tem como não delirar. Farta será a colheira!

Rio de janeiro 2002.

©Alexandros Papadopoulos Evremidis > escritor crítico > E-mail


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