| Lena Bergstein |
Carioca radicada em São Paulo, apresenta quinze trabalhos inéditos – pinturas, “livros” e cadernos de anotações – produzidos desde 2010 até hoje, e feitos especialmente para esta mostra.
Com curadoria de Luiz Camillo Osorio, a exposição apresenta a mais nova produção da artista, cuja poética é centrada nas questões da escrita, do espaçamento, do livro e das relações entre o texto e a pintura. “Me interessa a relação entre a letra e a visualidade, que é uma pesquisa antiga de Lena Bergstein. Conheci seu trabalho através de sua interferência no livro do Derrida sobre Artaud, que acho muito bonito. Estas contaminações das artes visuais me interessam. Fizemos a homenagem ao Cage, a exposição da Laura Erber, e do escultor Rui Chafes”, diz Camillo Osorio. “No caso de Lena Bergstein, a investigação plástica atuando na fronteira da pintura e da escrita, da cor e da página, do tempo e do espaço, vem acontecendo já desde algum tempo e ela traz ao museu uma parte significativa e concentrada deste trabalho”, observa.
Lena Bergstein morou dois anos em Paris, onde participou dos seminários de Jacques Derrida, e ganhou o Prêmio Jabuti pela melhor produção editorial de 1999 com o livro “Enlouquecer o Subjétil”, criado em parceria com o filósofo.
Na mostra, a artista apresentará sete “livros de artista”, que são livros, que medem aproximadamente 50cm x 50cm, com dez páginas em média cada um. As páginas são feitas de telas – um deles em papel. Nessas “páginas”, a artista faz pinturas em tinta acrílica e insere pequenos textos. Na exposição, os livros poderão ser manuseados pelo público.
Os textos dos livros são inspirados no livro “Amor, o que é, como se faz”, do filósofo francês Jean-Luc Nancy (Bordeaux, 1940). Nas obras, Lena insere frases do livro e também dela própria, mesclando pensamentos dela e dele sobre o amor. “O livro para um artista é uma obra múltipla, aberta, inacabada, imagem e texto com suas formas móveis, com seus ritmos, seus espaços, onde afetos e sentimentos são levados de página em página, de uma folha para outra. As linhas se interrompem, a escrita sussurra, fala por fragmentos, por meias palavras, compõe frases, espaços, planos, riscos, numa certa ilegibilidade, onde cada página difere da outra, onde há em cada uma o desejo de se elevar à potência de uma noite de astros”, diz a artista.
Luiz Camillo Osorio afirma que “estes trabalhos nos fazem perceber um gesto que busca retomar a expressão simbólica anterior à linguagem codificada. O olhar hesita, desacelera-se e se deixa conduzir pelo virar das páginas, por um olho que vê tocando e por uma mão que toca vendo. Neste aspecto, voltamos à experiência ancestral da escrita em uma época marcada pela aceleração tecnológica. A arte é capaz de nos pôr diante de outras temporalidades que ficam esquecidas e reaparecem”.
Os “livros de artistas” fazem parte de uma pesquisa iniciada pela artista nos anos 1990. Para ela, o livro passa a ser “um objeto plástico”. “Sempre trabalhei com a escrita, a palavra e o texto também de uma maneira plástica. É um texto que se relaciona com o espaço da página”, afirma a artista.
PINTURAS
Farão parte da exposição, ainda, cerca de seis pinturas das séries “Pequena conferência sobre o amor” e “Fragmentos estéticos”, feitas em tinta acrílica sobre tela, em grande formato, com tamanhos que chegam a 1,50m X 2m. As obras têm nomes poéticos como “Distância do Sussurro”, e foram produzidas entre 2011 e 2013.
Em comum, os trabalhos possuem um tom forte e marcante de azul e todos estão relacionados ao tema amor. “O amor é um sentimento azul. Um azul de Walter Benjamin, de um horizonte sempre possível, azul do painel do livro de Ester, meu ultimo trabalho”, explica a artista. “O azul é a tônica da exposição. Um azul profundo, opaco, que transita do olhar para a imaginação. Seja na tela, seja nas páginas dos seus livros-objetos, a cor e o gesto integram-se em uma escrita visual toda ela projetada para a origem do sentido. É como se nos víssemos diante de um grafismo atemporal, com manchas que parecem ter se fixado nas páginas e nas telas com a naturalidade do limo que nasce na superfície das pedras umedecidas”, ressalta o curador Luiz Camillo Osorio.
O trabalho de Lena Bergstein sempre foi marcado por uma forte influência geométrica, de artistas como Paul Klee (Suiça, 1879-1940). Formas como triângulos e quadrados, aparecem na obra da artista há bastante tempo. Nos trabalhos desta exposição, essas figuras brotam do fundo azul, realçando-o ainda mais. “Em sua arte, a iconografia mostra a importância da imagem visual como um operador de sensações e de afetos. Nos trabalhos da artista, aponta-se para o sentido por meio de um gesto que nada demonstra e nada clarifica. Manchas e triângulos suspendem as falas. Persiste uma obscuridade própria a nossa existência corporal no mundo. Não um ideal, mesmo não acessível, de transparência, mas o desejo de pensar sem conceito nem objetivo essa obscuridade, irmã gêmea das iluminações que Lena promete e provoca”, escreve o crítico de arte Rogério Luz no texto do folder que acompanha a exposição.
A mostra terá, ainda, cadernos de anotações da artista, onde o público poderá conhecer o processo de trabalho de Lena Bergstein. Neles, há desenhos, anotações e também a matriz que ela utiliza para fazer monotipias. “Tento criar não apenas uma prática específica, mas um mundo de relações e de diálogos, de intercâmbios. E são essas inscrições que vão marcar o corpo da pintura e mostrar a densidade desse corpo, criando várias camadas de significação e de sentido”, diz.

Rio de Janeiro 2013


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