| Kharmen Castro |
Luz No Fim do Túnel?

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

- Por que Kharmen com h?
-Porque fica mais bonito esteticamente e também porque assim são 7 letras, meu número de sorte, que com as 6 do sobrenome, dá 13, meu preferido. Eu sou muito mística, sabe? - diz Castro em tom confidencial como se fosse uma credencial.
Credencial de que ou para quê?! Eu não entendi bem esse diferencial estético privativo e muito menos sua cabalística discrissionária, mas ... cada um cada um. Pelo visto, muitos artistas não são imunes a mistificações. Talvez o título da mais recente exposição de Castro "Um olhar para o infinito", no Conjunto Cultural da Caixa, no Rio de Janeiro, explique ou clarifique.
A expô é composta de 16 óleos de respeitáveis dimensões. Quinze são de 2001 e uma - sugestivamente chamada "Nave Mater" - de 1996. Será esta a nos guiar até o limiar do infinito, levando-nos a travar conhecimento íntimo com a luz do sol, o infinito, a velocidade, a vibração, a fuga, a passagem, o esplendor, o labirinto e finalmente os acordes que, a partir de uma plataforma - uma janela, um portal, a desembocadura de um túnel no tempo-espaço -, nos confrontarão com a luminosidade e a esperança reinantes nos campos elíseos - símbolo da saída e da pacificação, da plenitude?
De fato, em todas as pínturas de Castro há dois planos e dois conjuntos de coloração bem distintos - um próximo e imediato, feito de complexas estruturas minerais, uma espécie de tecido ou uma teia toscos, armações e armadilhas, que se nos afiguram como a materialização de uma civilização fria, opressora, tecnocrata, estressante e sobretudo instável, já que aqui e ali, peças frouxas, soltas, desgarradas ou retorcidas (insinuando uma virtual passagem para a fuga), e arquitetura intrincada e aleatória nos levam à tomada de consciência de sua falta de sentido e de sua acentuada precariedade, de seu iminente colapso; e há aquele outro plano distante, quase inatingível de tão misterioso, um vasto e infinito espaço celestial banhado em claridade, predominantemente em amarelo, amarelo-laranja, amarelo-ouro e suas nuances orientais, que ora apenas divisamos insinuante e ora nos invade e impacta, impressiona favoravelmente e nos enche de otimismo e exultante exaltação. Embora um sol se nos anteponha desafiadoramente em dado momento, em hipótese alguma estamos indo ao encontro do holocausto e muito menos do "heliocausto"! Castro nos protege e preserva esmaecendo e suavizando seu poder de fogo e de aniquilamento atômico. Resta-nos a opção da centelha da vida em franca e infinita expansão - coisas do universo.
Sem dúvida alguma, os trabalhos de Castro são razoavelmente elaborados e resolvidos do ponto de vista técnico. E são também bastante felizes na escolha e composição das cores e das estruturas formais. Eles nos cativam à primeira vista e sem meias palavras nos transportam para áreas obtusas de nossa sensibilidade, emaranhada e condenada às trevas. Sim, porque na verdade, a viagem é de mão e sentido duplos - para o cosmos circundante e, principalmente, para o cosmos interior, psicológico, a remexer no lodo e nos pântanos daquilo de que o homem é feito ou se deixou fazer. E é exatamente nesse impasse que nos encontramos e somos por Kharmen estimulados a refletir, a sem medo empreender a onírica e libertária aventura em direção ao encontro de nós mesmos, aqui e além da linha do universo.
Com quase absoluta certeza, antevê-se que à medida que Kharmen amadurecer e aprofundar cada vez mais sua arte e seu ofício, aperfeiçoando as soluções formais e materiais, e as prioritariamente estéticas, desfará a injusta, traiçoeira e enganosa impressão de ilustração a que por momentos somos tentados a resvalar. Encontrando-se a si, ela terá encontrado sua arte. Plena e pour cause livre. Destaque especial para os quadros "Luz do sol", "Velocidade" e particularmente para a obra-prima "Passagem". Pois que se abram as passagens que Castro passará deixando luminoso e indelével rastro.

Rio de Janeiro 2001


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