| Juarez Penna | Caminho da Luz |
Senhor de muitas artes
ou Paixão em movimento!

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

Fala-se muito em dissociar a pessoa do artista e sua vida privada da obra que ele produz. Nonsense oco e falaz; e logo diremos por quê: o artista, quando vai para a obra, não vai de mãos vazias. E esse é exatamente o caso do Juarez. Ele leva e entrega, doa tudo que é seu, hereditário ou adquirido - na família, na escola, no ambiente, na sociedade. Assim, vão com ele, e passam para a criação, seus instintos, emoções, sentimentos, esperanças, anseios, medos, angústias, pesadelos e terrores noturnos. Traumas e acidentes. Sonhos e fantasias. Pesadelos. E nesse sentido podemos perfeitamente afirmar que a obra do artista é o seu mais compreensivo, abrangente e cabal autorretrato. E há mais - se na relação pessoal e diária nós temos dele a "persona", em suas criações nós vemos sua ânima, seu id, seu ego, um pouco além, e mais íntimo, sua "gestalt".

Estou fazendo esse preâmbulo para, mais do que no caso de outros, falar antes do homem do que do artista e do impacto emocional e estético que ele causa sobre uns e outros. A palavra "homem" nem é tão apropriada para se falar de Juarez Penna. Examine bem, aqui no alto, essa imagem dele e no ato saberá o que desejo expressar - trata-se de um desses raros fenômenos de absoluta desimportância do tempo e de sua passagem. Parece até que ele cresceu, chegou à adolescência e, qual um Peter Pan extemporâneo, achou bom e parou! Não no sentido da recusa de seguir o curso dos acontecimentos e aceitar suas marcas, mas para aprofundar e, se possível, esgotar a avalanche do que, não essa idade, mas esse estado de espírito lhe proporciona e o abastece em termos de energia, vigor, espontaneidade, descomprometimento, disponibilidade para a aventura, de salto no escuro, paixão, movimento, criatividade... inúmeros os atributos. A libido, enfim, que move a criatividade.

Conhecia o retrato. E foi ele um dos instigantes motivos que me moveram para a ida à sua exposição - conhecer o segredo da radiante felicidade de perto. O outro motivo foi a foto da obra "Movimento", que, por algum mistério, a ondulada dinâmica? que, agora penso ter descoberto, é o "auto-retrato" de sua psiqué e sempre a ele me remeterá. E uma vez lá, na Galeria do Forte de Copacabana, onde a mostra acontecia, tudo foi confirmado, e com excesso. A alegria de sua expressão corporal e facial é sintomática e reveladora. Juarez é daquela estirpe de pessoas que falam com o corpo todo e riem com o resto inteiro. Ele se movimenta e se inclina para as ordenadas e as diagonais, como se jovem árvore ao sabor de suaves ventos; ou então balança como se em dança, um pas-de-deux de dois pés.

As mãos, seu valioso instrumental de trabalho em ambas as artes (e logo saberá o porquê de "ambas"), são um capítulo extenso de delicadeza e elegância, absolutamente ágeis e a um tempo ritualísticos. A voz, sincopada, rítmica e sensual, preenche nossos vazios e nos envolve, acariciando-nos. O sorriso aberto e franco não lhe sai da boca, e os olhos, "olhinhos infantis", sapecas e travessos, em lenta porém constante rotação, perscrutam, observam, analisam e irradiam simpatia, acolhimento e afetividade. Ágeis, ora contornam e ora enquadram, sempre buscando ângulos significativos e perspectivas de aprofundamento. São todos entrega e aceitação, comunicação. Os convidados da exposição, na maioria mulheres, o que não é de se estranhar, já que elas têm faro agudo e sensível para a beleza, parecem abelhas atraídas e se encantam com as obras. Juarez é um pintor querido e isso não é um mero acaso. Ele cria sua lenda como cria suas obras, com devoção total. Parece, e é! um artista feliz.

Juarez faz mais. Subitamente pinça alguém (e este crítico também foi um dos que), o põe sentado na cadeira de cabeleireiro (está tudo ficando mais claro agora?) e começa a criar. Mete uma mão nos cabelos da pessoa, asperge água com a outra, amassa e "trabalha" como se argila fosse, afofa, alisa, estica, pega a tesoura, corta aqui, desbasta ali, monta o penteado em segundos e logo examina a forma, o volume, o brilho, a textura, a cor. Veja que estranha e mágica coincidência - essas últimas palavras são todas comuns à terminologia do domínio artístico, propriamente dito, e do domínio da arte viva e aplicada em suportes vivos. E de mais a mais, "fazer a cabeça", além da umbanda e da psicanálise, é também um jargão dos cabeleireiros. E tanto pode significar o lado físico do penteado como o lado da elevação espiritual, corolário da beleza.

Mas Juarez não para aí. Terminado o corte, carinhosamente junta os pelos caídos ao redor da cadeira e hieraticamente os deposita numa sacola (urna funerária?) pendurada na parede para posterior fazer artístico - serão tema e meio de uma instalação, o que evidencia suas inquietações com a reciclagem e a ecologia, a preservação. Tanto assim, que ele já tem expostas ali criações feitas de cabelos e que resultaram em bolsas, buquês, leiteiras e outros objetos de arte aplicada, sem falar em suas garrafas pet recheadas de pelos e retorcidas em estranhas e significativas formas, o que denuncia um pé na escultura. E por falar em estranho, até um sapato está inserido num quadro juntamente com potes, tampas e outros materiais descartáveis - "lixos" para uns, matéria prima para os espíritos criativos como Juarez. Afinal, nada se perde, nada se cria, Lavoisier dizia, tudo se transforma em arte, nas mãos do Juarez. Coisa aliás que o genial artista alemão Kurt Schwitters já nos idos dos anos 20 do século XX sabia e pontuava - é uma arte reunir objetos não-artísticos e conferir-lhes organização, uso e finalidade artística.

Surpresa e estranhamento? Perplexidade? Também esses são atributos da arte. Juarez é portanto um artista-cabeleireiro, e não o inverso, já que a arte ele começou ainda criancinha, quando comia a crosta do pão e usava o miolo para modelar animais e objetos. Autodidata, sucessivas pesquisas e experimentos levaram-no ao uso dos mais variados materiais e suportes e à produção de pinturas figurativas. Mas logo, ele esgotaria essa já esgotada fase e partiria para a abstração e a liberdade que ela representa. Obsessivo estudioso, como é, conhece Pollock e sua técnica denominada action painting, que, a partir de certo momento e determinados impasses, simplesmente dispensou toda a parafernália de cavaletes, pincéis, paletas etc. e a simplesmente esticar a tela no chão e nela pingar ou derramar tintas ao sabor de suas emoções que comandavam seus gestos - elemento essencialíssimo nessa modalidade. E foi além - numa abordagem de contato físico, direto e imediato com a obra, de tal forma sensual se debruçava sobre ela, que sugeria uma posse, um intercurso amorosso, sexual.

É apenas parcialmente similar a orientação de Juarez que, entretanto, não se limita a tomar empréstimos ou prestar homenagens (copiar ou se apropriar, nem pensar, salvo se para melhorar!). De fato, orgulhoso e persistente, ele emula no sentido de fazer, no mínimo, tão bem, e melhor. Assim ele foi criando seu próprio idioma pictórico e, mais, personalizou-o e adaptou-o à sua identidade brasileira. Ao invés das frequentemente desoladas não-cores de Pollock, na verdade tonalidades e variantes de marrom, ele esbanja seu espectro tropical, altamente colorido, e transmite a alegria e a exuberância, o calor - uma festa para os olhos e para o coração. Dinâmico como Juarez é, seus traçados ora seguem linhas sinuosas e ora explodem na tela. E as cores, ora sobrepõem-se umas às outras, criando camadas sucessivas, e ora entrecruzam-se num emaranhado muito bem amarrado, urdido, mas sempre deixando momentos e espaços monocromáticos ou até mesmo vazios, como se para a tela respirar e permitir o trânsito livre do olhar sem riscos de saturação.
Mal acabou de inaugurar a presente exposição, "Caminho de luz", Juarez já pensa na próxima que, pelo que me confidenciou, será ainda mais impactante, senão chocante, a ponto de criar arrepios e convulsões titânicas. Épatez les bourgeois?! E mais (compromisso firmado) não posso revelar. É esperar para ver. Eu quero estar lá!

Na realidade, Juarez Penna é mestre de 3+ artes, conforme explicitado a seguir.

Rio de Janeiro 2003

©Alexandros Papadopoulos Evremidis > escritor crítico > E-mail


Esteta dos mais sensíveis, pela própria natureza, paralelamente à atividade de artista plástico multitalento, Juarez Penna também cria esculturas; objetos; faz performances; compõe, escreve, toca e canta; dirige e interpreta filmes curtas-metragens, assistido por sua filha adolescente Carol (primogênita, de quatro!) de promissor talento; e ainda mantém um combinado de Salão de Beleza com Galeria de Arte, de nome sugestivo, Art Hair, onde "faz as cabeças (e, diga-se, também os corações :-)", em mais de um sentido. de homens e mulheres, sendo os frequentadores principalmente artistas e público em geral.



Conheça o Salão-Galeria Art Hair...

... e agende uma visita pelos tels. 21 2537-9080 / 2537-8782 / 2286-7482 ou passe direto no endereço do Salão/Galeria: Rua Real Grandeza, 176 (próximo da Rua Voluntários da Pátria), Botafogo, Rio de Janeiro.


Movimento / ast / 100 x 140cm / 2003



Despertar / ast / 121 x 90cm / 2002



Caminho da felicidade / ast / 120 x 100cm / 2002



Vaso de flor / cola, cabelo, globo, arame e fundo de garrafa pet / 2003



Buquê de noiva / cola e cabelo / 2003



Bolsa / cola e cabelo / 2003


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©Alexandros Papadopoulos Evremidis = escritor crítico > Email
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