| José Tannuri - "Vazios" |
Conjuntos habitacionais cheios de vazios...

Alexandros Papadopoulos Evremidis*

Vazios, diz Tannuri e no ato me ocorre que vazios não há, já que tudo, menos o vácuo, repleto de ar se encontra. Mas a metáfora, poderosa em sua significação, transcende a razão pura e logo me subjuga e oprime e, curioso, por instantes, sinto-me deprimido e, daí, também esvaziado.

De fato, as inúmeras caixas de papelão que ele empilhou de modo nada aleatório, pelo contrário, rigorosamente construtivo e arquitetônico, ainda que sugiram um arrasador, porém lógico terremoto, agem como agentes opressores. Sou levado a pensar em alegoria urbana, em cruéis cubos (não brancos) de cimento, em monstruosas pedras angulares, em ferramentas de tortura.

De fato, ao percorrer, esgueirando-me e ainda assim a toda hora esbarrando nas agressivas saliências dos cantos que "espremem e ferem", os escuros e labirínticos corredores "poloneses", os vazios "entre", que não levam a lugar algum, sou dominado pelo medo e pelo pânico, por uma claustrofóbica e imensa solidão. O Minotauro poderá surgir e investir desavisadamente e a qualquer momento.

O curioso que, ao mesmo tempo, a construção de Tannuri me faz rir (nervoso) e remete a algo lúdico, um circo, um parque de diversões, o trem do inferno, só que a pé. Acho graça e "As crianças iam adorar", altifalo sozinho. "Adultos também brincam", repercute uma jovem das sombras, com delicada ironia e injeção de ânimo. "E se machucam, já que não fomos feitos para viver assim", murmuro, "enquanto que as cianças, em sua insinuante pequenez e "imaculada" (?) pureza, escapam ilesas".

A destemida e afirmativa moça ri, eu encontro a saída e, aliviado, plenamente satisfeito e apaziguado, suspiro fundo diante da terrível lucidez ideológica de Tannuri e de sua geométrica caverna - simples na concepção e realização, mas incisiva e profundamente genial na repercussão. Quero voltar lá e me submeter ao delícioso suplício de novo, e de novo brincar de esconde-esconde e esconjurar o medo e o desânimo, o conformismo e a apatia. O artista sinaliza para o humor como vigoroso analgésico para sobreviver aos males da civilização. (Não posso esquecer de levar as crianças para vaciná-las).

Rio de Janeiro - Novembro - 2005

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