| Jacqueline Adam - Pinturas |
A etérea visão ...

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

No térreo, encontramos 4 óleos de grandes dimensões de Jacqueline Adam, que, ao primeiro passar dos olhos, nos parecem monocromáticas - em cinza. E no ato nos remetem a um quadro de Friedrich, "Mulher na janela", de 1818, (que tanto inspirou Dali em sua recriação). Ele representa uma mulher a olhar pela janela. O que estará ela vendo? Não sabemos. E Friedrich também não diz, responde apenas com um cinza claro, nebuloso. Talvez, ele só quisesse pintar uma mulher de costas na janela. Talvez... O que nos transmite, porém, é uma intensa melancolia, um mistério, o desconhecido. Será aleatória a presença de uma insinuante cruz na folha superior da janela? Friedrich, privava da amizade de poetas românticos como Novalis, Göthe e outros, que, embora não obrigatoriamente, sofriam o "weltschmerz", a dor do mundo, que acabou por matá-lo de tristeza.

Dissemos que não sabíamos o que a mulher na janela tanto olha e o que ela vê. Agora, graças a Adam, sabemos! Como que complementando a obra de Friedrich, ela pinta o outro lado da janela, o objeto de seus devaneios, de sua solidão. Mas como, se as telas de Adam são monocromáticas? Não são, apenas parecem. Um segundo olhar, mais detido, e, numa interatividade com a luz incidental, nos tornamos prisioneiros de sua arte. Sim, porque aquele tal cinza, na verdade, é uma bruma que, qual uma cortina ou peça transparente do vestuário feminino, mais que esconde, revela. Como se ali, diante de nossos atônitos olhos, uma reação química se operasse, tornando menos densa a bruma, primeiro plano, e assim fazendo transparecer o além - descortinando as paisagens oníricas de Adam: um rio, um lago, um mar; montanhas, eventualmente, florestas inteiras e o que mais queiramos ver, cada qual com sua coloração sutil e insinuante. A cada olhar, novas, e gratas, supresas.

Isso, porque suas paisagens são utópicas, ou seja, não pertencem ao mundo do real, mas das imaginação - diáfanas e silenciosas. E no entanto, parecem tão reais, tão desejáveis, ali, ao nosso alcance, bastando para isso sermos ousados e destemidos e atravessarmos a janela, quero dizer, a névoa, para nos banharmos na luz dos elíseos.
A referência a Friedrich, é obviamente apenas analógica, já que a abordagem que Adam faz das paisagens é altamente proprietária, original e pessoal. Não há uma preocupação em detalhar as características naturalistas de seu tema, mas, sim, criá-las como idéia em seu âmago e dotá-las de existência, conferindo-lhes sua visão intimista, quase mística, sem ser religiosa, strictu sensu. Claro, subjacentes estão a tristeza e a melancolia, subjugadas e sublimadas por uma saudade lirica, reflexo da parsonalidade luminosa da artista. E nesse sentido, juntamente, com Adam, somos, todos nós, a mulher na janela, absortos a contemplar o campo dos sonhos - uma experiência humana, única e inalienável!

Rio de Janeiro 2002.

©Alexandros Papadopoulos Evremidis > escritor crítico > Email


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