"Ad infinitum", de Jac Leirner.
Et pluribus in unum!

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

Durante os últimos 15 anos, enquanto a vida com seus sustos e atropelos passava e aos brasileiros inquietava e estressava, Leirner, vigilante, varava as insones madrugadas, meditando. Com a sensibilidade à flor da pele e a mente aberta, ela buscava arrancar significados das coisas do cotidiano - na vida pessoal e social e no fazer artístico.

E para esse objetivo, tal qual uma laboriosa e incansável formiga, ela se debruçou sobre sua vida interior e exterior e se entregou ao estudo e à pesquisa de tudo quanto de uma forma ou outra, para o bem ou para o mal, a seduziu ou perturbou, angustiou e desestabilizou; tudo que em seu inocente psiquismo travou uma luta de atração e repulsa, mais, de amor e ódio: o ecologicamente incorreto e desgraçado vício de fumar cigarros, e seu corolário, o cinzeiro, a denegrir-lhe os pulmões; o enganoso, por psicologicamente compensatório, e inapelável canto das sereias e seus apelos de consumo com suas logomarcas, slogans e sacolas; os sem-conta cartões de visitas que lhe foram impostos, com os mais escusos e obscuros propósitos e propostas, ou oferecidos como semas e senhas de comunicação e contato; as polícromas e utilitárias fitas adesivas, geniais como o ovo de Brunelleschi e indispensáveis como um band-aid - defesa contra as dores da menina em sua ânsia de entender o mundo - recipiente, invólucro e transporte de seres e de coisas racionalmente ininteligíveis; as desvalorizadas cédulas de um dinheiro, sujo economicamente e sujo praticamente, com seus grafismos, que vão de declarações de amor e de ódio a ameaças, palavrões e números de telefones, e seu simbolismo como um imposto, imposto na marra, para depauperar justamente os paupérrimos e deles subtrair o couro; e por aí vai ... E nos leva junto. Com prazer.

Leirner nos surpreende e inquieta, convida a uma reflexão sobre nossos próprios fantasmas e quimeras e obscuros objetos de desejo e de destruição. Para, quem sabe, qual phoenix, renascermos em, e como, matéria e material artísticos. Não por acaso ela exibe cinzeiros - símbolos máximos e metáforas ameaçadoras de uma civilização - a espada de Dámocles a pairar sobre nossas cabeças em sono letárgico e pronta a cair e as decepar. A não ser que acordemos do pesadelo a tempo de reconhecermos os desvios e mudemos de rumo - numa comédia da arte basta inverter o globo e o "norte" vira sul e o mar vira sertão.

E o que ela fez com isso tudo? Jac, que já fazia artes, agora fez Arte - maior e com maiúscula! Com o que juntou, colecionou e arrecadou, cuidadosa, meticulosa, metódica e artisticamente, ela organizou uma exposição arrebatadora de tão contemporânea, que, feliz e apropriadamente, intitulou "Ad Infinitum". Sim, ad infinitum, porque ela podia ter usado apenas um exemplar de cada item e a designação não faria sentido - ela os identificaria e circunscreveria apenas como objetos; na infinita repetição, ela os re-significou no tempo-espaço, ele mesmo sem início e sem fim, diluiu sua função mundana e os recriou do caos elevando-os à categoria de arte, símbolos artísticos da civilização, repita-se, para o bem ou para o mal - neste caso, a autofágica e monstruosa cobra cedular a se arrastar pelo chão - já já ela vai abocanhar o próprio rabo! -, e naquele, a orgia cromática das fitas com que escreve sinfonias concretas, para só se ater nessas.

Rio de Janeiro 2001.

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