"Txakazuê, de Igor Miguel Pereira / Editora Letras Brasileiras

Txakazuê é uma novela policial absurdamente nonsense. A redundância é proposital: o narrador Ganimedes, 32 anos, um imaturo filhinho de papai, aristocrata falido que vive de expedientes escusos e negociatas, abusa do pleonasmo em frases de efeito pseudo-eruditas como recurso para confundir os interlocutores e parecer inteligente.

Ganimedes é um detetive autônomo. Para ele, detetives de verdade trabalham sozinhos, e não com sparrings idiotas como Watson e Hastings – e, se os autores do gênero escrevessem suas histórias na primeira pessoa, saberíamos quanto esses auxiliares irritavam as mentes privilegiadas de Sherlock Holmes e Hercule Poirot. Ganimedes se tem em alta conta…

Por meio de Ganimedes, o autor debocha dos clichês do gênero, desde os clássicos de Agatha Christie e Conan Doyle aos noir de Dashiell Hammet e Raymond Chandler. Um deboche irreverente – Igor Pereira tem apenas 18 anos, e começou a escrever esta novela aos 15, depois de ler A Metamorfose e O Processo, de Kafka. O resultado tem um pouco de O Jardim do Diabo, de Luis Fernando Verissimo, e de O Guia do Mochileiro das Galáxias, de Douglas Adams.

O enredo: Ganimedes é contratado pelo traficante Salamandra para descobrir um hacker que roubou R$ 1 real da conta bancária do tráfico. O hacker também subtrai pequenas quantias a um político e a um cantor romântico, nestes casos invadindo seus sites pessoais e deixando mensagens poéticas contra a sociedade de consumo, os políticos e a música brega.

Com personagens e enredo improváveis, o autor cria situações nas quais aproveita para fazer uma crítica corrosiva dos costumes atuais. Nada escapa de sua ironia: a ética distorcida pelo consumismo e pelo culto às aparências, a estética brega como padrão de comportamento, a promiscuidade entre o crime e as autoridades, a retórica hipócrita dos que pregam moral de cuecas, o fastio de ex-revolucionários confortavelmente acomodados às suas vidas pequeno-burguesas...

Nada faz muito sentido em Txakazuê, corruptela de Txaóykazueil, palavra formada dos radicais Txaóy, oriundo de dialeto tamoio, e kazuel, de dialeto dos bantos de Moçambique, surgida numa comunidade mista de índios e quilombolas, que pode ser uma saudação, uma bênção, um grito de guerra ou um tempero usado no preparo de um peixe, dependendo da entonação. Ou, mais provável, não tem qualquer significado: é apenas outra história inventada por Ganimedes para se exibir…

Jakzam Kaiser


Sobre o autor de Txakazuê
Igor Miguel Pereira tem 18 anos, é natural de Angra dos Reis (RJ), morador de Brasília (DF) desde 2004. Já foi cantor e letrista de bandas que não ensaiam, autor de blogs que ninguém acessava e documentarista de Natais Familiares. Freqüenta a faculdade de Comunicação e Jornalismo da Universidade de Brasília (UnB) e algumas adjacências. Como escritor publica o primeiro romance, Txakazuê, pela editora Letras Brasileiras. Antes mesmo do lançamento o livro já provoca controvérsias e acaloradas discussões a respeito, principalmente, da maneira correta de se pronunciar o título. É torcedor do Botafogo, o que explica muita coisa

Rio de Janeiro 2007.


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