| Guilherme Secchin - "Terra" – Pinturas |
"O mito e o rito da criação do mundo"

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

Obra_de_SecchinNa redação: Quando o convite chegou e olhei para a capa dele - toda ocre com a palavra TERRA estampada em ouro no centro - instantaneamente senti um arrepio daqueles, de cabo a rabo. E, diante da inigualável beleza gráfica do signo/significante e da afetiva carga simbólica do significado, este nosso paciente e amoroso suporte/nave, não resistindo ao pulsante impulso, exclamei: "Que maravilha! Esse rapaz fez aqui uma obra-prima! O máximo no mínimo!".

Acontece que o convite não era postal, era folder. E no que o desdobrei, vi o que paro neste instante para olhar de novo - a criação mesma da TERRA, a Geogonia, portanto. Um delírio que colírio algum, por mais alucinógeno, nos pode (e não pôde, data vênia) causar ou proporcionar.

Corta para a galeria: Depois de algumas idas e vindas, aproximações e afastamentos, gemidos e suspiros diante dos quadros, não me agüentei mais e, avançando impaciente e emocionado sobre dois visitantes, perguntei em voz alta: "Quem é esse rapaz que criou o mundo, vocês o conhecem?"

Houve um instante de suspensão temporal e de congelamento respiratório. Depois, um deles, o de meia idade, se virou lentamente e questionou com sutil e vaidosa ironia: "Rapaz?!"

Senti no ato que era ele. Tanto assim que sem nem confirmar se era mesmo argumentei: "Meu amigo, é preciso ser rapaz para criar o mundo. Um adulto não faria isso. É preciso ter inocência, imaginação, fantasia, vigor, impetus, élan, tesão! Você merece todos os parabéns!" E mais não disse, nem preciso era. Mesmo porque Eros não passa de uma criança.

Da mesma forma agora - não direi mais que poucas palavras que é para não profanar a apolínea criação do artista. Recordarei apenas que "Deus criou o mundo em seis dias e depois foi descansar", que ninguém é de ferro.

Esse, o mito. Na verdade, no princípio, quando, em vista do infinito e do eterno, por definição, incriados, nem Deus, nem Logos, nem princípio havia (e portanto tampouco fim haverá), havia era o Caos, cheio de gases e vapores informes, de brumas, como as de Avalon. Foi quando subitamente surgiu Eros e, personificando-se no Secchin, insuflou-lhe, nele engendrou o irresistível desejo de união entre seus opostos complementares, com tudo que isso implica de geração e criação.

Não é difícil imaginarmos Secchin, como um apaixonado e ardoroso regente, a conclamar todas as forças e todos os poderes, os avatares e os arquétipos, os meios e os materiais e, ora com amorosos olhares e ora com vigorosos gestos, ora adensando e ora rarefazendo as brumas dramaticamente, a conjurá-los e conferir-lhes as formas do Céu e da Terra, sendo esta última a sua mais cândida e gaiata criação. É desde então que tudo no universo anseia por união - dativa ou compartilhada.

E foi assim também que, aos poucos, unindo as ínfimas partículas, configurou as substâncias, os coacervados, as cadeias protéicas, os átomos, as moléculas, as células. E, delicada e imperceptivelmente, a tudo e a todos ele dotou de atributos e de propriedades e levou-os a se acoplarem (copularem), resultando daí oníricas e encantadoras paisagens, florestas, montanhas, rios, mares, seres múltiplos e diversos. É ver para crer. Arte é aretê.

Foto: Marcos Moreira

Rio de Janeiro 2005

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