Gonçalo Ivo - Pinturas e Objetos
"Tora Tora Tora" by Alexandros Papadopoulos Evremidis

"Tora tora tora" é um filme década 70 sobre guerra e, portanto, sobre morte, já que em toda guerra todos morrem [está bem, uns, total e radical, outros parcialmente - chamamos a estes de "sobreviventes" (mutilados no corpo e na alma)]. Mas o que isso tem a ver com a arte de Gonçalo? Tem a ver que também parte das "criaturas" dele mortos e sobreviventes são dessa outra guerra que se trava nas florestas - as árvores sendo eletrocortadas e seus troncos beneficiados para cumprir funcional e construtiva função em edificações, entre outros exemplos. E aí, razões várias, vem a demolição ou o sinistro, e o destino certo da madeira é deteriorar ou virar fogueira de sem-teto. Não fosse Gonçalo, que sensível lança amoroso olhar sobre as toras, agora tocos, sejam sobras de serraria, sejam demolidas, as recolhe, com elas interage e a elas confere artística sobrevida, quem sabe, a eternidade, transformando-os em hieráticos silenciosos totens [do alemão toten, mortos, assim redivivos (e adorados)]. E, de fato, adoráveis são os objetos do artista - alguns in natura color ou chamuscados (tipo, cabeça de nego, e até um de pregos) e outros bela e intensamente pintados com alguma encantadora geometria, no que viram duplos de multifacetada pintura e escultura. E por aí.

Em paralelo, além desse paralelo, Gonçalo também exibe algumas telas de tamanho heróico e uma, extrapolando total, tamanho mítico - quase 6m de largura (o que me leva a devanear que, em críticos tempos, você vai cortando de metro em metro e assim multiplicando, ou seja, o mínimo máximo 1 vira no mínimo 6 máximos - e, diga-se, sem em nada isso diminuir ou desmerecer seu valor e sua mais-valia estética, arte em todo caso). Nessas pinturas, Gonçalo prossegue com o paradigma africano e os rios de sua memória afetiva, ritmica e melodicamente, ora fluem, ora afluem e outro ora confluem, formatando um celeste pentagrama musicocromático que só falta tocar, ressoar e embevecer. Aliás, eu disse ao curador Cocchiarale que naquele pantheon só senti falta do fundo musical contrapontuando com as cromocomposições do Gonçalo, mas ele se eximiu dizendo ser de outra alçada. Ainda é tempo e o público vai gostar de pagar um e levar dois, três, +!


A busca do belo em si e per se.

Há 25 anos Gonçalo Ivo pinta cotidianamente. É nas palhetas, nos pincéis, nas cores, nas paisagens e, principalmente na busca do belo, que o artista encontrou o seu caminho. Para comemorar a data, Gonçalo apresenta novas pinturas com tônica na geometria de rios e catedrais, além de objetos inéditos – na verdade, pequenas esculturas produzidas pela primeira vez pelo artista com pedaços de madeira queimada, recolhidos da natureza e pintados com a mesma geometria das telas.

“Sou pintor por pura necessidade”, costuma dizer Gonçalo. Vivendo hoje em Paris, na Europa, onde tem o reconhecimento por seu trabalho, o artista fez desse impulso vital a produção de uma arte comprometida com a beleza. “É uma pintura madura que a experiência mundial [do artista] fez crescer e desenvolver-se em linguagem internacional de grande qualidade. É pintura sem dramas e sem claro-escuros. É pintura solar, mediterrânea, pintura 'en plein-air'. Pintura que não pede aos entendidos para filosofar, pintura sem tormentos, que convida apenas a admirar a beleza e a gozar a vida”, escreve o crítico Piero Mainardis sobre o artista em apresentação de livro recente publicado na Itália.

O próprio pintor afirma: “O meu mundo, como diria Carlos Drumond de Andrade, é o do contemplador de nuvens. Até num trabalho torturado como o do Egon Schiele, o que vale para mim é sempre o lado da beleza e não o lado do grotesco e do patético”. Justamente com esse olhar, Gonçalo reúne nesta exposição uma nova produção de telas em grande, médio e pequeno formatos e objetos que serão divididos entre os dois espaços da Galeria.

“Gonçalo não afirma apenas a sobrevivência do objeto de arte em meio às suas variadas formas de desconstrução e dissolução contemporânea. Ele aposta num objeto de arte bela, radicalmente estético, dado à contemplação, e justo num momento em que um homem cada vez mais enquadrado, automatizado, hiperativo ou anestesiado, parece especialmente precisar de choques para voltar a si. Sem falar de um certo pudor quanto à celebração de toda a beleza exuberante e alegre em meio à montanha de desatinos que marca a história recente do mundo”, escreve o filósofo Edgar Lyra no catálogo trilíngue (português, inglês e francês), que será lançado por ocasião da exposição.

O artista gosta das paisagens – das árvores que foram uma constante em seu trabalho nos últimos seis anos aos rios do Brasil e da África, “reservas de uma espécie de paisagem primitiva, escassa num mundo super-povoado em que a natureza é tudo, menos sagrada“, na opinião de Edgar Lyra. “A verdade é que esses rios foram se tornando mares de cor, cada vez mais intensos, verdadeiros assaltos às retinas. Espécie de pele da visão, a cor está aí, por toda a parte banal, despida de qualquer segredo, imersa, como o tempo, na invisibilidade do hábito. Fazer o quê, para ressuscitá-la? A propósito: será que o mundo se salvaria se os homens, em maior número, fossem capazes de admirar-se com o que naturalmente têm diante dos olhos?”, finaliza.


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