| George Iso - Floresta abstrata |
A floresta se resolvendo em mar

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

Sabe-se ser (ainda) difícil determinar ao mesmo tempo a velocidade e o topos da ocorrência do salto eletrônico. É tido, entretanto, como certo (e nesta apologia ofereço a necessária contraprova) que o observador e o observado, uma vez envolvidos e comprometidos na relação de conhecimento, se alteram, mutuamente se afetam, se desfolheiam, desnudam e sensualmente se interpenetram.

Isso, para dizer que em Iso é difícil impossível se situar diante das obras apatica ou, que seja, contemplativamente, já que ele apaixonadamente tange e fere e sangra, e de uma só vez, nosso intelecto e nossa emoção, nos cerca e centraliza, nos põe em movimento, em foco e sob luz e nos confronta conosco mesmo, nos inquire sobre a existência e a axiologia da liberdade na autofagia a que predatoramente nos devotamos, no eclipse do nosso humanismo resultando na aceleração de um possível e provável apocalipse (em devastador curso).

Espere, irei encarar novamente, olho no olho, coração no coração, as construções de Iso, e retornarei para negar ou confirmar:

Como não se deixar subjugar pela delicada quietude, placidez, e a um tempo exacerbada super-hiper-sensibildade de suas configurações? Como não se entregar ao delirante canto de sua sedução, ao encanto sinalizado pelo amalgama de seus cromáticos panos de frente, meio e fundo e de suas variegadas e significativas intervenções e consubstanciações em forma de formas e cores sobre, justa e sub-postas, que bóiam, digo, boiamos todos nós, indo e vindo ao sabor do insalubre sensabor, convertidos em signos e semas ostensivos, declarados, subentendidos, apócrifos, ocultos pelo enredo de suas metáforas e alegorias?

Como não dançar ao som de sua alternância rítmica que extrapola e estilhaça qual vidraça a escala diatônica e deflora e explora seus confins? Como não ceder ouvidos e escutar o seu pescrutar da parafonia, das angustiadas e angustiantes vozes, dissonantes e solitárias, que, vê-se logo, flutuam vagam sem rumo nem prumo, sem sentido e direção num cosmo em diluição? É onde nós esbarramos em Iso e por ele somos (amorosamente) acolhidos em seu melhor e mais tocante e cúmplice (pensar em insistente e persistente resistência) instante.

Epitomou Iso a mostra de Floresta Abstrata e, de imediato, por analogia livremente extensiva, o que me ocorre é que toda floresta é um mar interior que vasa/sangra para outro, exterior. Mais, diante das pinturas de Iso, estamos como se estivéssemos submersos em oceanos revoltos por tumultuadas tempestades e fúrias, opressões, lancinantes dores e intoleráveis angústias - um drama evolvendo para outra tragédia.

E, no entanto, não há "barraco" (já que, o sem aspas, eivado de fragilidade, às primeiras chuvas, se desfez e desconstruiu - ruiu) nem desesperado e histérico destempero no silencioso clamor de Iso. Sim, aqui tudo é construído e contido nos rigorosos e estreitos e diáfanos limites da força conciliada com a beleza, da expressão com a reserva, do movimento e do repouso, da matéria e do espírito - sendo este função daquela.

A serenidade, aplicada por Iso com clássica inventividade às suas criações, impera e paira por sobre toda a extensão e sucessão dos eventos e prepara nossa vontade para a aceitação da natureza, continente de tudo quanto, mesmo quando ela se revela em toda a sua cruel e implacável causação (o que por outra nos garante a apaziguadora segurança da lógica e da razão), sem disfarces nem sublimações. Na ausência de um Logos a nos orientar ou conduzir, cuidar de nós, cabe a nós a solitária busca da solução dos problemas que a cada instante a vida e a arte nos propõem (sendo elas regidas pelo princípio da identidade e se revolvendo uma na outra e vice-versa) por vias do dialético diálogo com os objetos reais, os objetos ideais e os valores, que, está aqui o comprovante, lhes conferem conteúdo e significação.

Observando a fundo as pinturas de Iso, temos um fugaz vislumbre (ainda que pelo avesso do processo) da arte operando a criação da Criação. E então percebemos, vivenciamos, clara e distintamente que, enquanto o tempo astronômico corre do passado para o futuro, o de nossa existência biológica flui em heideggeriano sentido inverso - vem do futuro, se realiza no presente e logo se mumifica como memória (do que fomos no porvir).

Rio de Janeiro 2005

©Alexandros Papadopoulos Evremidis > escritor crítico > Email


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