Edgar Duvivier - trânsito livre - do clássico ao contemporâneo.
A sabedoria e a liberdade da Princesa Isabel - Palas Atena rediviva!

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*


Criador e criatura


Inspirado por Apolo, luminoso protetor das artes, e mirando-se no exemplo daqueles geniais homens de Atenas, Fídias e Praxíteles, o consumado artista Edgar Duvivier, que transita com igual talento e sensibilidade por todos os meios artísticos, e ainda se nutre com a filosofia, traz à luz a sua mais recente obra de peso - uma escultura, em bronze, com 2 metros e meio de altura (e aqui não se trata apenas de uma grandeza geométrica, mas de uma grandeza moral), representando a adorável Princesa Isabel que, fazendo o que seus contemporâneos machos não tiveram coragem de fazer, com sua áurea pena a Lei Áurea, a 13 de maio de 1889, assinou, deletando (quae sera tamen) a maior das infâmias humanas - a escravidão, cujos reflexos e conseqüências nos envergonham e humilham até hoje.

A obra, (outro 'quae sera tamen') que, sintomaticamente, ficará na pracinha da Avenida Princesa Isabel, em frente ao Hotel Meridien, de frente para o mar de Copacabana, será inaugurada às 10h do dia, mais que apropriado, 13 de maio. Na cerimônia, Edgar Duvivier, que também é exímio músico, tocará o Hino da Independência, composto por D. Pedro I, avô da princesa.

Presente maior e mais nobre, farol e aviso aos navegantes, indicador de rumo e direção, a população negra/branca, a Cidade Maravilhosa, o Brasil e, até, o mundo todo não poderiam ganhar desse jovem criador que, transcendendo limitações e fronteiras, revela-se sensível pensador com idéias profundamente arraigadas na democracia ateniense, no humanismo renascentista e no trinômio - liberté, égalité, fraternité - da Revolução de 1789.

Na primeira foto, acima à esquerda, Edgar, em seu atelier, está montando a Princesa em gesso; na segunda, acima à direita, já na fundição, ele está ultimando os retoques na cera, antes da ida da Princesa ao fogo que lhe conferirá a eternidade, sinalizadora dos valores universais. Longa vida à Princesa Isabel e a seu Pigmalião - Edgar Duvivier!

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Escultura da Princesa Isabel em homenagem ao dia Dia da Abolição.

O símbolo:
A Princesa Isabel traz ao imaginário dos brasileiros, uma imagem de coragem, sabedoria e liberdade. Desde pequenos, aprendemos que graças à princesa, os escravos foram libertados e o país se livrou da vergonhosa condição de escravocrata. É bem verdade que uma atitude dessas não nasce do nada, mas é o resultado de todo um movimento histórico. Hoje, muitos discutem a real importância da princesa na abolição, assim como contestam a própria abolição da escravatura. Esses questionamentos são justos e procedentes, fazem parte da democracia e da busca pela justiça. Mas polêmicas à parte, o fato é que até o dia 13 de maio de 1888, o Brasil era a única nação independente que ainda possuía escravos, quando sem derramamento de sangue nem violência, a Princesa Isabel assinou a lei que declarou extinta a escravidão.
A escultura:
Para compor sua estátua, Edgar Duvivier buscou inspiração nos gregos "A Princesa Isabel é antes de tudo um símbolo. Ao vê-la sempre ao lado do pai, aquele Imperador barbado, e de repente se libertando para tomar uma sábia atitude, me veio à mente a imagem de Palas Atena, a de olhos glaucos, nascida da cabeça de Zeus, eterna donzela, defensora da acrópolis, representante da sabedoria e da justiça" A Princesa de Edgar é bem mais jovem do que aquela que normalmente vemos nas representações oficiais. "É verdade que na época em que foi assinada a Lei Áurea, a Princesa já havia completado 42 anos, mas símbolo não tem idade. Para representar o ímpeto e a renovação, optei por uma moça. Fiz uma pesquisa em diversas imagens da princesa e procurei retratar seus traços intocados pelo tempo." A atitude da estátua busca o equilíbrio das Minervas de Fídias, descansando na perna direita, com um braço ligeiramente levantado, pronto para receber o papel, e o outro, relaxado, tem uma pena na mão.
Tradição:
Edgar Duvivier teve suas primeiras aulas de saxofone com seu pai, com quem também aprendeu a esculpir. "Meus pais eram escultores, e meus primeiros brinquedos foram ferramentas e argila". Ajudando o pai então doente (falecido em agosto de 2001) a terminar a escultura da Imperatriz Leopoldina, que se encontra hoje na Quinta da Boa Vista, Edgar Duvivier filho acabou encarando profissionalmente o ofício, e desde então, terminou as esculturas de Oscar Niemeyer e Juscelino Kubitschek recentemente inauguradas em Niterói, esculpiu o Senador Dinarte Mariz, que será inaugurado em Natal no correr deste ano, e ultimamente a Princesa Isabel, sob encomenda do Prefeito Cesar Maia. "Foi tudo muito rápido. Me consultaram em março sob a possibilidade de fazer a escultura para 13 de maio. Nem esperei a resposta. Larguei tudo que estava fazendo e me dediquei integralmente a este trabalho durante um mês e meio. Neste mundo descartável, a escultura é um ofício anacrônico. Esculpimos hoje como se fazia há 4.000 anos. É um ofício de tradição, da época dos aprendizes. Fico feliz por seguir o caminho de meu pai. Ele esculpiu a Imperatriz Leopoldina e agora eu faço a neta dela, a Princesa Isabel, dando minha contribuição para esse símbolo de justiça."
Homenagens:
Com as esculturas de Drumond, Otto Lara Rezende, Pixinguinha, Zózimo, Cartola, a divisão de monumentos da cidade do Rio de Janeiro vem homenageando figuras significativas de nossa cultura. Segundo Edgar Duvivier, "a escultura figurativa é muito importante para esse fim, uma vez que ela da à luz, e eterniza os traços físicos das pessoas". Com uma maquete de Tom Jobim já pronta, Edgar pretende realizar o sonho de colocar uma estátua do maestro recebendo de braços abertos os visitantes da cidade no Aeroporto do Rio de Janeiro.


"Luzes da memória", de Edgar Duvivier.

A plenitude

Duvivier é um artista multimídia completo, já que toca sax como poucos e ainda desenha, pinta e esculpe. Só falta bordar.

Na presente exposição, ele nos agracia com originais e criativas luminárias em forma de meio disco de considerável espessura com a frente diametral e a parte superior lisas e transparentes; a base é invariavelmente de vidro esculpido simulando um mar ou um lago marolado, provavelmente a Baía da Guanabara ou a Lagoa Rodrigo de Freitas, portando mini-esculturas que ilustram suas histórias - gaivota, sereia, um casal em abraço amoroso - réplica miniaturizada de uma escultura em mármore, de 1951, do pai do artista, que faz parte do acervo do Museu Nacional de Belas Artes -, e outras; e o fundo, em forma de arco, insinuando os morros do Rio de Janeiro, traz pinturas com temática tirada ora da mitologia grega e ora da contemporaneidade - Ícaro, Circe, Minotauro, Narciso, As Sereias, Crônidas, Garota de Ipanema, O Pulo do Gato, Surfe e Música: Sísifo Feliz e outras, todas com um substrato psicológico, filosófico e até propedêutico, o que nos mostra que as preocupações de Duvivier transcendem o cotidiano e o vulgar para se entregar a indagações de interesse universal do homem e de sua inteligência motriz. Tudo banhado em suave e apaziguadora luz - a que ilumina o ambiente e, a um tempo, nossas mentes e nossos arquétipos afetivos.

"Minhas luminárias, feitas com escultura, pintura, música e luz, são cenas tiradas da memória e da fantasia. Podem não ser reais, mas são verdadeiras para mim", confessa e professa o artista. Vale a pena conferir, porque, fazendo coro com o título de uma de suas obras e a circunscrição que dela faz, podemos afirmar que "o pulo do gato é o que não se ensina, é o que se aprende com o tempo, com insistência, com repetição. O pulo do gato é o vôo da gaivota, é estilo". O estilo de quem faz tempo decolou e aperfeiçoou seu vôo e sua arte, o estilo de Edgar Duvivier, o artista completo, sensível e atento a seu tempo.

Rio de Janeiro 2003

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