| Dias & Riedweg |

“Até que a rua nos separe”, exposição que irá reunir alguns dos mais expressivos trabalhos da dupla Maurício Dias e Walter Riedweg no Centro de Artes Hélio Oiticica, é qualificada pelos autores como uma ode a João do Rio, considerado o maior cronista das doçuras e mazelas cariocas entre o final do século 19 e o início do século 20. Assim como o autor de A alma encantadora das ruas, os dois artistas se identificam com os movimentos, sentidos e sensações que a cidade inspira. Como cronistas ampliados pela tecnologia de seu tempo, Dias e Riedweg compõem retratos fiéis das várias realidades cariocas com som, imagem e movimento. A exposição reúne nove instalações em vídeo e outras obras que envolvem fotografia, desenhos e música, sem abrir mão do movimento, do pulso da vida na cidade.
- Todas as obras expostas foram feitas no Rio e sobre o Rio – diz Maurício Dias. – Procuramos mostrar um pouco do que a rua, enquanto espaço público, reserva para a subjetividade de cada um: as relações entre os milhares de anônimos que por ela circulam e também as relações desses anônimos com o espaço urbano – explica. A última grande exposição do duo de artistas no Rio aconteceu em 2002, no CCBB, com curadoria de Catherine David. Para Maurício, Até que a rua nos separe retrata um modo particular de observar as mudanças do Rio ao longo do tempo. – É o nosso olhar não só como moradores, mas como artistas que trabalham a cidade. O Rio é um perfeito laboratório de alteridade, pois as relações humanas que constroem a sociedade não estão segregadas; os “guetos” estão espalhados por todo o tecido urbano – pontua. – Essa proximidade com as diferenças, que gera novas culturas, é algo diferente de qualquer outra cidade do mundo – observa Walter Riedweg.

A exposição
Para abrir a mostra, no andar térreo, os artistas escolheram duas obras que, justapostas, falam diretamente da relação deles com as ruas do rio e expressam a evolução do pensamento e do trabalho da dupla: Caminhão de mudança (2009-2012), que ocupa a própria rua em frente à entrada do prédio e a primeira sala; e Devotionalia, remontagem do primeiro trabalho dos artistas sobre o Rio, realizado ao longo do ano de 1995, com a participação de aproximadamente 600 crianças que viviam nas ruas na época.
Caminhão de mudança é uma vídeo-instalação resultante de uma série de intervenções em espaços públicos. O projeto está em andamento desde 2009 e consiste em uma série de vídeos que são projetados em um caminhão de mudança, usado pelos artistas como plataforma para gerar um confronto inesperado de interação com os espectadores em espaços públicos. As intervenções começaram em Bruxelas em 2009 e, desde então, aconteceram em Nova Iorque, Lisboa, Cidade do México, Houston (Texas, EUA) e Copenhagem. A intervenção carioca acontecerá no dia da inauguração da exposição, bem na porta do Centro de Artes Hélio Oiticica.
Devotionalia reúne 1.200 ex-votos (cópias em cera das mãos e dos pés) feitos por meninos de rua, em 1995. Para cada ex-voto foi expresso um desejo que sintetiza um sonho ou uma urgência de vida. Todo o processo foi registrado em vídeo. Dez anos depois, os artistas procuraram e reencontraram algumas das crianças participantes do projeto, que lhes contaram detalhes sobre os destinos de outras: mais da metade das 600 crianças participantes já não vivia mais. Assim, muitos dos ex-votos em exposição são os testemunhos que restaram da existência dessas crianças.
No segundo andar estão expostos quatro trabalhos inéditos que compõem a série Pequenas estórias de modéstia e dúvida. São as videoinstalações A cidade fora dela, Sábado à noite no parquinho, O espelho e a tarde e Peladas noturnas – registros inspirados de vivências cotidianas em distintos bairros do Rio, com música original composta por Walter Riedweg. Do universo do baile, Xilogravuras, Livro e Funk Staden completam a mostra, no terceiro andar. Todas as quatro obras relacionam os bailes funk cariocas à figura de Hans Staden, aventureiro alemão capturado e libertado em 1550 pelos índios antropófagos tupinambás, na costa brasileira. De volta à Alemanha, Staden escreveu e publicou Verdadeira história, a narrativa ilustrada de sua aventura – uma representação do trópico selvagem e canibal no imaginário europeu, que contribuiu para legitimar a violência da colonização. Livro é a reprodução digital, página por página, de um exemplar original de Verdadeira história, relíquia da biblioteca da Universidade de Marburg, onde foi publicado pela primeira vez em 1557. As ilustrações que figuram no livro são re-encenadas na série de fotografias denominada Xilogravuras. Reescrita como vídeo-instalação, Funk Staden, obra comissionada para a 12a Documenta de Kassel, estabelece o elo entre a costa brasileira descrita por Staden em 1557 e sua realidade 450 anos depois.

Maurício Dias (Rio de Janeiro, 1964) e Walter Riedweg (Lucerna, Suíça, 1955) trabalham juntos desde 1993 e participaram de algumas das mais importantes exposições de arte contemporânea internacionais, como a 12ª Documenta de Kassel (2007), a Bienal de Veneza (1999) e outras bienais, como as de São Paulo (1998 e 2001), de Havana (2003), do Mercosul (2003), de Liverpool (2004), de Xangai (2004), de Gwanjú (Coreia do Sul, 2006) e de Tenerife (2009). Com individuais de grande formato realizadas no CCBB do Rio de Janeiro, no MACBA de Barcelona, no Kiasma em Helsinki, no Le Plateau de Paris, no MUAC da Cidade do México e no Americas Society de Nova Iorque, a dupla se consolidou no cenário de arte contemporânea internacional por seu trabalho pioneiro, que mistura projetos participativos de arte pública e videoinstalação.
Dias & Riedweg tornaram-se conhecidos do público carioca a partir da primeira exibição de Devotionalia, no Museu de Arte Moderna. O trabalho, que teve grande ressonância crítica e popular, é hoje parte do acervo do Museu Nacional de Belas-Artes. Convidados pelo curador Paulo Herkenhoff para a 24ª Bienal de São Paulo em 1998, tiveram participação marcante com a videoinstalação “Os Raimundos, Severinos e Franciscos”. Logo a seguir fizeram outra videoinstalação, “Belo é também tudo aquilo que não foi visto”, com um grupo de pessoas cegas do Instituto Benjamim Constant (exibida na 25ª Bienal de São Paulo) e “Mera Vista Point”, um projeto de arte no mercado informal paulistano, criado para o Arte Cidade 4, em São Paulo. Os artistas consolidaram sua trajetória em 2002, com a grande individual “O Outro começa onde nossos sentidos encontram o mundo”, curada por Catherine David (Documenta X), no CCBB do Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro 2012


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