| Cristina Pape | Cartografia do Desespero I |


Este trabalho é fruto da pesquisa que venho desenvolvendo para minha tese de doutorado da Escola de Belas Artes da UFRJ, Programa de Linguagens Visuais e de minha trajetória pessoal/ profissional.

Este trabalho é uma mudança na minha trajetória ou quem sabe, um encontro na minha direção, mais uma vez?

Venho trabalhando com fragmentos literários, pedaços de objetos, eventos, encontros e desencontros e tantos são eles que não posso evitar a invasão de minha vida cotidiana por estes acontecimentos na forma de taças quebradas, cascas de ovos de pássaros do meu quintal e flores perfumadas que já não sei o que é verdade e o que não é. Tudo é verossímil e a todos aceito. O acaso tem sido um companheiro meu capturado pelo afeto.

Em 1992 um container caiu no oceano pacífico e deixou boiando 29000 patinhos amarelos ao sabor das correntezas marítimas. Imediatamente vi uma imensa ilha amarela flutuante.

A partir dessa possibilidade de verdade, passei a observar os inúmeros tons de amarelo e não foi mais possível evitá-los. Mas qual amarelo? Qualquer um que me tirasse do tempo cronológico e me jogasse no tempo afetivo, na durée. Quando percebi que o amarelo era a cor que estava me despertando para inúmeras questões, passei a vivê-lo: pintei a fachada de meu atelier de amarelo, comprei roupas amarelas, tenho um gato amarelo, as pessoas me dão coisas amarelas e faço esta exposição com um texto em amarelo.

Porque um texto e não um trabalho outro? Porque ele me lembra o rádio. Ouvimos mas não vemos, logo, imaginamos. Lemos mas não vemos, logo imaginamos. O silêncio do texto me atrai, porque nele estou em estado de reflexão, e cada amarelo será o do meu interlocutor com suas lembranças e seus mistérios nunca revelados.

O amarelo, para os chineses, indica a direção norte, local dos abismos subterrâneos onde se encontram as fontes amarelas que levam ao reino dos mortos.

Não poderia me furtar a dizer que a série Cartografia do Desespero I tem esse título como homenagem à vida,à minha própria vida, porque como dizia Hélio Oiticica, " Da adversidade vivemos".

O amarelo emerge do preto como a terra das águas e os macacos nos tornam a vida mais divertida.

Cristina Pape - Março 2005


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