| Bill Lundberg - Vídeo-instalações |
Trânsito - sombra luz sombra.

Entre as infinitas circunscrições da arte, já que ela não é passível de definição, salvo pelo duchampiano paradoxo "O que não é arte?", é a que aqui num sentido particular lhe atribuo - a de construir pontes para conectar o real ao transcendental. Digo isso a propósito do mago Lundberg, que desnuda, desertifica a Galeria Artur Fidalgo de seu acervo, dispõe uma tela, tipo, home theater, no meio da sala principal e, em plano inclinado, sobre ela (extensão) projeta ininterruptamenete (sucessão) seu rito de passagem. Passagem do onde para onde? Não já disse? Da vida para a morte e/ou desta para aquela? Do real para o transcendental? O real - um reduzido trecho dele: uma escada, que também remete a um telhado, por que passam passantes, sobem e descem, vão e vêm, saem de um vão e entram em outro vão. O que há num e no outro vão? O que, no além? É o que humanos, há milênios, ora teologando e ora filosofando, se questionam e sempre esbarram no aterrorizante e incógnito mistério. É uma cena plácida aquela do Bill. Cotidiana e corriqueira, vulgar mesmo, e no entanto inquietante e catalisadora de profundas e metafísicas reflexões. Estarão essas pessoas, ao ritmo da ora frenética, ora lenta e ora compassada batucada dos seus passos (único som audível), saindo do inferno e entrando no paraíso, subindo aos céus e descendo aos subterrâneos do inconsciente? Vice-versa?! Será aquele trecho do real um limbo? E onde fica essa passagem? Pode ficar em qualquer parte do globalizado globo. Mas sentimos no íntimo que é aqui, no Rio de Janeiro, que ele se situa. Sintomático? Sim, reconhecemos as pessoas, suas cores, seus odores, seus cacoetes, seus delírios e seu gestual. Seu behavior e sua gestalt. E, ao nos identificarmos como elas, sentimos empatia, simpatia, nostalgia. Alguma melancolia. Por quê? Porque passam - não interagem. Não se tocam. Não se amam. Elas são nós e nós somos elas. E Bill é um de nós. Assim como sua companheira Regina Vater que, se com filhos, passará à Regina Mutter.

©Alexandros Papadopoulos Evremidis > escritor crítico > Email


O norte-americano Bill Lundberg é internacionalmente reconhecido como um dos pioneiros na arte da vídeo-instalação em artes plásticas. Esta é a primeira vez que expõe em uma galeria comercial brasileira, apresentando duas video-instalações. Antes, seu trabalho teve apresentação relâmpago na Funarte e na Galeria Cândido Portinari da UERJ.

Agora, quando o carioca terá a oportunidade de apreciar sua obra por tempo mais prolongado, mostra uma vídeo-instalação totalmente filmada no Rio de Janeiro e outra intitulada “Moldura”. Vale conferir!

Veja o que diz Guy Brett, crítico de arte inglês que ajudou a deslanchar as carreiras de Lígia Clark e Hélio Oiticica lá fora: "Bill Lundberg desenvolveu uma forma de "filme-escultura" nos anos '70, antes mesmo que tal tipo de arte fosse convenientemente nomeada e situada. Ele toma a qualidade espectral da projeção do cinema escurecido e transfere-a para 'lugares concretos', evidenciando a contradição entre o real e o ilusório...".

Lundberg, que é casado com a também artista plástica brasileira Regina Vater, integra os aspectos formais da pintura, da arte da performance e do cinema, para tratar da condição humana, explorando por meio de técnicas experimentais, temas como o isolamento, a vulnerabilidade e as relações interpessoais.

Comentado a obra filmada no Rio, Guy Brett acrescenta: "Bill faz uma das mais eficazes alusões à multidão humana no interior de um espaço artístico, usando um fragmento do espaço filmado. A projeção ocorre numa tela em plano inclinado, produzindo um curto lance de degraus, onde pessoas, filmadas de cima, sobem e descem: algumas lentamente e cansadas; outras rapidamente, sem começo nem fim. Tudo que ouvimos é o som de seus passos".

Sobre “Moldura”, feita nos anos 70 em super-8 e agora digitalizada, quem explica é o próprio Lundberg: "É uma obra simples, que contém uma complexidade, pois é a respeito do presente e do passado; sobre o que a arte já foi e é hoje em dia. Se baseia no desejo secreto dos artistas durante muitos séculos de arte, que sempre foi o de impregnar com vida a imagem enquadrada". Usando um chafariz como sujeito, essa vídeo-instalação é também uma metáfora para o ato de projetar: projeção de água em confronto com a projeção de imagem.

A obra de Bill Lundberg influenciou artistas como Bill Viola, Tony Oursler e Gary Hill. A extensa carreira de exposições internacionais de Lundberg tem sido objeto de vários prêmios. Em 1981, mereceu a Bolsa da Fundação Guggenheim. Em meados dos anos 80, por quatro anos consecutivos, o próprio artista integrou o júri que concede essa Bolsa, junto com a famosa crítica de cinema norte-americana Pauline Kael eo conhecido documentarista George Stone. E seus desenhos dos planos para os trabalhos de instalação fazem parte da coleção do Museu Guggenheim de Nova York.

Lundberg é professor titular da Studio Art Division do Departamento de Arte e História da Arte da Universidade do Texas, além de Fundador do Programa de Transmídia. Ex-aluno da Universidade de Berkeley, Califórnia, o artista também participou da "Art/Video Confrontation", uma das primeiras mostras de vídeo-arte, realizada no Museu de Arte Moderna de Paris, e expôs no ICA de Londres.

Nos últimos 30 anos, seus filmes e vídeos-instalação foram exibidos em mostras coletivas nos EUA e na Europa, dentre elas as da Bienal deWitney, da Galeria Stadtisch-Lenbachhaus, de Munique; de “A Escolha dos Crí- ticos", em Dallas, no Texas; e da "Além da Academia", na Arthouse, em Austin, Texas, em 2003.

Dentre suas numerosas exposições individuais, vale destacar: Whitney Museum, P.S.1 e Galeria John Gibson, NY; Instituto de Artes Carnegie Mellon, Detroit; Museu de Arte Contemporânea de São Paulo; ArtPace, de San Antonio, Texas; Espace Lyonnais d'Art Contemporain de Lyon, França e Galeria Otis-Parsons, de Los Angeles.

Rio de Janeiro 2008


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©Alexandros Papadopoulos Evremidis = escritor crítico > Email
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