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O eterno retorno do tempo

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

- Encontrou respostas na filosofia, Araken?

Eu já conhecia algumas criações de Araken e lembro ter sido impressionado por uma qualidade profundamente metafísica, como se suas cores e suas configurações abstratas surgissem de alguma dimensão imperceptível para nosso intelecto e, daí, por ele ininteligíveis - talvez a pura disponibilidade da emoção nos franqueasse esse acesso. Lembro de alguns afogueados vermelhos japoneses e de outros, esmaecidos ao limite de uma convulsiva delicadeza, amarelos, dourados e laranjas a evocar os amanheceres e os entardeceres indianos. Soube depois que ele pesquisava filosofia e teologia e, subitamente, tudo pareceu fazer mais sentido e a luz rasgou a escuridão sideral.

Perguntei-lhe então, outro dia, na inauguração da sua exposição, nesse encantador Espaço que Richard criou com TODA ARTE e dedicou a seu pai, Maurice Valansi, se havia encontrado respostas. Que nada, disse ele, estóico, mas em absoluto conformado, continuo fazendo perguntas. E serão elas respondidas na derradeira hora ou seremos fadados a isso também no Além? Araken apenas sorriu e riu com essa elegante e serena sabedoria que a arte e a filosofia conferem a seus devotos.

Na atual mostra, pequena e intimista, o que encantou foi esse resgate de materiais cotidianos, descartes desprezíveis, encontrados nos entulhos - tais como placas-mães e tacos. Estes, não de biliar ou de golf, mas de piso, desses que aportam nas praias sujas quando não bóiam quais barquinhos nas águas dos mares deste sul. A forma rebaixada das suas laterais mais longas insinua um calão, uma calha e uma quilha, a isso as qualifica e as legitima e as faz parecerem umas chatas, umas jangadas da hora - como aquela que a Odiseus serviu no instante da salvação do naufrágio - do mesmo de que somos autores e atores, réus, cúmplices e vítimas. Afinal são o chão doméstico, o suporte que nos suporta e conhece nossos dramas, os vacilos, os cochilos, as destemperanças e os desequilíbrios. Agora, ali, sob a ação do Araken, de três em três consubstanciavam a tríade e nos diziam da delicadeza da arte, da flor de lótus que no lodo nasce, cresce, floresce e alma do artista enobrece.

Já aqueles outros lixos, os circuitos eletrônicos, como que servindo de contraponto ao naturalismo de origem vegetal dos tacos, com sua configuração orgânica e a fatura arquitetônica, a zombar da nossa fragilidade, ganharam umas boas borradas de massa pictórica, um verdadeiro crisma, para renascerem e se iniciarem e se humanizarem e aprenderem o que é a vida e qual seu significado último (que pode ou não haver).

Finalmente, o tertius da trilogia de Araken parecia evocar uma ponte entre o humano e a humana tecnologia, a seriedade e a brincadeira - a ciência e o ludus, os sons e as cores das infâncias, as memórias afetivas de tudo quanto é liberdades e prazeres, jogos de botões, enfim, pleno de rítmica dança e de harmonia cromática - teclas de piano cósmico a reger e pautar o concerto e nos encher de muita alegria e de alguma esperança. Na verdade, senti como se Araken, ali, nos quisesse falar da morte e do renascimento, do descarte e da regeneração, da irrecorrível predação e da possível reciclagem, a terra coberta de camadas de luz e de seu corolário, a luz dos nossos olhos.

Rio de Janeiro 2004

©Alexandros Papadopoulos Evremidis > escritor crítico > Email


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