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"Augusta Incorpora Paixão de Anita!" - ©Alexandros Papadopoulos Evremidis.

Pouco antes de o Kouros Ébano abandonar a Casa Grande para ir à capital ao encontro de sua amada Koure Doméstica, Augusta o procura, o seduz e tem com ele uma tórrida cena de amor animal naquela tarde escaldante. Na sequência, Kouros se despede friamente e vai célere à rodoviária pegar o ônibus que o levará à felicidade.

Augusta, que até então se comportara como uma fortaleza, tem uma crise nervosa, o peso da solidão se abatendo como chumbo sobre ela. Pela primeira vez na vida, se sente realmente nua e quebradiça. Qual era a desse negão imundo em querer preteri-la por uma cadela doméstica? De nada valiam seu nome, sua classe social, sua tradição, sua riqueza?

Em seu desespero, Augusta pega a pickup e dirige alucinada para a rodoviária onde outra decepção a afronta - o ônibus com Kouros Ébano a bordo havia partido fazia dez minutos. Em mais 50 minutos ele estaria cavalgando aquela empregadinha infeliz. Isso não era justo e ela não iria permitir!

Atordoada, Augusta pega a rodovia e, dirigindo como louca, em menos de meia hora alcança o coletivo. Emparelha com ele e chega a ver pela janela a cabeça de Kouros reclinada no encosto, expressão feliz, olhar perdido no teto, "certamente sonhando com aquela miserável". O impulso de Augusta é fazer uma manobra arriscada, obrigar o motorista a parar, entrar no ôbibus, arrancar o "seu" Negão e levá-lo de volta para a senzala da Casa Grande onde era o lugar dele, com ela visitando-o sempre que o desejo a machucasse.

Mas não ... a censura foi mais forte - ela não era feita do mesmo material barato que Anita que não se importava em implorar pelo amor de Nando, se arrastar aos pés dele e até morrer por ele. Não, Augusta não podia se dar a esse luxo vulgar, atiraria o nome da familia ao lixo e precipitaria a morte do coronel, seu velho pai. Tentou uma saída mais civilizada - buzinou de leve e quando Kouros olhou para seu lado, fez sinal de "Vem para o meu carro!". Mas ele meneou a cabeça negativamente. Uma segunda buzinada mais incisiva e de novo a recusa do Negão. Na terceira, a humilhação a que estava sendo submetida exacerbando-a e os outros passageiros já se divertindo às suas custas, Augusta pisou fundo no acelerador, fazendo os pneus chiarem, e ganhou a dianteira a "mil po hora". Só parou quando chegou a casa da Doméstica.

Suada e ofegante como se tivesse corrido a maratona, Augusta bateu na porta do casebre e, quando Koure Doméstica abriu, foi entrando aos gritos: "Ele não vai ser seu, sua Vagabunda! Você não vai me tirar a única coisa desprezível que possuo! Toma! Toma! Toma!", estapeou-a repetidas vezes e, como a moça a encarasse atônita e petrificada, foi empurrando-a até ela cair em cima da cama no canto do comodo. Atirou-se então por cima dela e, rasgando seu vestido de chita, ao mesmo tempo que a esbofeteava e xingava, parecia estar acariciando e empunhando sofregamente suas bochechas, seus peitos, suas coxas e seu baixo-ventre, como se, sentidno-se incorporada do Negão quisesse possuí-la, ou então para arrancar-lhe aquelas partes que daí a pouco Kouros iria apalpar e que a rigor estavam no lugar em que suas próprias carnes deviam estar a espera das mãos do odioso amante.

Aquela indecente cena de violência e sexualidade selvagens, levou-a num crescendo a um tal grau de paroxismo que, não conseguindo controlar a fúria que a dominava, apanhou o facão que estava sobre a pia ao lado e passou a esfaquear exatamente as partes que há pouco esmurrava e alisava, como que para marcá-la para sempre, deformá-la e enfeiá-la, torná-la monstruosa!, de modo que o Nego nunca mais a desejasse.

Foi quando bateram na porta e Augusta soube instantaneamente que era ele, o seu Kouro Ébano, o maldito! que chegava para arruinar sua vida definitivamente! Aquilo funcionou como um catalisador e num acesso terminal de raiva ferina, ao ritmo das insistentes batidas na porta, Augusta foi estocando o facão no coração da Doméstica - 4, 5, 6 vezes -, o sangue espirrando em grossos jatos e inundando suas mãos, colo e rosto. Até que a frágil porta cedeu e lá estava Kouros o Vingador olhando a cena, estupefato e esbugalhado!

Kouros não teve tempo para pensar. O sentir levou-o a instintivamente atirar-se sobre ela, arrancar-lhe o facão das mãos e, ato contínuo, alheio aos gritos de Augusta "Não, não, meu amor, não faça isso, eu te amo (coisa que ela nunca antes dissera a ninguém!), só fiz isso por amor a você!", enfiou-lhe a arma ensanguentada no peito e até o cabo! Uma, duas, tres, não se sabe mais quantas vezes. Só parou quando ficou sem fôlego. Depois, em catarse, olhou para Augusta morta deitada em cruz sobre a morta Koure Doméstica, ambas nadando em sangue, como se até na morte ela quisesse reafirmar sua superioridade a essa gentinha que não vale nada, só uma foda de vez em quando e olha lá!

E então, segurou o cabo do facão com as duas mãos, encostou a ponta da lâmina contra seu proprio peito, bem em cima do coração, que era para não haver dúvida, e apertou apertou apertou sem dar nenhum grito nem mesmo um gemido... E se juntou a elas para sempre cumprindo a maldição de Anita!


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©Alexandros Papadopoulos Evremidis = escritor crítico > Email
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