| "Walter Avancini – O Último Artesão", de Ângela Britto / Gryphus |
O livro do ano, (e não apenas deste, 2005, em curso) já que nascido clássico

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

A bela e talentosa e jornalista e apresentadora e atriz e agora também escritora, ufffa!, Ângela Britto, laboriosa formiguinha, foi recolhendo, ao longo de dois anos, 52 depoimentos de atores, atrizes e técnicos que conviveram com Avancini nas inúmeras novelas, minisséries e especiais e até um filme - Boca de Ouro - que ele dirigiu, encantando o Brasil e o mundo e ao mesmo tempo granjeando (nas internas) a fama de temível e temida fera da teledramaturgia brasileira.

Um terrorista? Um sádico? Um torturador? Um canibal de almas? Ou simplesmente um mal-entendido, um gênio adiante do tempo? Seja como e o que for, pus o nas internas entre parêntesis, para deixar claro que, aqui fora, "nas externas", para o público, ele é (o verbo no presente é intencional) o esmerado artesão do título e o detentor de refinada estética, profundo conhecimento técnico e visão humanista da humana sociedade.

Os depoimentos são recheados de histórias engraçadas, emocionantes, tensas e até de brigas, agressões, humilhações, de horror mesmo e de revoltas e motins, que revelam e expõem, por vezes, de modo dolorosamente cru, a persona, o caráter e a alma do diretor e de seus depoentes, dos de qualquer maneira partícipes da história e também dos bastidores dos canais de televisão que tiveram a honra de tê-lo em seu staff. Carrasco para alguns, um pai e vô para outros, todos são unânimes em afirmar que ele era um gênio, genial e genioso. Com esses ingredientes, prodígio!, a leitura consegue agradar a gregos e troianos e ainda aos que ficam em cima do muro e aos que não querem ou não sabem opinar (se comprometer, ainda mais post mortem).

Ponto pacífico - qualquer cidadão que se entregar à (irresistível, de tão sedutora e prazerosa) tarefa de ler este livro, sairá enriquecido e humanizado de uma ou de outra forma, de todas as formas. Mas há categorias profissionais para as quais ele é de leitura obrigatória - são elas: as dos escritores, dos roteiristas, dos diretores de filmes, minisséries, novelas, especiais, etc., dos técnicos de audio e video, dos câmeraman, dos caboman, dos boomman, dos iluminadores, e dos etcs., mas principalmente os atores de cinema, teatro e televisão. E, claro, as de todos os estudantes das supracitadas categorias e as dos por qualquer outro motivo e inspiração aspirantes a tais profissões.

E é muito óbvio o porquê. Tendo ele sido (uma vez, sempre!), o maior e o melhor diretor da teledramaturgia brasileira de todos os tempos, e certamente um dos mais destacados do mundo, cada um deles será beneficiado e terá o que aprender, ficando assim por dentro do seu 'modus dirigendi', autoral e proprietário, e dos seus truques e macetes de mestre, das suas inovações e invenções, da sua inconfundível criatividade, da sua personalizada marca - by Avancini. Sendo que os atores e os estudantes, assim como os aspirantes, terão praticamente de graça um curso quase completo de interpretação e técnica (de Stanislavski a Grotowski, somados a eles os depoentes, todos cobras) e, se abertos a isso, aprenderão com as dicas e as revelações dos colegas - o que significava, para Avancini, vestir a camisa, quero dizer, incorporar a personagem, e não apenas no ato de atuar, mas no instante de pôr o figurino no corpo e até antes - na verdade, 'full time' e incondicionalmente; saberão também o que Avancini esperava e, mais, o que exigia de quem se dispusesse a atender o chamado desse sacerdócio que é a profissão e o que oferecia em troca: não o dinheiro, a fama, o estrelato, mas a plena realização do ator, e do profissional em geral, como pessoa e como cidadão, melhor, como ser humano.

Carece dizer que o destinatário último de tudo isso - o público em geral, tendo tido a oportunidade de fruir o produto pronto e acabado, agora, fechando o ciclo, poderá também se deleitar com o dramático processo de sua criação - da sua gênese.

O Avancini é um livro escrito a 52 pares de mãos, sob a sensível batuta da jovem regente Ângela Britto que, seja dito, soube conduzir, fazer com que eles pusessem o dedo na ferida e a palma da mão no coração, assim garantindo seu lugar no panteão dos 'escribas' - esses outros artesãos, sim, também estes são artesãos, que escrevem livros, revelando os homens aos homens e fornecendo aos diretores o material para que, como Avancini, criem obras-primas.

Rio de Janeiro – Setembro - 2005

Alexandros Papadopoulos Evremidis = > escritor crítico > Email


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