| Andrea Brandani - Pinturas |
Dé_no_estúdio
Criador e criação.

A excelência cromática

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

Um talento oculto esse moço, Andrea Brandani. Sim porque é mais fácil encontrar "lá fora" quem o conheça e aprecie suas obras, do que aqui no país tupi. Está certo que ele também não fez por onde. Avesso a vernissages e badalações sociais e artísticas, foi levando a vida como um virtual recluso no ateliê a pintar e tornar a pintar, varrer madrugadas pintando. Agora, instado por uns e outros argumentos, deu o decisivo passo e saiu da... caverna, trazendo consigo a cor e a luz, a luminosidade de seu fazer pictórico.

De fato, foi há poucos dias: Bateu aqui no SOHO (Small Office Home Office) - sede real do site -, carregando um grosso rolo de comprimento heróico e, diante de nossos atônitos olhos, afogueado e com gestos vigorosos, quase histriônicos, foi desenrolando sobre o chão três telas de sua mais recente produção. O cheiro de tinta fresca que delas emanava era intenso e as cores rebrilhavam e jocosamente se sucediam e alternavam, abrangendo as originais e uma gama personalizada das intermediárias. Subitamente, como por passe de mágica, nosso exíguo espaço se viu transformado em jardim florido.

Sendo verdadeira a tese evolucionista do meio determinar o ser, outro não poderia ser o traçado do destino daquele menino Dé. Nascido entre pintores e colecionadores, forçoso que ele, como que salvaguardando a memória afetiva, crescesse impregnado de cores, tintas e odores - inebriantes aromas para quem ama o seu metiê.

Forçoso também que, ainda pequeno, se lambuzasse com os pigmentos e ensaiasse as primeiras pinturas. As inaugurais datam de 1966, com apenas quatro anos de idade, e são inocentes e ingênuas, mas também incontestes testemunhas do rumo que tomaria sua vida e obra: Uma exibe seu auto-retrato na zona limítrofe da figuração e da abstração, já que despido de todo detalhe, registrando apenas, em tosco grafismo, o esboço de um menino que suspenso no nada encara o futuro com altaneira determinação; a segunda, um cândido e comovente cartão de Natal, mostra um pinheiro estilizado, aguirlandado ao redor, e traz caligrafado o singelo, mas sintomaticamente significativo! pedido da criança - de todas as crianças do mundo:

"Querido Papai Noel
Quero 2 carrinhos de "minhatura", uma aquarela, uma tela de pintar e uma carteira com 2 mil.
Dé"

Depois, com o constante estímulo do pai, na contramão da maioria que tudo faz para desviar o filho da carreira de artista - "coisa de vagabundo que não quer nada com nada e não garante futuro", viriam décadas de exaustivas pesquisas de estética, meios, materiais, e incessantes estudos dos mestres de quem diuturnamente ouvia falar em casa e via em galerias e museus - Bracher, Guignard, Volpi, Di, Van Gogh, Gauguin, Picasso.

Foi com esse invejável background que Brandani foi, aos poucos, moldando e cristalizando seu próprio idioma pictórico, dotado de léxico e de gramática e de sintagma proprietário - uma assinatura presente em cada pincelada, dripping e inpasto de que ele faz generoso e imaginativo uso, eventualmente aplicando a tinta diretamente do tubo sobre a amorosamente receptiva interface, obtendo por vezes dois, três centímetros de espessura, o que gera inusitados efeitos de luz e sombra e configura um genuíno relevo escultórico. É maravilhoso sentir a textura e a materialidade do meio, diz Dé, e seus olhos brilham tal qual suas cores.

Compulsivo, mas também eclético nos temas, Dé os explora até a saturação. São séries e mais séries de auto-retratos (estaria, consciente ou inconscientemente, emulando Rembrandt, Goya, Van Gogh?), paisagens, vasos com flores, naturezas mortas, elefantes, geometrias, cenários urbanos (seus Ipanemas, com sol ou chuva, impactam nossa aesthesis!).

Desencantados com os ismos do passado, sabemos, cremos saber, tudo ser efêmero; que tanto faz pintar segundo e seguindo esta ou aquela escola ou corrente, por mais torrente que seja, que o importante é pintar. Pintar bem o bem e pintar bem o mal. Pintar com paixão e com vontade, com tesão e com verdade - é isso que Dé se propõe e faz bem feito. Figurativo, representacional, abstrato, formal, informal, impressionista ou expressinista, nada são para o artista além de covenções mumificadoras.

Desde os gregos, e com mais clareza com Leibnitz, sabemos também tudo depender de parâmetro, de ponto de vista e de fuga - todo objeto, de muito perto, nos parece mancha; na adequeada distância focal, delineado e detalhado, figura definida; ao longe, torna a nos parecer mancha e desaparecer no infinito. Isso, sem falar no grau dos óculos, que pode ou não estar atualizado (penso em Monet que suas lílias assim pintou porque assim as via em vista da vista esgotada).

Com tudo somado e subtraído e com o diferencial de Dé multiplicado, suas espermaticamente esparramadas flores, por exemplo, de mui apropriada títulação, "Flying Flowers", fazem com que sejamos possuídos por sentimentos de beleza e de otimismo, de alguma esperança no gênio do gênero humano. Veja como, embora providas de um substrato, as desgarradas pétalas nos elevam e levam a também esvoaçarmos e tingirmos o espaço que habitamos e o distante com que sonhamos. Não é isso o essencial na arte como na vida?!

Se tudo que Matisse queria era tornar o homem um quê mais feliz, Brandani, a caminho do caminho, está em boa companhia.

Rio de Janeiro - 2006

©Alexandros Papadopoulos Evremidis > escritor crítico > E-mail


Nesse meio tempo, Brandani, que, paralelamente à sua atividade de pintor profissional de quadros, se dedica também à grafitagem, já pintou/grafitou mais de uma banca de jornal e algumas fachadas de lojas da rua do seu atelier - a Vinícius de Moraes, antiga Montenegro, tendo inclusive conquistado Niterói, onde teve o sublime prazer de grafitar o Centro Cultural Pascoal Carlos Magno. E faz isso, logicamente, não na calada da noite, como os grafiteiros/agitadores "ilegais" (sempre legais), mas de dia e diante de considerável ajuntamento de público, curioso e interessado em ser testemunha da arte acontecendo ali, ao vivo, a cores, in situ e em tempo real. Um de seus motivos recorrentes é o elefante, invariavelmente assistido "de camarote" por um curioso gato preto (que me remete à leveza e à velocidade e a paixão da mão livre com que Dé desenha e pinta - um maestro orquestrando), o que lhe valeu a alcunha de "O Homem Elefante". Não por acaso, também eu o comparei a "O Menino do Dedo Verde" - aquele que onde tocasse nasciam flores, cores, pinturas, alegria, PAZ. Presenciei mais de um desses performáticos happenings, inclusive quando ele pinta corpos nus de modelos (e desta vez foi o da adoravelmente sinuosa como uma serpente - o da bailarina Nadine, minha filhada) apoiados sobre a tela, como se assim o artista desejasse integrar a carne viva e vibrante à criação artística. Sim, hieraticamente, Dé transcende e transforma a "operação" em sublime celebração ritualística, uma orgiástica missa órfica e cromática, que reconheço resultar sempre em intensa "experiência" emocionante. A última vez foi quando ele pintou/grafitou a fachada do Divas da Vinícius por fora (foto, dir). Agora, Dé está dentro dele, ocupando com suas pinturas recentes, literal e metaforicamente, todos os espaços do Espaço Cultural do mesmo, aí incluídos os interstícios. A direção do local, na pessoa do esteta e colecionador Evânio (ele mesmo um artista surrealista, de telas e de cabelos), sabe o que faz e o faz muito bem feito, ciente da importância de oferecer beleza a seus freqüentadores e multiplicar para dividir.

Rio de Janeiro 2007


Flying_flower's_in_carnival
Flying flower's in carnival | ost | 150x120cm | 2000


Flying_flower's_in_spring
Flying flower's in spring | ost | 160x130cm | 2001


Ipanema_com_chuva
Ipanema com chuva | ost | 150x110cm | 2005


Jojó_the_elephant
Jojó the elephant | ost | 150x110cm | 2005


Flying_flower's_behind_door
Flying flower's behind door | o/s/madeira - porta demolição | 80x200cm | 2005


Flying_flower's_behind_window
Flying flower's behind window | 40x80cm | o/s/madeira - janela demolição | 2005


Flying_flower's_behind_black_door
Flying flower's behind black door | 90x200cm | o/s/madeira - porta demolição | 2005


Flying_flower's_over_green
Flying flower's over green | ost | 150x110cm | 1999


Flying_flower's_in_a_greek_vase
Flying flower's in a greek vase | ost | 100x130cm | 1998


Flying_flower's_behind_a_pinus_riga_window
Flying flower's behind antique pinus riga window | o/s/madeira | 80x110cm | 2004

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A seguir, instantâneos da recente performance de Dé durante o vernissage de sua exposição solo:




Brandani leva para a galeria um pouco do clima do seu atelier, em Ipanema, com uma seleção de telas, biombos e janelas antigas recolhidas em material de demolição. Algumas estão expostas nas paredes de forma convencional; outras, empilhadas como no atelier do artista; para completar o cenário, além de mesa, tintas, potes, pincéis e demais apetrechos do ofício, centenas de bisnagas usadas espalhadas pelo chão quais multicores pétalas/sépalas de flores - tudo conjurado para permitir ao visitante a fruição de íntima comunhão com a criação. Se Kandinsky ouvia música em sua composições, as obras de Brandani exalam pictóricos aromas. E mais: destoando dos artistas que, em geral, zelosamnte ocultam seu modus operandi, Brandani convidou o fotógrafo Paulo Salerno a uma participação especial para, durante o vernissage, documentar a sua performance em que, com gestos febris e a um tempo hieraticamente compenetrados, pintou o corpo nu do modelo-vivo Juliana Nunes com o tema de uma das obras da série Flying Flowers. Ação e resultado, vazando do real, constituíram "experiência" transcendental e levaram ao êxtase a magnetizada e encantada assistência - a carne deixou de ser carne e, refigurando-se em massa pictórica, se integrou à obra e impregnou-a de modo irremediavelmente indissociável. Ao término, o público, que nem respirou durante, aplaudiu em delírio - afinal, não é todo dia que um artista se dispõe a torná-lo cúmplice e com ele compatilhar os secretos rituais da sublime criação. Alle Kunst, não resistindo à emoção, se entregou ao orfismo, abraçou a modelo coberta de tinta frsca, se lambuzou todo e, feliz, "viajou" pelas esferas lamentavelmente interditas aos leigos.

Fotos: Paulo Salerno

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Dé - exemplar exemplo - um paradigma!
Conheci o artista plástico Andrea Brandani há pouco mais de um ano (ele parecia uma pintura ambulante e exalava cheiro de tinta por todos os poros). Razão: trancafiado no atelier, ele passava os dias (e as noites!) pintando, mas nada de expor, talvez com medo de... se expor.

Impressionado com a orgia cromática e o frescor de suas criações, lembro ter lembrado do mito da caverna e, adaptando-o livremente ao caso Brandani, dado uma de Platão e o intimado: "Andrea, de nada serve à humanidade você ser gênio oculto. Saia já, semeie e embeleze o mundo". Não deu outra - animado, logo expôs solo, performando, na FESP, e na seqüência, em assombrosa operação, vendeu um "pacote" de 200 quadros para um canal europeu. Depois, andando, melhor dizendo, pintando a mil, para repor o acervo, retomou a incessante e diuturna fatura e paralelamente partiu para batalhas, ações, intervenções campais.

De fato, não faz muito, em tarde de mais um happening performático, grafitou com míticos motivos indianos (elefantes indispensáveis!) uma banca de jornais (foto) e o fez tão bem que levou a habitualmente contida Cora Rónai a exclamar em seu flicker: "Como ficou linda a banca do Fiúza!".

Agora, 24/6, das 15h30 em diante, em mais uma feliz incursão, é a vez do conhecido e respeitado Divas Cabeleireiros (Vinícius de Moraes, 250, Ipanema), cujo dirigente, Evânio Alves, diga-se, sensível à crônica carência de espaços expositivos, abriu suas dependências para mostras (a quem interessar possa!).

Na seqüência, 4/7, o infatigável artista fará performance em Niterói, na abertura da exposição "5x5" que reúne 5 fotógrafos e 5 pintores na galeria Palácio de Cristal. O "show" será abrilhantado pela participação de Nadine Abreu (só pra ficha cair - sobrinha da sempre adoravelmente zen Zezé Mota), que, esbanjando e conjurando talento e beleza, atuará como dançarina e modelo, a partir das 21h30. A ver e se deixar encantar.

Inspirado por essa história do grafite de Dé, exorto os artistas a fazerem o mesmo - estarão ainda na boa companhia dos gregos que coloriam não só as alvas esculturas do pentélico mármore, como também os telhados das casas e o chão das ruas! Pois que saiam também vocês por aí e pintem tudo que encontrarem pela frente, não poupem nem memso nossos corpos e rostos. Precisamos, isso sim, de menos corrupção palaciana e mais cor/alegria em nossas vidas.

Que fique claro: Relato o "caso Brandani", não por me sentir seu Pigmalião, mas seu cúmplice - sensibilidade, talento e, daí, mérito são integralmente dele. Eu, já disse, sou apenas, como já fui em Atenas, amante amado (assim espero!) da Arte.

Fotos: Paulo Salerno

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©Alexandros Papadopoulos Evremidis > escritor crítico > E-mail


André Fernando de Carvalho Brandão - Belo Horizonte/MG - 1962
Nome artístico: Andrea Brandani.

Formação:
Dé sempre soube que seria pintor. Começou a pintar sob a influência do pai, Hélio, e da irmã, Heliana, que à época estudava pintura em Belo Horizonte com Bracher.
Aos quatro anos pintou seu primeiro quadro, um auto-retrato, seguido de uma série de desenhos inspirados na paisagem de sua cidade e nas igrejas de Guignard.
Aos dezessete anos, criou a série de abstratos geométricos e a série de queimados.
Aos dezoito, mudou-se para o Rio de Janeiro trazendo na bagagem um grande estojo de tintas, presente da irmã.
Construiu também grande série de navios dentro de garrafas, criando batalhas navais, portos, cidades e temas históricos, tendo realizado exposição no cassino de Póvoa de Varsin, em Portugal, em 1983.
De 1980 a 1987 fez centenas de estudos de obras de Van Gogh, incluindo todos os auto-retratos, além de inúmeros quadros de Paul Gaugin, Picasso e Di Cavalcanti e temas próprios, tendo então criado séries de retratos e auto-retratos.
Já a série Ipanema foi inspirada em uma tela de seu irmão escultor, Márcio, e a série Ônibus, no pintor Adriano Mandiavach.
Por volta de 1990, surgiram as séries Elefantes, Flying Flowers, still life, sempre dando continuidade aos antigos temas.
A partir de 1998 começou a pintar a via sacra, homenageando Gaugin e Guignard com elementos de Polock.
Na seqüência veio a série Window's cujo tema Flying Flower's é pintado em janelas antigas, encontradas em demolição.
Atualmente, 2006, trabalha alternada e profusamente todos os seus temas, dando especial atenção às séries Flying Flower's e Ipanema. Mantém acervo de mais de duzentas pinturas de grandes dimensões.

Exposições:
2007 - Galeria da FESP - Rio de Janeiro
2006 - Galeria Virtual do RioArteCultura.Com
1983 - Cassino de Póvoa de Varsin - Portugal


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©Alexandros Papadopoulos Evremidis = escritor crítico > Email
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