"A morte como efeito colateral", de Ana María Shua / Editora Globo

A finitude humana vista sob o humor mórbido e refinado Ernesto, um maquiador de meia-idade transformado em roteirista por um cineasta excêntrico e abonado, tem sua vida modificada após o diagnóstico de câncer intestinal de seu pai. A doença faz com que os papéis no quadro familiar se modifiquem: o pai, que antes era uma figura dominadora, agora é impelido a pedir auxílio e tem sua independência abalada; a mãe, outrora bela e motivo de orgulho para o filho, surta ao ver a força do companheiro se exaurir; Cora, a irmã parasita, sente-se ameaçada diante da nova situação que todos são obrigados a encarar. Relatando os acontecimentos a um amor do passado, ao qual se submetia sob a condição de amante e que agora não passa de um confessor imaginário, Ernesto revela sua própria forma de loucura.

Aliada à temática delicada e triste da doença terminal, o cenário em que os personagens estão inseridos é a violenta Buenos Aires de um futuro próximo, em que as pessoas têm de se locomover em carros blindados e nem suas casas são locais absolutamente seguros. Revertendo tais características a seu favor, Ana María Shua resolveu explorá-las com implacável humor negro. Balanceando diálogos que despencam como concreto e reflexões de um personagem principal que ri de sua própria miséria, a autora dá leveza, poesia e nova dimensão a um tema já demasiadamente explorado, mostrando ao leitor que, ainda que a matéria-prima ali presente esteja gasta, as formas que se lhe pode dar são infinitas e, principalmente, dignas de interesse.

O crítico literário peruano José Miguel Ovieda considerou que Ana María Shua, no romance A morte como efeito colateral, "supera ­ por sua profundidade e dramaticidade desgarrada ­ tudo o que Shua havia publicado até então e a coloca na primeira linha da nova literatura argentina". Já Mónica Flori, doutora em Língua e Literatura Hispânica, afirma que "os questionamentos sobre a identidade do protagonista se perfilam como sintomáticos do destino coletivo de sua sociedade e o texto que os media é passível de estudo enquanto escrita que interroga a realidade argentina mediante uma narração múltipla, ambígua e aberta, cuja voz narrativa evoca a pluralidade de discursos".

Ana María Schoua nasceu em 22 de abril de 1951, em Buenos Aires, Argentina. Iniciou sua carreira literária precocemente: seu primeiro livro de poemas, El sol y yo, escrito aos oito anos de idade e publicado quando ela contava dezesseis, ganhou o Concurso del Fondo Nacional de las Artes, promovido pelo governo argentino, e a Faixa de Honra da SADE (Sociedad Argentina de Escritores). Formou-se em Letras pela Universidade de Buenos Aires. Teve a família dividida com a instauração da ditadura em seu país, em 1976, ficando exilada na França com o marido, quando a irmã e dois primos foram forçados a deixar a Argentina. Quatro anos mais tarde e já de volta à sua nação de origem, não parou de acumular êxitos e prêmios: em 1980, após alterar seu sobrenome de Schoua para Shua, seu primeiro romance, Soy paciente, recebe o primeiro lugar no concurso internacional de narrativa da Editorial Rosada e é levado ao cinema pelo cineasta Rodolfo Corral; Los amores de Laurita, romance de 1984, ganha versão cinematográfica dirigida por Antonio Ottone; A morte como efeito colateral, romance escrito em 1997, recebeu o prêmio Sigfrido Radaelli dado pelo Club de los XIII (grupo de escritores e críticos argentinos) e a primeira colocação no prêmio Ciudad de Buenos Aires.

Das viagens que fez no final dos anos 1980, Shua coletou impressões que deram origem aos seus livros infantis, entre eles La batalla entre los elefantes y los cocodrilos e Expedición al Amazonas. Seus títulos destinados ao público infantil já foram traduzidos e premiados em países como Estados Unidos, Alemanha e Venezuela. Seu interesse pela cultura judaica também lhe rendeu publicações voltadas para este tema, como se pode observar em Risas y emociones de la cocina judía, Cuentos judíos con fantasmas y demônios e El pueblo de los tontos.

Cultivadora de uma grande variedade de gêneros, seu trabalho compreende livros de poesia, contos, antologias, entre outros. Atualmente, dá prioridade à produção de narrativas curtas, gênero que descobriu através de Edmundo Valadés, diretor da revista mexicana El Cuento, e que considera sua maior paixão, apesar de considerado pouco comercial. A autora vive em Buenos Aires com a família, dedicando-se em tempo integral à produção literária.

Rio de Janeiro 2004


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