| Amilcar de Castro - esculturas e desenhos |
Obra_de_Amilcar Nas esculturas e desenhos (e por que não pinturas?) de Amílcar de Castro a ordem e a precisão construtiva impõem uma expressividade. Como um erudito artesão, conhece bem a aparência e a intimidade da matéria, sabe com austeridade e paciência tirar partido de suas propriedades, despertando nela, uma discreta sensibilidade. “A matéria, é assim, o primeiro adversário do poeta da mão”, (Gaston Bachelard). É preciso prestar atenção, na sutileza das fendas, dos cortes e das dobras, nas esculturas, e nos ruídos dos rastros deixados pelo pincel, trincha ou vassoura, nas pinturas, para se escutar as confidências da matéria, do peso e da leveza, do branco e do preto, da luz e da sombra. Não podemos esquecer que Amílcar integrou o Neoconcretismo, movimento que rompeu com a ortodoxia do concretismo, re-introduzindo a expressão, a experimentação e a intuição no âmbito do fazer artístico.

A simplicidade, a economia de elementos plásticos e a tradição construtiva definem a poética do artista em questão. Um artista conhecedor de seu ofício. Por isto mesmo, passa de um suporte a outro sem perder a coerência de sua linguagem e a vontade de interrogar o fundamento da arte, o fazer da obra. A origem da escultura, o surgimento da tridimensionalidade. Ou a celebração do nascimento do desenho e da pintura. Estas esculturas e desenhos antes de ser obras de arte, documentam o investimento de um trabalho que intensifica a virtude e o destino que cruzam a vida de um inventor ou fazedor de obras. “O trabalho é também o caminho de consciência, pela qual o homem saiu da animalidade”, (Georges Bataille). Através da energia do trabalho, o artista sensibiliza e acrescenta significado à matéria bruta.

A escultura renasce do ferro cru. Sem ocultar sua originalidade e sua expressividade, na ferrugem inofensiva inserida no metal, aliás, o único revestimento pictórico, e também testemunha da ação do tempo. A escultura ganha existência nos blocos recortados ou vazados, ou nas metamorfoses do plano, nos cortes e nas dobras das chapas de ferro. Partindo sempre de formas geométricas. Estas esculturas repousam no chão, tranqüilas, conscientes de sua própria estabilidade. No suporte bidimensional, a tinta desliza, levada pelo movimento e a velocidade do pincel, com gestos quase rupestres, primitivos, mas seguros, capazes de tirar do anonimato e da indiferença o fundo branco da tela. Às vezes, aparece uma janela, um retângulo, um traço ou uma mancha, vermelha ou verde, amarela ou azul, se destacando na composição ou na paisagem. Parecem mapas geográficos de regiões distantes da razão, deslocadas para o lugar da arte, convidam o espectador a meditar sobre a história do desenho. A cor inseparável da luz, o preto do branco, a densidade do vazio.

Da imaginação vem a força que domina a matéria dura, um procedimento determinado por pequenas intervenções, o mínimo necessário para se criar um mundo, ou melhor, um abrigo para as aventuras do olhar. Um corte e uma torção conquistam o espaço, o vazio. Pesadas, mas transmitem uma sensação de leveza, algumas até parecem ter o dom de voar, ou dão a impressão que vão se deslocar com um vento mais forte. Ferro, força, dureza, peso, linha, plano, superfície, volume. A redução ao fundamento, à síntese formal, dentro de um processo espontâneo e rigoroso de depuração. A busca da essência da escultura se confunde com a busca do encantamento proporcionado pelas possibilidades e mistérios da matéria.

Nas esculturas sem dobras, em pequenos formatos, blocos ou pedaços de muro, volumes, recortes e vazios se combinam num jogo de deslocamentos, nem falta nem excesso. Uma articulação, não só física, mas também visual, criando intervalos lúdicos entre as partes, que faz vibrar a tensão e a elegância destas peças. Espaço e tempo, peso e espessura convivem em silêncio, dividindo harmonicamente as atenções. Malabarismos geométricos, cortes incisivos que rompem a unidade das barras de ferro oxidadas para encravar nelas os enigmas da arte.

Nos desenhos ou pinturas, os gestos são mais evidentes, a pulsão da mão transporta para a superfície da tela branca a oxidação do metal, nas imperfeições e nas texturas dos traços, nos vestígios de preto deixado pelo pincel. Uma ferida na intimidade do plano. O artista sabe também ser um artesão ao arranhar com o pincel, riscar, descobrir na superfície branca os ancestrais da pintura. O artista, neste momento, é um sujeito que submete seu corpo ao prazer da pintura, para transformar o mundo em imagens e criaturas destinadas ao precioso e exigente lugar do belo e do pensar.

Contemplar as descobertas e invenções de Amílcar é um estímulo a dar continuidade às suas indagações. Os significados estão sempre a brotar, estamos sempre imaginando haver nelas um segredo e um conhecimento. - Almandrade (artista plástico, poeta e arquiteto)


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©Alexandros Papadopoulos Evremidis = escritor crítico > Email
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