Coletiva "Além da Imagem"
- corpo/espaço na nova fotografia brasileira e ensaios poéticos que chegam da maré.

Maré > meucorpo_minhacasa

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

Não disse eu outro dia que esse cibernético Centro Cultural da Telemar ia dar o que falar e que fazia e acontecia - com seus sólidos vazios e suas estratégicas transparências, seus elevados planos intermediários que encantadoramente confundem e causam admiração - já que, construtivos/construídos como são, você parece estar em dois níveis a um e o mesmo tempo!?

Havia prometido à (tetrárquica) feminina comissão de frente do CCT voltar e lá fui me deixar envolver por seis andares de arte, + o pátio com suas "ambulâncias"_barraquinhas_carrinhos de street_pop_postcard_art (ben trovatto!) e até uma instalação florestal de funis à espera do cósmico esperma e vasos comunicantes - estes ligando aqueles a vasos desfuncionalizados, sem terra nem plantas, apenas cds e velas - tecnologia e luz (binômio e síntese do que o espaço promete), ou, quem sabe e por que não?, uma prece para que a minguante floresta cresça e floresça. Danada de boa essa francesa Matali Crasset! E dizer que veio lá de longe para nos dizer...! Como a arte não pede licença - a arte toma liberdades, achando que a idéia era essa mesma, tomei a liberdade de me sentir parceiro dela e acender suas velinhas.

Corta:

Nascida a fotografia, as Cassandras decretaram a morte da pintura. Não entenderam que ela viera para somar, não para subtrair, muito menos eliminar a artesania pictórica que, heroicamente, resiste. Depois de uma fase de registro e documentação, a fotografia transcendeu as "limitações" de sua revolucionária natureza e vazou para todas as demais áreas do fazer artístico e as contaminou com sua vitalidade e pluripossibilidade, com sua fração de instante - continente e conteúdo do único, imóvel, imutável, eterno e infinito. Aqui e alhures, nada devendo o aqui ao alhures. E no caso particular dessa fotografia brasileira, em exposição no CC Telemar, posso altissona e destemidamente afirmar e confirmar sua plenitude de realização, seu status de arte em si e por si. De fato, tendo encontrado e desenvovido seu idioma, com léxico, gramática e sintaxe, não ameaça, não imita nem tenciona emular nada nem ninguém. Segue o leito natural do rio deste outro Rio/Mar/Maré.

É/eu preciso também confessar que, brincando seriamente com a adorável colega de histórico, Shirley, a do Instituto Telemar, qualifiquei, grosseiramente, embora numa boa, a exposição de "a dos ricos (vá lá, remediados) e a dos pobres" - aqueles, todos providos da necessária maquinária, da elaborada técnica, da sofisticada estética e do refinamento intelectual, absolutamente admiráveis hi-tecs; estes - todos na zona de risco do instável aprendizado, do temerário conhecimento, da assombrosa descoberta, do urgente improviso, da caixa de papelão ou da lata, do pinhole, da máquina elementar, com que capturar e repercutir a verdade, com vigor e autenticidade, com inventividade e criatividade, com derramada emoção e expressiva expressão dos olhares dos seus pares e da inconsútil pureza dos seus propósitos (com licença, preciso passar uma água no rosto)...

Ainda bem que a exposição das tentativas deles (sombra sobre sombra, becos e vielas, sorrisos e olhos luminosos e brilhantes de encanto e de acanhamento), plenamente realizadas, tinha sido alojada no último dos seis andares do edifício, o sintomático andar de cima, o significativo superior, portanto, e... Sim, estou falando desses onze meninos e meninas da Maré que por pouco a maré não arrasta e leva para a escura solidão do não-ser. Não é a entorpecente e entorpecedora religião que opera milagres - isso é atributo proprietário da arte, cujo caminho eles inequivocamente estão construindo "al andar" e a nós aqui na beira do rio/maré cabe fazer mais, muuuito mais, do que simplesmente bater palmas e torcer (e haja roupa suja chegando incessantemente lá do Plano Alto Central! - repito) para que a via não desvie e a vida não aborte os sonhados sonhos, convertendo-as em abomináveis pesadelos.

Pergunto: Não seria o caso de o deslumbrado ministro da cultura deixar de ser sinistro e abraçar, não apenas sonora, mas efetivamente, com aqueles seus infindos abraços e com complexas e concretas ações e dotações afirmativas a causa do complexo da Maré e desses seus belos cidadãos de olhos tão mareados?!

Rio de Janeiro - Novembro - 2005

©Alexandros Papadopoulos Evremidis > escritor crítico > E-mail


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